Donald Trump defendeu, na segunda-feira à noite, que a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão neste momento criaria um vácuo que seria ocupado por grupos terroristas como o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) e que é por essa razão que vai manter a intervenção militar em curso ao final de quase 16 anos e apesar das críticas que teceu no passado a essa incursão, por ele classificada como “fútil” antes de se tornar Presidente.
“O meu instinto original era retirar [as tropas] e historicamente gosto de seguir os meus instintos, mas em toda a minha vida ouvi sempre que as decisões são muito diferentes quando se está sentado à secretária da Sala Oval”, declarou o líder norte-americano num discurso transmitido em direto na televisão a partir de Fort Myer, uma base militar no estado da Virgínia.
Confrontado com a realidade da presidência norte-americana, Trump disse que, em vez da retirada, decidiu que vai “lutar para ganhar” evitando os erros que foram cometidos no Iraque; contudo, não avançou pormenores sobre quantas tropas continuarão destacadas no país ou quantos soldados extra serão enviados para o território afegão a fim de cumprir a sua agenda para o Médio Oriente.
No antecipado discurso sobre o futuro das operações militares dos EUA na região, quase 16 anos depois da invasão, Trump escusou-se a definir prazos para futuras ações no Afeganistão, dizendo que quer seguir uma estratégia temporal que terá por base as condições no terreno a cada momento. Ainda assim, fez questão de sublinhar que esta decisão não corresponde a um “cheque em branco” para qualquer dos dois países.
“A América vai continuar a trabalhar com o governo afegão desde que haja compromisso e progresso”, disse. Também deixou avisos ao Paquistão de que os EUA não vão continuar a tolerar o facto de estar a oferecer “portos seguros” a grupos extremistas, dizendo que o país tem “muito a perder” se não se alinhar com os norte-americanos.
“Temos estado a pagar milhares de milhões de dólares ao Paquistão e ao mesmo tempo eles estão a albergar os mesmos terroristas contra os quais estamos a lutar.” A acusação foi imediatamente refutada pelo porta-voz do Exército paquistanês, o major general Asif Ghafoor, que a partir de Islamabade disse aos jornalistas: “Não há esconderijos terroristas no Paquistão. Temos estado a operar contra todos os terroristas, incluindo a rede Haqqani.”
Num comunicado emitido antes do discurso de Trump, o secretário da Defesa dos EUA, James Mattis, indicou que “vários” aliados já se comprometeram “em aumentar o número de tropas” no Afeganistão; contudo, o Presidente escusou-se a avançar se vai destacar tropas extra para o país, depois de o general John Nicholson, o comandante das forças norte-americanas no Afeganistão, ter pedido um reforço de quatro mil soldados.
Criticando as anteriores administrações norte-americanas, Trump declarou ontem: “Não vamos falar de números de tropas nem dos nossos planos.” No mesmo discurso, garantiu que vai haver um reforço das batalhas contra grupos como a Al-Qaeda e o Daesh porque esses grupos “têm de perceber que não têm onde se esconder” e que “nenhum sítio está fora do alcance dos braços americanos”.
Atualmente, os EUA têm cerca de 8400 tropas destacadas no Afeganistão, numa altura em que as forças do país continuam a lutar contra grupos insurgentes e pelo controlo de apenas metade do seu território. No passado, Trump defendeu sempre a retirada das tropas do conflito que começou no rescaldo dos atentados de 11 de setembro de 2001 a mando do então Presidente George W. Bush.