Um novo desdobramento da operação Lava Jato levou à prisão do ex-ministro do Turismo e ex-presidente da Câmara de Deputados Henrique Alves por suspeita de desvio de 77 milhões de reais (€21 milhões) na construção do estádio de Natal para o Mundial de Futebol de 2014.
Militante do PMDB tal como Temer, Alves foi o primeiro ministro a abandonar o Governo de Dilma Rousseff mas regressou ao cargo assim que Michel Temer formou gabinete. Acabou por ser obrigado a demitir-se já este ano devido ao seu nome constar em mais uma “delação premiada”. Há cerca de três semanas, o nome de Henrique Alves voltou a ser citado na denúncia do empresário Joesley Batista, a mesma que leva Michel Temer a ter que prestar declarações esta terça-feira à Polícia Federal por corrupção, obstrução à justiça e associação criminosa.
Ironia do destino é também o facto de nesta nova fase da Lava Jato a Polícia Federal ter também um mandado de captura em nome de outro ex-presidente da Câmara de Deputados. Segundo fontes policiais citadas pela Reuters, o nome que consta do segundo mandado é o de Eduardo Cunha, considerado o “arquiteto” da destituição de Dilma e que já está preso desde outubro, por ordem do juiz Sérgio Moro.
Temer tem que responder a 82 perguntas da Polícia Federal
É em relação ao eventual pagamento de um suborno para garantir o silêncio de Eduardo Cunha que Michel Temer terá dito a Joesley Batista. “Tem que manter isso aí”, talvez a frase mais polémica da gravação feita pelo dono da JBS, a maior empresa de carnes do país, e que colocou Temer no centro do furacão.
O esclarecimento do sentido da frase é uma das 82 perguntas que Michel Temer tem que responder por escrito à Polícia Federal até às 16h30 (20h30 em Lisboa), conforme foi determinado pelo juiz Edson Fachin, o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. “Vossa Excelência tem por hábito receber empresários em horários noturnos sem prévio registo na agenda oficial? Se sim, cite pelo menos três em manteve encontros em circunstâncias análogas ao de Joesley Batista, após ter assumido a Presidência da República”. Esta é uma das questões que a Polícia Federal quer ver esclarecida, segundo a lista divulgada esta terça-feira pelo site da Globo.
Recorde-se que quando Michel Temer recebeu Joesley Batista em março, o empresário era assunto de abertura de telejornais por estar ser alvo de três grandes investigações policiais, entre elas o caso de venda de carne estragada que ficou conhecida como operação “Carne fraca”. O facto de o encontro não constar na agenda oficial é considerado irregular também pelas autoridades.
Duas horas e meia depois, pelas 23h de Lisboa, começa o julgamento da dupla Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. O juiz relator do processo Herman Benjamin já anunciou que vai votar pela destituição.