A líder do governo civil de Myanmar chegou esta quinta-feira a Rakhine para a sua primeira visita ao estado de onde centenas de milhares de Rohingya já fugiram desde o final de agosto.
Citados pelos media locais, as autoridades birmanesas disseram que Aung San Suu Kyi vai até à capital de Rakhine, Sittwe, e outras localidades durante a visita surpresa de um dia, naquela que é a sua primeira visita ao estado desde o final de 2015 (antes disso, só viajou até Rakhine em 2002).
À AFP, o porta-voz do governo, Zaw Htay, disse esta manhã que a líder de facto do país, criticada há vários meses pela comunidade internacional, "está em Sittwe e [que] vai também a Maungdaw e Buthiduang". Não é claro, para já, se Suu Kyi também pretende visitar aldeias de maioria Rohingya.
Em 2016, a sua Liga Nacional para a Democracia (LND) venceu as primeiras eleições totalmente livres de Myanmar depois de mais de 50 anos de ditadura militar. Antes da ida às urnas, a Junta aprovou alterações à Constituição para impedir que Suu Kyi, laureada com o Nobel da Paz na década de 1990, se tornasse Presidente, proibindo o acesso ao cargo a cidadãos birmanesas com filhos de outras nacionalidades (os seus filhos têm cidadania britânica).
A LND conseguiu chamar a si a maioria dos votos e assumiu o poder civil, com Suu Kyi a tornar-se líder de facto do país ainda que não oficialmente a Presidente. O poderoso Exército que governou a antiga Birmânia durante mais de meio século continua a controlar alguns importantes ministérios, entre eles o Ministério do Interior, o mesmo que se recusa a atribuir cidadania aos membros da minoria étnica muçulmana que é perseguida e reprimida há várias décadas no país.
No final de agosto, depois de um grupo de insurgência Rohingya ter atacado postos de segurança em Rakhine, o Exército lançou uma "operação de limpeza" no estado que viu pelo menos 400 mil homens, mulheres e crianças Rohingya fugirem para o Bangladesh — no que a ONU já disse ser um "exemplo de limpeza étnica por definição". A Amnistia Internacional diz, por sua vez, que já documentou pelo menos seis crimes contra a humanidade cometidos pelas forças armadas.
Até agora, as autoridades birmanesas continuam a impedir o acesso de jornalistas e funcionários de organizações humanitárias a Rakhine, sendo impossível verificar quantas pessoas já morreram na campanha do Exército, perante rumores de que as tropas estão a queimar aldeias inteiras e a violar e a matar membros da minoria Rohingya para forçar estas pessoas a abandonarem o país.
As Forças Armadas continuam a defender que as suas operações têm como objetivo acabar com o "terrorismo" em Rakhine e desmentem as acusações de ataques indiscriminados a civis. Testemunhas das atrocidades, refugiados instalados no Bangladesh e jornalistas contestam essa versão.