Internacional

Jair Bolsonaro faz continência a assessor de Trump

O encontro, esta quinta-feira, entre o Presidente eleito e John Bolton é mais um passo no “namoro” da família Bolsonaro a Donald Trump. O romance já está a enervar os militares e o agronegócio, os principais apoiantes de Jair Bolsonaro

John Bolton, assessor de Segurança Nacional dos EUA
Kevin Lamarque

A situação de Cuba, sanções à Venezuela e as relações comerciais com a China terão sido os principais pontos da agenda da reunião de Jair Bolsonaro com o assessor de Segurança Nacional do Presidente dos Estados Unidos, John Bolton. Antes da reunião na casa do Presidente eleito do Brasil, no Rio de Janeiro, marcada para as sete da manhã (nove em Portugal), Bolsonaro fez continência a Bolton, relata o jornal Folha de São Paulo.

Questões de segurança e comércio bilateral terão sido outros assuntos discutidos com a comitiva de Bolton, composta por Garret Marquis, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança, Mauricio Claver-Carone, diretor do conselho para assuntos do Hemisfério Ocidental, David Schnier, responsável pelo Brasil e Bill Popp, encarregado de negócios da embaixada dos EUA.

Os generais Augusto Heleno e Fernando Azevedo e Silva, futuros ministros do Gabinete de Segurança Institucional e da Defesa, Ernesto Araújo, futuro titular dos Negócios Estrangeiros, e Flávio, um dos filhos de Bolsonaro (empresário e senador por São Paulo), foram os anfitriões da comitiva norte-americana.

Bolton é o primeiro dirigente dos EUA a visitar Bolsonaro, que tomará posse em janeiro. O diplomata norte-americano é conhecido pelas suas declarações controversas sobre a ONU – cuja sede “devia ter menos dez andares”, defende – e por identificar Venezuela, Cuba e Nicarágua como a “tríade do mal” na América Latina.

Polémica com embaixada em Israel

Na curta escala a caminho da cimeira do G20, em Buenos Aires, Bolton não fez declarações à imprensa mas, na rede social Twitter, definiu o encontro com o capitão na reserva como “muito abrangente” e “muito produtivo”, tendo reiterado o convite a Bolsonaro para se deslocar a Washington.

Uma ótica de relações externas herdada da Guerra Fria aproxima Bolsonaro e a sua família das posições assumidas por Bolton. E o namoro da família Bolsonaro a Donald Trump começa a irritar o núcleo militar e do agronegócio, que apoiam o Presidente eleito.

Esta terça-feira, Eduardo Bolsonaro, de visita aos Estados Unidos, reafirmou, com o boné da campanha de Trump na cabeça, que o Brasil irá mudar a sua embaixada em Israel de Telavive para Jerusalém, à semelhança do anunciado pelo Presidente dos EUA. “A questão não é perguntar se vai; a questão é perguntar quando será” transferida a embaixa brasileira, disse o deputado federal pelo Rio de Janeiro e um dos padrinhos da nomeação de Ernesto Araújo para MNE.

“É uma decisão que não pode ser tomada de afogadilho, de orelhada”, reagiu de imediato o general Hamilton Mourão, o vice-presidente eleito, reforçando que essa transferência seria contrária aos interesses nacionais.

Logo no ínicio da visita, Eduardo dera o tom de proximidade a Trump ao dizer que o Brasil deverá “congelar tudo aquilo que remete e passa pelas ditaduras cubana e venezuelana, dar um calote muito grande nesses ditadores”.

Já os empresários do setor agro-alimentar receiam que se o Brasil alinhar incondicionalmente ao lado de Trump na guerra comercial com a China, as represálias de Pequim possam gerar prejuízos de milhões e vagas de despedimentos. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e uma comitiva empresarial chinesa está a negociar com mais de uma dezena produtores de carne contratos de exportação para a China.