Está numa cela de nove metros quadrados, sem televisão, retrete, chuveiro ou janelas. Apenas tem um beliche e uma cama. É assim que o jornal brasileiro “O Globo” descreve as condições da cela na Superintendência da Polícia Federal em que Rodrigo Rocha Loures está desde a manhã de dia 3 de junho.
O ex-deputado e ex-assessor do Presidente Michel Temer foi detido na manhã deste sábado em sua casa, onde se encontrava com a mulher, grávida de oito meses. Na próxima segunda-feira será transferido para a ala federal do Complexo Penitenciário da Papuda.
Há cerca de dois meses, Loures foi filmado a receber, por parte de um interlocutor da empresa JBS, do empresário Joesley Batista, uma mala com 500 mil reais (cerca de €140 mil), num restaurante em São Paulo. Segundo confessou Batista na sequência de um acordo de delação premiada (cooperação judicial), Loures fora escolhido pelo Presidente Temer para ser seu intermediário e aceitar, a troco desse valor, um suborno que valeria por 20 anos.
A ordem de prisão preventiva partiu, a pedido do procurador-geral, Rodrigo Janot, do juiz relator da operação Lava Jato, Luis Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. A TV Globo teve acesso à decisão, onde Fachin diz que os crimes de Loures não são recentes, mas aponta o aprofundamento “de métodos nefastos de autofinanciamento em troca de algo que não lhe pertence, que é o património público”. Além disso, existem indícios de que estaria a tentar prejudicar a investigação. O antigo deputado só não tinha sido detido antes porque tinha imunidade parlamentar.
Loures é classificado por Fachin e Janot como um “político com influência no cenário nacional”, pessoa da “mais estrita confiança” de Michel Temer e seu “assessor especial”. A imprensa brasileira refere-se a ele como o “homem da mala” ou o “homem-bomba” que pode fazer explodir o Governo de Temer, no caso de uma eventual delação premiada.
“Só pode ter sido preso para delatar”
O advogado responsável pela defesa de Rocha Loures, Cézar Bitencourt, já se pronunciou e garantiu que vai recorrer. “Ele está preso indevidamente. É desnecessária a prisão. Não há nenhum facto que autorize a prisão”, declarou à imprensa brasileira.
Bitencourt critica a decisão do Supremo Tribunal Federal, sublinhando que Loures foi apenas preso para fechar um acordo de cooperação judicial com o Ministério Público. “Para que seria preso no sábado? Só pode ter sido preso para delatar”, acusa o advogado. “Não poderia ser [decidido] na terça-feira, em sessão de Turma?”, questiona, referindo-se às sessões do Supremo Tribunal Federal, onde questões penais são analisadas e discutidas.
O advogado de defesa do ex-deputado não concorda com a delação premiada, acreditando que esta não deve ser utilizada como primeiro recurso. “O que esperamos é que, se não for uma prisão para forçar delação, que ele [Fachin] leve o caso para julgamento na terça-feira”, disse, citado pelo “Estadão”. “A defesa está extremamente surpresa. Não acreditava que poderia acontecer.”