Afraa Hashem viveu quase a vida toda em Alepo, no norte da Síria, uma das cidades mais castigadas do mundo, culpa da guerra civil no desbobinar da Primavera Árabe. “É revolução, não é uma guerra. Por favor”, corrige com um riso sereno esta professora síria, que antes da primeira bomba dizer ao que vinha só pensava em ganhar dinheiro para sobreviver. O conceito de sobrevivência mudou.
“Estes 10 anos foram cheios de conquistas, de horror, mas, mesmo perdendo muitos dos meus amigos, até sonhos e ambições, muitas coisas, ousámos sonhar e nunca nos vamos arrepender da dignidade”, conta ao Expresso uma das protagonistas de “For Sama”, uma película de Waad al-Kateab, crua e terna ao mesmo tempo, que reflete o drama que vivem os sírios debaixo dos aviões e do que cai deles. “Tínhamos de nos sacrificar pelas próximas gerações. Esta mudança não vai acontecer em dois ou 10 anos, talvez não vejamos a nossa liberdade e os princípios da nossa revolução cumpridos, mas quem sabe os nossos filhos ou netos possam testemunhar isso. Temos de pagar o preço.”