Internacional

Governo brasileiro quer comemorar o golpe militar de 1964 para “recuperar a narrativa verdadeira da história” do Brasil

Foram dadas ordens para que as comemorações não decorram nas ruas e outros espaços públicos, mas dentro dos quartéis do Exército, de acordo com a “Folha de São Paulo”. O receio é o de que comemorações aparatosas possam agravar o clima político no país e ofuscar a reforma da Previdência, considerada a prioridade do atual governo

ADRIANO MACHADO

Completam-se no próximo domingo 55 anos desde o golpe militar no Brasil, que depôs o então Presidente brasileiro João Goulart e deu início à ditadura militar no país, e o Governo brasileiro anunciou que pretende comemorar a data. O anúncio foi feito pelo porta-voz de Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, durante uma conferência de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília.

De acordo com o porta-voz, o Presidente brasileiro não vê a tomada de poder pelos militares naquele ano — que inaugurou um período marcado por uma intensa repressão e tortura e perseguição de adversários políticos, e que resultou, segundo números oficiais, na morte ou desaparecimento de 434 pessoas — como “um golpe”. Vê, antes, “como uma decisão tomada pela sociedade face ao perigo que a ameaçava” e que permitiu “recuperar e voltar a colocar o país no rumo certo”. “Se isso não tivesse acontecido, hoje não haveria um governo e isso não seria bom para ninguém”, disse ainda o porta-voz, falando em nome de Bolsonaro numa conferência de imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília.

Uma das líderes do partido do Presidente brasileiro na Câmara dos Deputados, Joice Hassleman, pronunciou-se sobre o assunto nos mesmos termos, explicando que a data foi incluída na agenda das Forças Armadas, que caberá a cada comandante “decidir como assinalá-la”, e que a ideia é “recuperar a narrativa verdadeira da história” do Brasil, mas mais nenhum detalhe foi avançado. A ditadura militar estendeu-se até 1985 e em 1988 foi aprovada uma nova Constituição que restabeleceu vários direitos e liberdades.

De acordo com a “Folha de São Paulo”, foram dadas ordens para que as comemorações não decorram nas ruas e outros espaços públicos mas dentro dos quartéis do Exército; será lida a ordem do dia e organizadas formaturas, estando prevista ainda a realização de palestras sobre o tema. Ainda de acordo com o mesmo jornal brasileiro, Bolsonaro terá sido convencido pelos militares a assinalar a data de forma discreta, sem manifestações públicas, tal como acontecia antes dos governos petistas. O receio é o de que comemorações aparatosas possam agravar o clima político no país e ofuscar a reforma da Previdência, considerada a prioridade do atual governo.

No seu primeiro mandato, Dilma Rousseff chegou a retirar a data do calendário oficial de comemorações do Exército, mas ela pode agora voltar a ser incluída. Questionado sobre essa possibilidade pela “Folha de São Paulo”, o ministério da Defesa disse “não ter quaisquer informações a esse respeito”.

Apesar dos receios do Exército, é quase certo que Bolsonaro não deixará passar o dia em branco. No ano passado, o Presidente brasileiro publicou um vídeo em que aparecia agarrado a um cartaz em que se agradecia aos militares por não terem “permitido que o Brasil se transformasse em Cuba”. “O 31 de março deu-nos liberdade”, lia-se ainda.