Organizações de defesa dos direitos humanos exortam os países europeus e muçulmanos a liderarem a pressão internacional para uma investigação da ONU à detenção e “doutrinação forçada” de cerca de um milhão de uigures e outros muçulmanos na região autónoma de Xinjiang, na China.
Grupos como a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional (AI) apelaram esta segunda-feira ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para que envie uma missão internacional de apuramento de factos a Xinjiang. No mês passado, Pequim disse que daria as boas-vindas aos funcionários da ONU se estes não interferissem nos seus assuntos internos.
“O abuso em Xinjiang é tão grave que clama por ação internacional”, disse o diretor executivo da HRW, Kenneth Roth. “O objetivo desta detenção é apagar as identidades étnicas e religiosas dos muçulmanos turcos e garantir a lealdade [dos detidos] apenas ao Governo chinês, ao Partido Comunista e ao suposto líder vitalício, [o Presidente] Xi Jinping”, acrescentou numa conferência de imprensa em Genebra, na Suíça.
Minorias representam quase 10% da população
Pequim nega as acusações e, no mês passado, organizou uma visita para repórteres estrangeiros a três campos de detenção, que as autoridades chamam de centros de treino e educação profissional. Nos centros, os estudantes uigures de língua turca aprendem em mandarim os perigos das ideias islâmicas, refere a agência Reuters, que integrou a visita.
Segundo as organizações de direitos humanos, um milhão de uigures, cazaques e outras minorias muçulmanas — que, no total, representam quase 10% da população total de Xinjiang — está detido em massa, privado de quaisquer direitos legais e sujeitos a maus tratos.
“Uma prisão ao ar livre”
“Xinjiang tornou-se uma prisão ao ar livre, um lugar onde a vigilância orwelliana de alta tecnologia, a doutrinação política, a assimilação cultural forçada, as prisões arbitrárias e os desaparecimentos transformam minorias étnicas em estranhos na sua própria terra”, disse o secretário-geral da AI, Kumi Naidoo. “Os Estados-membros não devem deixar-se intimidar pela influência económica e política da China”, sublinhou.
“É um verdadeiro teste à credibilidade do Conselho de Direitos Humanos. Está na hora de a pertença ser acompanhada por escrutínio”, acrescentou Michael Ineichen, do Serviço Internacional para os Direitos Humanos.
A China garante proteger a religião e a cultura das suas minorias étnicas, dizendo que as medidas de segurança em Xinjiang são necessárias para combater os grupos que incitam à violência.