A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) e a Helpo estão a apelar a donativos para ajudar as vítimas do ciclone Idai, que causou mais de 200 mortos e 400 mil desalojados só em Moçambique.
Numa primeira fase, a Cruz Vermelha lançou uma campanha de apoios monetários destinada ao Fundo de Emergência para as vítimas da intempérie na cidade da Beira, na província de Sofala. O objetivo é angariar cerca de 8,8 milhões de euros para ajudar 75 mil das pessoas mais afetadas pelo ciclone no centro de Moçambique.
“Neste momento não estamos a recolher bens em espécie, ao contrário de outras organizações. Mas poderemos avançar também para uma campanha de donativos monetários, caso identifiquemos essa necessidade no local”, diz ao Expresso Joana Pinheiro, do departamento de comunicação da Cruz Vermelha Portuguesa.
Um elemento da CVP encontra-se a caminho da Beira e uma equipa da Cruz Vermelha local já está a avaliar as necessidades mais urgentes no terreno. Esta quinta-feira, a CVP estabeleceu também uma parceria com a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) para a doação de recursos no âmbito da operação Imbondeiro.
Algumas autarquias e grandes empresas de distribuição também já ofereceram donativos, enquanto a TAP acordou o transporte de donativos por via aérea para Maputo ao custo de 0,40€/kg.
Água engarrafada é necessidade urgente
Já a Helpo pede também a doação de produtos alimentares não perecíveis como farinhas lácteas, leite em pó, feijão, grão, arroz, massa, aveia, frutos secos, óleo e açúcar e outros bens como roupa de bebés e crianças até aos cinco anos, fraldas de pano, mantas polares, sabão, lixívia e pastilhas desinfetantes.
“No fundo, estamos a pedir produtos altamente nutritivos com fontes de proteína, minerais, gorduras, minerais e hidratos de carbono que possam satisfazer as necessidades da população e que vá também ao encontro dos hábitos alimentares e culturais dos habitantes que nalguns casos perderam as habitações e todas as colheitas”, explica Margarida Lopes, nutricionista da Helpo.
A ONG apela também à doação de água engarrafada, uma necessidade urgente para a maioria da população afetada pelas cheias que não tem acesso a água potável.
Os pontos de entrega destes donativos têm lugar no Bairro das Fontainhas, em Cascais, e no Largo da Estação de Ermesinde, no Porto. A campanha termina no próximo dia 8 de abril, estando previsto que os contentores com os donativos sejam enviados para Moçambique logo no dia seguinte.
Entretanto, a Helpo está também a estabelecer contactos com várias empresas que poderão contribuir com bens e donativos em dinheiro para Moçambique. Além disso, esta ONG está a organizar uma missão de emergência na área de nutrição infantil, que terá como base o Instituto de Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, na província de Sussudenga, no distrito de Manica, próximo do rio Búzi. O objetivo é identificar as necessidades mais urgentes de mulheres grávidas e bebés.
Questionada sobre a adesão esperada a estas iniciativas, Margarida Lopes diz não ter dúvidas de que os portugueses vão demonstrar, mais uma vez, que são “solidários”. “Temos recebido muitos telefonemas e mails a pedir mais informações sobre esta campanha, o que é logo um bom sinal”, afirma a coordenadora do Departamento de Missão, sublinhando que para além de bens as doações em dinheiro também são muito bem-vindas até para ajudar nesta operação.
“Sabemos que as pessoas estão mais desconfiadas em relação aos donativos monetários, devido a situações em que houve desvio de dinheiro. Mas garantidamente nesta missão zelamos pela credibilidade e pela transparência”, acrescenta Margarida Lopes.
Segundo a responsável, o dinheiro que será angariado servirá também para pagar as operações de transporte e de logística e adquirir produtos no local. “O investimento financeiro de transportar os produtos desde Portugal é maior do que comprar bens em Moçambique ou noutros países limítrofes. Por isso é tão importante a ajuda em dinheiro, uma vez que permite comprar os produtos na região afectada e assim ajudar a economia local. E isso é tão importante para a recuperação do país a longo prazo”, conclui
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, anunciou na quarta-feira que Portugal vai enviar dois aviões com ajuda de emergência para Moçambique.
De acordo o último balanço oficial, pelo menos 242 pessoas morreram e 15 mil precisam de ser resgatadas em Moçambique na sequência do ciclone Idai, que também afeta o Malawi e o Zimbabwe.