O líder dos dez assaltantes que invadiram a embaixada da Coreia do Norte em Madrid, no mês passado, contactou o FBI cinco dias após a operação. A informação foi revelada esta segunda-feira após o juiz espanhol José de la Mata ter decidido que o segredo de justiça podia ser quebrado neste caso.
Segundo um relato de 14 páginas, o mexicano Adrian Hong Chang contactou a agência americana depois de fugir para os EUA, onde reside, via Lisboa. O contacto em Nova Iorque serviu para dar ao FBI a sua versão dos acontecimentos e alegadamente para entregar material audiovisual.
Ainda não se conhece o motivo da invasão da embaixada a 22 de fevereiro, poucos dias antes da cimeira entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, no Vietname. A operação começou às 16:34, e cinco horas depois, pelas 21:40, a maioria dos intrusos já tinha abandonado o edifício usando três veículos diplomáticos norte-coreanos. Chang e alguns outros saíram pouco depois pelas traseiras noutro veículo. O grupo dividiu-se em quatro e rumou a Portugal.
Dois outros membros são identificados na investigação: o cidadão norte-americano Sam Ryu e o sul-coreano Woo Ran Lee.
Mulher conseguiu escapar mas Chang enganou a polícia
Chang conseguiu acesso à embaixada ao pedir para falar com o adido comercial, com quem dizia ter-se reunido anteriormente para discutir negócios. Os assaltantes interrogaram o adido e tentaram persuadi-lo a desertar, sem sucesso. Quando este se recusou, deixaram-no preso na cave. Vários outros funcionários da embaixada foram algemados, espancados e interrogados. Enquanto os mantinha reféns, o grupo roubou um telemóvel, computadores, discos rígidos e pens USB.
Uma mulher conseguiu escapar, esgueirando-se pela janela do segundo andar, e pediu ajuda. Os vizinhos chamaram a polícia mas, quando esta chegou, foi recebida por Chang, que se fez passar por um diplomata norte-coreano (com uma imagem de Kim Jong-un na lapela) e que disse às autoridades que estava tudo bem e nada se tinha passado.
Grupo terá partido retratos de líderes norte-coreanos
Segundo o juiz, os assaltantes identificaram-se como sendo “membros de um movimento de direitos humanos que pretende libertar a Coreia do Norte”. Num vídeo, divulgado na semana passada pelo canal de televisão espanhol laSexta e pelo jornal “The Washington Post”, vê-se o que se acredita ser o grupo a partir retratos de líderes norte-coreanos no interior da embaixada.
Fontes próximas da investigação disseram ao “El País” que a operação foi planeada detalhadamente, ao estilo de uma “célula militar”, e que os assaltantes pareciam saber exatamente o que procuravam. De acordo com o diário espanhol, dois elementos do grupo terão ligações à CIA.
A imprensa espanhola escreve ainda que os assaltantes poderiam estar à procura de informações sobre Kim Hyok-chol, antigo embaixador norte-coreano em Madrid, que foi expulso em setembro de 2017, por causa do programa de testes nucleares do regime. No entanto, sabe-se que Kim trabalha agora como representante especial das conversações com os EUA, ajudou a organizar a cimeira do Vietname e, em janeiro, viajou para Washington com o braço direito de Kim Jong-un, Kim Yong-chol.