O encontro histórico entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, abordará três grandes temas que, no limite, podem determinar o sucesso ou o fracasso da cimeira, agendada para esta terça-feira em Singapura. A desnuclearização da península coreana, a normalização das relações diplomáticas e a sobrevivência do regime são as grandes questões em cima da mesa da cimeira.
Desnuclearização da península
A desnuclearização é o cerne absoluto do encontro, mantendo-se um enorme fosso que diplomatas de ambos os países tentam contornar na véspera do dia histórico. Washington exige a desnuclearização completa, verificável e irreversível da Coreia do Norte, um compromisso que Pyongyang tem assumido repetidamente. No entanto, o termo “desnuclearização” presta-se a interpretações distintas de um lado e do outro, não se sabendo exatamente que concessões Kim estará preparado para fazer.
Especialistas ouvidos pela agência de notícias France Presse (AFP) avisam que é altamente improvável que o líder norte-coreano desista da “espada preciosa” da sua dissuasão nuclear, sublinhando que o desmantelamento de um arsenal nuclear secreto, construído ao longo de décadas, levará vários anos e será extremamente difícil de verificar.
Relações diplomáticas
A normalização das relações diplomáticas entre os países historicamente rivais é outro dos assuntos nada despiciendos da cimeira, ao ponto de, na semana passada, Trump até ter admitido como cenário possível convidar Kim para um encontro na Casa Branca. Mas Pyongyang está sobretudo apostada em conseguir um abrandamento das sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Também este ponto é passível de duas perspetivas: os EUA exigem a completa desnuclearização para o fim das sanções, já a Coreia do Norte pretende um alívio faseado enquanto o país vai caminhando no sentido do desarmamento.
Sobrevivência do regime
A principal preocupação de Kim Jong-un, nota a AFP, é a sobrevivência do seu próprio regime. Segundo o Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, Kim tem dúvidas se poderá confiar nos EUA quanto ao fim da sua política hostil e à garantia de segurança do regime em troca da desnuclearização. Na sequência de comparações com o modelo seguido na Líbia para o desarmamento, com a deposição pela morte do coronel Kadhafi, a cimeira correu sérios riscos de não se realizar.
Trump comprometeu-se a não tentar mudar o regime norte-coreano, enquanto o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, aflorou a possibilidade de emitir garantias de segurança para a Coreia do Norte. Alguns analistas citados pela agência de notícias questionam-se, contudo, se Kim pode efetivamente confiar nessas garantias, dado o historial de Trump no capítulo dos acordos rasgados – por exemplo, o acordo nuclear iraniano, que tinha sido tão meticulosamente negociado.