O Mundo a Seus Pés

“Se retirarmos os indígenas que defendem os territórios brasileiros, eles ficam mais vulneráveis a interesses capazes de tudo, até de matar”

O Brasil é o quarto país mais perigoso para quem defende o ambiente: 12 ativistas foram assassinados no ano passado, segundo um relatório divulgado este mês. Oiça o mais recente episódio do podcast O Mundo A Seus Pés com Adriana Ramos, secretária-executiva do Instituto Socioambiental, no Brasil

Pelo menos 142 defensores do ambiente — como ativistas, agricultores e indígenas — foram assassinados em 2024 e outros quatro desapareceram, segundo o relatório da Global Witness, uma organização não-governamental que se foca em direitos humanos e na crise climática. Mais de 80% dos casos ocorreram na América Latina, e o Brasil, nação-irmã de Portugal, é o quarto país mais mortal para defensores de questões ambientais (12 homicídios).

“Não surpreende porque, infelizmente, nós já estamos há alguns anos nesse ranking de sermos um dos países mais perigosos para defensores ambientais. E também não surpreende porque as lideranças políticas do setor rural no Brasil são aquelas que puxam os ataques aos povos indígenas. A violência que se reflete em campo tem sido liderada, infelizmente, pela classe política no Brasil.”

Adriana Ramos, secretária-executiva do Instituto Socioambiental — uma organização brasileira que trabalha junto de comunidades indígenas, quilombolas (descendentes de escravos) e extrativistas (pessoas que vivem da extração de recursos naturais) —, afirma que “a maior parte dos crimes está associada a disputas por terras, por territórios e recursos naturais”. “No geral, são perpetrados por essas mesmas pessoas que estão no campo realizando as invasões, realizando a exploração ilegal de madeira, o garimpo”, acrescenta.

Quando falamos da perseguição dos chamados defensores do ambiente estamos a falar de pessoas que foram atacadas depois de se manifestarem ou tomarem medidas para defender o seu direito à terra e a um ambiente limpo, saudável e sustentável. Muitos opunham-se a projetos prejudiciais para a natureza como a mineração, a desflorestação e a agricultura intensiva. Outros denunciavam problemas estruturais como a desigualdade na distribuição de terras, a destruição ambiental e o crime organizado.

As comunidades tradicionais e locais que existem no Brasil — dos quilombolas aos extrativistas — desempenham um papel crucial na conservação do ambiente e de áreas protegidas. “Os modos de vida dessas populações são fundamentais para que a floresta, que é tão importante para o clima global, siga existindo”, incluindo a Amazónia, que é “a maior área de floresta tropical contínua do planeta”, afirma ainda Adriana Ramos.

Este episódio foi conduzido pela jornalista Mara Tribuna e contou com a edição técnica de João Martins. O Mundo a Seus Pés é o podcast semanal da editoria Internacional do Expresso. A condução do debate é rotativa entre os jornalistas Ana França, Hélder Gomes, Mara Tribuna, Pedro Cordeiro e Catarina Maldonado Vasconcelos. Subscreva e ouça mais episódios.