Num gesto de aparente redenção, Ken Parker, um antigo líder do Klu Klux Klan (KKK) que participou no ano passado na marcha da extrema-direita em Charlottesville, nos EUA, pediu “desculpa” pelo “ódio” que ajudou a espalhar e anunciou o seu afastamento de grupos neonazis.
Em entrevista à “NBC News”, um ano depois da marcha que terminou com a morte de uma pessoa, Ken Parker disse lamentar o facto de ter “contribuído para espalhar o ódio e descontentamento” naquela cidade norte-americana. “Provavelmente, fiz com que muitos miúdos começassem a ter medo de dormir nas suas próprias camas, nos seus próprios bairros.”
Antigo “Grande Dragão” do KKK que nos últimos anos vinha envergando o uniforme do Movimento Nacional Socialista, grupo neonazi fundado em 1974, Ken Parker disse que foi precisamente a sua participação na marcha em Charlottesville que lhe deu a oportunidade de conhecer uma realizadora muçulmana que estava fazer um documentário sobre grupos de ódio (“White Right: Meeting the Enemy”) e que o fez rever as suas crenças e ideias. “A manifestação tinha como propósito defender a necessidade de salvar os nossos monumentos, a nossa herança, mas sabíamos que quando lá chegássemos aquilo iria transformar-se numa situação de violência racial e que não iria resultar para nenhum dos lados”, disse Ken Parker, contando ter ficado sensibilizado com a “bondade” de Deeyah Khan, a realizadora.
“Eu estava exausto depois da marcha. O calor era muito e ainda por cima estávamos vestidos com roupa escura. E ela não descansou enquanto não teve a certeza de que estava tudo bem comigo.” Foi nesse momento, e nos outros que viria a passar com a realizadora, que Ken Parker começou a questionar as suas crenças neonazis. “Ela respeitou-me, assim como à minha noiva, durante o tempo todo. Isso fez-me pensar que não é por alguém ter a pele mais escura que eu e acreditar num Deus diferente do meu que eu devo odiar essa pessoa.”
Um encontro com um vizinho afro-americano, um pastor de uma igreja em Charlottesville chamado William McKinnon III, também contribuiu para a mudança de Ken Parker, segundo o próprio contou na entrevista à “NBC News”. Numa ocasião, o antigo líder do KKK foi convidado a partilhar a sua experiência com os fiéis daquela igreja e também isso foi, para si, revelador. “Contei-lhes que tinha pertencido ao KKK mas que a dada altura senti que precisava de algo ainda mais radical e aderi, então, a um movimento neonazi. Muitos deles ficaram de queixo caído e olhos esbugalhados, verdadeiramente surpreendidos.” Mas no final do depoimento ninguém o terá julgado. “Nenhum deles me disse nada de mal. Aproximaram-se, abraçaram-me e apertaram-me a mão, amparando-me em vez de me destruir ainda mais.”
Ken Parker foi entretanto batizado por aquela igreja e está em processo de remoção das tatuagens que até agora ilustravam as suas crenças - uma suástica, o símbolo do KKK e uma bandeira onde se lê “orgulho branco”. “É possível afastares-te de movimentos supremacistas brancos e neonazis. Quer dizer, durante seis anos aquilo foi a minha vida. E nunca, até há um ano, tinha desejado sair ou simplesmente pensado que poderia estar a arruinar a minha vida.”