Internacional

Michael Flynn pode estar prestes a virar-se contra Trump

Encontro entre o advogado do general na reforma e a equipa de Robert Mueller vem adensar suspeitas sobre um acordo judicial para que conte tudo o que sabe sobre o alegado conluio entre o círculo de Trump e a Rússia

Donald Trump e Michael Flynn em campanha
George Frey / Getty Images

A ABC News avançou, na segunda-feira à noite, que o advogado de Michael Flynn, ex-diretor do Conselho de Segurança Nacional de Donald Trump, se encontrou, nesse dia de manhã, com elementos da equipa de Robert Mueller, o conselheiro especial responsável por investigar as suspeitas de conluio entre a equipa do agora Presidente dos EUA e a Rússia, durante a campanha eleitoral.

A notícia surge uma semana depois de o jornal “The New York Times” ter noticiado que esse mesmo advogado, Robert Kelner, tinha acabado de informar a equipa legal de Trump que ia parar de partilhar informações sobre a investigação com ela.

Essa informação tinha elevado suspeitas de que Flynn podia estar prestes a firmar um acordo judicial com Mueller para colaborar com a investigação. O encontro de Kelner, na segunda-feira de manhã, que o próprio não desmentiu, veio reforçar as suspeitas, embora ainda nenhum acordo tenha sido anunciado publicamente.

Acordo judicial — o que envolve?

Um processo dessa natureza normalmente envolve uma série de discussões off-the-record nas quais os procuradores apresentam a Flynn e aos seus advogados todas as informações que já recolheram sobre as atividades do antigo elemento da administração Trump — que resignou ao cargo em fevereiro, após ter sido revelado que manteve encontros potencialmente ilegais com o embaixador russo em Washington durante a transição para a Casa Branca.

Nessas reuniões, os procuradores também dão a Flynn a oportunidade de fazer uma proposta de acordo — em troca de informações detalhadas que podem implicar outros elementos do governo de Donald Trump. Flynn pode garantir a redução de uma potencial sentença por crimes federais ou de outra índole.

Contactado pela ABC News, Kelner confirmou que se encontrou com a equipa de Mueller no seu escritório na capital norte-americana mas escusou-se a avançar detalhes sobre o que foi discutido. Fontes familiarizadas com as discussões disseram, contudo, ao canal que embora ainda nenhum acordo judicial tenha sido assinado entre as duas partes, os advogados de Flynn estão, há vários meses, em contacto com a equipa de Mueller.

Na semana passada, quando o NYT noticiou o corte de relações entre os advogados de Flynn e os advogados de Trump, um dos conselheiros legais do Presidente, Jay Sekulow, tinha dito ao mesmo canal que esses contactos não eram “inteiramente inesperados” mas que “ninguém deve concluir que isto significa que o general Flynn está a cooperar [com as autoridades federais] contra o Presidente”.

Suspeitas e provas

Fontes com conhecimento de causa sobre a investigação a Flynn avançaram à ABC News que o tenente-general na reforma sentiu pressões para cooperar com a equipa de Mueller após esta ter focado atenções no seu filho, Michael G. Flynn, por causa dos seus negócios no Flynn Intel Group e de uma viagem à Rússia que fez com o pai em 2015, quando ambos foram fotografados num jantar em Moscovo sentados ao lado de Vladimir Putin.

“Parece que o general Flynn violou a legislação federal ao omitir esta viagem e estes contactos estrangeiros durante o processo de renovação de credenciais de segurança em 2016”, escreveram os representantes democratas do Congresso, Elijah Cummings e Eliot L. Engel, numa carta enviada ao advogado de Flynn, em setembro. Segundo os dois membros da oposição, Flynn ocultou “mais de uma dúzia” de contactos suspeitos e viagens ao estrangeiro durante o processo de segurança para ter acesso à Casa Branca.

“Ele omitiu estas informações uma e outra e outra vez, não foi um episódio isolado e isso é claro”, defendeu, na segunda-feira, Cummings em entrevista à ABC. O advogado de Flynn continua a não comentar os conteúdos dessa carta.

O canal aponta que as alegadas omissões podem representar um caso sério e não apenas contra Flynn. A legislação norte-americana prevê uma pena de cinco anos de prisão para funcionários federais que ocultam informações durante os processos de avaliação de segurança, mas Cummings é o primeiro a reconhecer que essa pena raramente é aplicada de forma tão severa. Isto pode traduzir-se, acima de tudo, em mais alavancagem para Mueller e a sua equipa no inquérito à ingerência russa na campanha presidencial de 2016.

Essa é uma possibilidade que James Comey, o homem que Trump afastou da direção do FBI, já tinha elevado na sua audiência de três horas no Senado em junho — quando confirmou que o Presidente o pressionou a abandonar a investigação a Michael Flynn. “Há sempre a possibilidade de, tendo um caso criminal contra alguém, se pressionar essa pessoa e convencê-la a dar-nos informações sobre outras pessoas”, explicou na altura.

Mueller está a chefiar as investigações à Rússia e ao alegado conluio de Trump com o Kremlin desde o afastamento de Comey em maio — um inquérito que, há um mês, levou o conselheiro a indiciar dois sócios de Trump, Paul Manafort e Rick Gates. Um terceiro, George Papadopoulos, que a administração alega não ter desempenhado qualquer papel relevante na campanha, já firmou um acordo judicial com os procuradores para colaborar nas investigações.