Na era tecnológica por excelência, em que todos os dispositivos e ferramentas estão ligados em rede, não causa estranheza que os órgãos vitais do corpo humano entrem nesta equação. Mas imaginar o coração como um aparelho que envia informação como qualquer outro, já significa avançar de nível. É o que se passa em Portugal, mais precisamente na Cliria, onde se implantam microdispositivos no corpo para monitorização cardíaca.
O avanço deu-se no centro de arritmologia de pacing da clínica, localizado na unidade de Oiã, na zona de Aveiro, como resultado do trabalho do médico cardiologista Miguel Ventura. Trata-se de “um dispositivo ideal para a deteção de arritmias/alterações elétricas que surjam com pouca frequência e que possam escapar a um rastreio cardiológico convencional e que podem ser potencialmente graves, tais como desmaios, palpitações ou dores torácicas, por exemplo.”
Com um tamanho que não ultrapassa o de uma pen USB, o aparelho é feito de titânio e implanta-se por via subcutânea com anestesia local, seguindo um procedimento cirúrgico que não ultrapassa os dez minutos. Após este processo, o microdispositivo faz o registo da atividade elétrica de forma contínua durante três anos e envia automaticamente a informação para os profissionais de saúde por wireless. O doente tem ainda hipótese de escolher alturas em que queira ter análise adicional.
Prevenir AVC
“É muito fácil de implantar e pode nem sequer ser implantado em bloco operatório. É quase impercetível, não interferindo com a vida quotidiana dos doentes e permite detetar fenómenos que passariam despercebidos por serem esporádicos mas potencialmente graves. No final é facilmente retirado”, garante o médico cardiologista.
Mais pequeno 80% que qualquer outro dispositivo semelhante, o aparelho já foi colocado em várias dezenas de doentes, o que faz de Miguel Ventura um dos cardiologistas que mais tem apostado neste tipo de implantes. O feedback tem sido positivo e o médico orgulha-se de ter sido possível diagnosticar, por exemplo, um maior risco de AVC de uma forma que antes não era possível.
O futuro passa agora por levar o pequeno dispositivo das arritmias a cada vez mais doentes para que um número cada vez maior tenha acesso ao que melhor se faz ao nível de tecnologia de saúde.