Internacional

Japão alerta para “ameaça sem precedentes” da Coreia do Norte após míssil sobrevoar o norte do país

Lançamento do projétil por Pyongyang na madrugada desta terça-feira (hora coreana) levou as autoridades nipónicas a pedirem aos habitantes da ilha Hokkaido que procurassem refúgio. Conselho de Segurança da ONU reúne-se de emergência esta tarde a pedido de Tóquio e de Washington. Rússia diz estar “extremamente preocupada com o mais recente teste norte-coreano

FRANCK ROBICHON / EPA

A Coreia do Norte lançou um míssil balístico na direção do Mar do Japão na madrugada desta terça-feira (ainda noite de segunda em Portugal), no que o primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe, classificou como uma "ameaça sem precedentes" ao país por parte de Pyongyang. O regime de Kim Jong-un tem estado a conduzir uma série de testes de mísseis nos últimos meses, mas esta é a primeira vez que um míssil desta natureza sobrevoa o território do Japão — no caso, a ilha de Hokkaido, cujos residentes foram imediatamente aconselhados pelas autoridades a procurarem refúgio "em edifícios robustos ou em caves".

Houve duas outras instâncias no passado em que mísseis norte-coreanos sobrevoarem o território do Japão, em 1998 e novamente em 2009, mas ambas envolveram veículos de lançamento de satélites para o Espaço, não armas. A agravar a situação, o correspondente da BBC em Tóquio diz que o teste desta madrugada terá envolvido um míssil poderoso o suficiente para transportar uma ogiva nuclear, isto numa altura em que Kim Jong-un e o Presidente dos EUA, Donald Trump, continuam a trocar ameaças perante os rápidos desenvolvimentos do programa norte-coreano de mísseis.

Segundo o Exército da Coreia do Sul, o míssil foi lançado pouco antes das 6h da manhã locais (21h em Lisboa) de um local próximo da capital norte-coreana, Pyongyang, algo que também é raro. Uma análise preliminar ao teste sugere que o míssil percorreu uma distância de mais de 2700 quilómetros, atingindo uma altitude máxima de cerca de 550 quilómetros (abaixo de outros mísseis recentemente lançados) antes de se desfazer em três partes que caíram no norte do Oceano Pacífico, a 1180 quilómetros da costa nipónica. Tudo indica que se tratou de um Hwasong-12, um recém-desenvolvido míssil balístico de médio alcance capaz de incorporar ogivas nucleares em miniatura.

O lançamento do míssil, que as forças nipónicas não tentaram abater, ocorreu numa altura em que os EUA e o Japão continuam a conduzir exercícios militares conjuntos em Hokkaido. Face a isto, o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, ordenou uma "esmagadora" demonstração de força, destacando quatro caças de guerra para os exercícios desta terça-feira.

Míssil sobrevooou a ilha de Hokkaido, onde os EUA e o Japão estão a conduzir exercícios militares conjuntos
TORU YAMANAKA

Abe, por sua vez, disse que falou ao telefone com Trump e que ambos concordaram que é preciso aumentar a pressão sobre a Coreia do Norte, perante o que o chefe do governo nipónico classifica como "uma ação imprudente que é uma ameaça séria, grave e sem precedentes à nossa nação" que "danifica gravemente a paz e a segurança da região". O Conselho de Segurança da ONU vai estar reunido de emergência esta tarde a pedido dos dois líderes.

Reações

Entre os países que já reagiram ao mais recente lançamento de mísseis norte-coreanos conta-se o Reino Unido, cujo ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, se disse "indignado" com a ação "imprudente" de Kim Jong-un, e também a Rússia, cujo governo diz estar "seriamente preocupado" com a escalada de tensões regionais. "Vemos uma tendência para a escalada [...] e estamos extremamente preocupados com o desenvolvimento geral" da situação na península coreana, declarou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, citado pela agência estatal RIA Novosti.

A China, única aliada da Coreia do Norte, voltou a apelar ao diálogo entre todos para evitar uma deterioração da segurança e estabilidade, argumentando que as sucessivas rondas de sanções aprovadas na ONU contra o regime não contribuem para que se encontre uma solução. "Os factos têm demonstrado que a pressão e as sanções não podem solucionar a questão a fundo", defendeu a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying, em conferência de imprensa esta manhã. "A única via é a do diálogo e consultas."

Já a Coreia do Sul, cujo novo Presidente defende uma aproximação ao vizinho a Norte, prometeu continuar a procurar dialogar com Pyongyang para evitar potenciais confrontos. "O governo vai manter os seus esforços diplomáticos para resolver o problema nuclear da Coreia do Norte de forma pacífica", declarou o ministro da Unificação, Cho Myoung-gyon, citado pela agência Yonhap.

No início de agosto, Pyongyang tinha ameaçado lançar mísseis contra a ilha de Guam, um território não-incorporado dos EUA no Pacífico, depois de o Presidente norte-americano ter avisado a Coreia do Norte que iria enfrentar "fogo e fúria como o mundo nunca viu" se continuasse a ameaçar a segurança e a soberania dos norte-americanos — isto numa altura em que as forças de Kim Jong-un já desenvolveram mísseis balísticos com alcance suficiente para atingir o território continental dos EUA. Recentemente, também aumentaram as suspeitas de que a Coreia do Norte está a preparar-se para conduzir o seu sexto teste nuclear.

Na semana passada, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, tinha sublinhado que o facto de Pyongyang não ter conduzido qualquer teste de mísseis desde a nova ronda de sanções da ONU era um indicador de "contenção" por parte do país. Em comunicado, o Pentágono disse que o teste desta terça-feira não representa uma ameaça aos EUA e anunciou que o Exército norte-americano já está a recolher mais dados sobre o lançamento.