Internacional

EUA cortam assistência ao Exército de Myanmar por causa de campanha anti-Rohingya

Departamento de Estado está ainda a ponderar sanções económicas contra elementos ligados às “atrocidades” cometidas contra a minoria étnica e outras comunidades forçadas a fugir para o Bangladesh

FRED DUFOUR

O Departamento de Estado norte-americano anunciou na segunda-feira a retirada imediata de todos os apoios militares às forças de Myanmar envolvidas na campanha de violência contra a minoria Rohingya, uma campanha que desde o final de agosto levou quase um milhão de pessoas da minoria étnica a fugirem para o Bangladesh.

"Manifestamos as mais graves preocupações com os eventos recentes no estado de Rakhine e com os abusos traumáticos e violentos a que os Rohingya e outras comunidades foram submetidos", declarou a porta-voz do Departamento, Heather Nauert, ao anunciar a decisão. "É imperativo que quaisquer indivíduos ou entidades responsáveis pelas atrocidades, incluindo atores não-estatais e vigilantes, sejam responsabilizados."

A par das forças de segurança que lançaram a "operação de limpeza" em Rakhine a 25 de agosto, na sequência de um ataque do autoproclamado Exército Arakan de Salvação Rohingya (Arsa) que provocou a morte de 12 soldados, há também relatos de ataques à minoria étnica muçulmana perpetrados por civis budistas organizados em grupos de vigilantes que atuam com impunidade.

A decisão dos Estados Unidos surge depois de, na semana passada, Rex Tillerson, o chefe da diplomacia norte-americana, ter declarado que considera o Exército birmanês "responsável" pela crise dos refugiados Rohingya, declarações nas quais traçou uma distinção entre as forças armadas que governaram o país com mão de ferro durante mais de 50 anos e o governo civil implementado no início de 2016, que é liderado nas sombras pela Nobel da Paz Aung San Suu Kyi.

O mundo, avisou na altura Tillerson, não vai ficar parado "a ser testemunha das atrocidades relatadas", o Exército de Myanmar deve ser disciplinado e "contido".

Antes disto, Washington já tinha em vigor restrições ao envolvimento com as forças armadas da antiga Birmânia, a par de um embargo de longa data à exportação de armas para o país. Ontem, ao anunciar a sua decisão, o Departamento de Estado confirmou que já suspendeu os processos de atribuição de vistos a determinados líderes militares birmaneses e que está ainda a ponderar aprovar sanções económicas contra indivíduos ligados às "atrocidades".

Note-se que, desde agosto, nenhum jornalista nem nenhum membro de organizações internacionais humanitárias foi autorizado a aceder ao estado de Rakhine, onde a minoria Rohingya vive concentrada há várias décadas sem direitos garantidos nem cidadania birmanesa.

No seu anúncio, a poucos dias de Donald Trump dar início a um périplo pela Ásia que vai levá-lo também a Myanmar, o Departamento de Estado exigiu que as autoridades do país garantam "acesso sem obstáculos" às áreas mais afetadas pela operação militar.

"O governo da Birmânia, incluindo as suas forças armadas, devem agir imediatamente para garantir a paz e a segurança, para garantirem o acesso humanitário às comunidades em desespero, para facilitar o retorno voluntário e seguro daqueles que fugiram ou ficaram deslocados no estado de Rakhine e para lidarem com as causas de base desta discriminação sistemática dos Rohingya", declarou Nauert.