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Fileira dos frutos secos está a “transformar hectares em valor”

Das amêndoas às nozes, a produção nacional tem crescido ano após ano e tenta afirmar-se no mercado internacional. Esta quarta-feira, em Beja, o sector juntou-se no Congresso Portugal Nuts para debater os desafios e as oportunidades que se avizinham. O Expresso é media partner

Nuno Russo, diretor-executivo da Portugal Nuts, considera que é preciso "dinamizar e reforçar a competitividade e base exportadora das empresas"
Nuno Botelho

Proteção das culturas, gestão da água, mercado e tendências foram os quatro grandes temas do IV Congresso Portugal Nuts, que levou ao Cineteatro Municipal Pax Júlia, em Beja, produtores, industriais, investigadores e outros especialistas em frutos secos. “Queremos fomentar uma fileira forte dos frutos secos. Este é um sector de presente e de futuro, com enorme potencial e valorização”, começou por enquadrar Tiago Costa, presidente da associação.

A “expansão mundial” deste mercado abre oportunidades para quem aposta na produção de amêndoa e noz, em especial numa altura em que questões como a sustentabilidade ambiental das culturas e a guerra comercial dos Estados Unidos com o resto do mundo.

Para Roberto Grilo, vice-presidente da CCDR-Alentejo, os empresários e agricultores têm sido capazes de “transformar hectares em valor, valor em rendimento e rendimento em permanência no território”. “Esta fileira tem relevância, escala e, por isso, tem futuro”, insiste.

Paulo Arsénio, presidente da Câmara Municipal de Beja, fez questão de lembrar a importância do sector para a região, tanto a nível económico como social
Nuno Botelho

Além da visão estratégica de quem decidiu, ao longo da última década, apostar no sector dos frutos secos em Portugal, a grande mancha de amendoal que pinta hoje a paisagem alentejana tem no Alqueva o seu principal aliado – sem ele, dificilmente seria possível criar esta fileira e fazer dela um potencial caso sério de rentabilidade. São 72 barragens, reservatórios e açudes que influenciam uma área total de 10 mil quilómetros quadrados, beneficiando a agricultura e combatendo a desertificação por via da criação de valor económico local, regional e nacional. A distância até à prometida rentabilidade está hoje mais curta, com o preço pago ao produtor a aumentar, ainda que lentamente.

No final do dia, e mantendo a tradição de edições anteriores do congresso, a Portugal Nuts assinou um protocolo de colaboração com a CERCIL Beja, instituição de solidariedade social que apoia crianças, jovens e adultos com deficiência, e a quem atribuiu um donativo monetário.

Durante a manhã, participaram no encontro Paulo Arsénio (Câmara Municipal de Beja), Tiago Costa, Liliana Cabecinha, Nuno Russo (Portugal Nuts), João Cardoso (CropLife Portugal), António Saraiva (InnovPlantProtect), Bárbara Oliveira (DGAV), João Roseiro (SLM Partners), Mafalda Sarmento (Universidade Católica), Ali Rhouma (PRIMA Foundation), Francisco Gomes da Silva (Agroges) e José Pedro Salema (EDIA).

Na parte da tarde, os painéis incluíram a presença de Joan Fortuny (Prado Almond), Brandon Sidhu (Australia Almond Board), Miguel Matos Chaves (Migdalo), Deolinda Silva (PortugalFoods), Filipe Rosa (Veracruz), Rodrigo Abreu (Instituto Universitário Egas Moniz), Paulo Nascimento Cabral (eurodeputado) e Roberto Grilo (CCDR-Alentejo).

Tiago Costa, presidente da Portugal Nuts, moderou o debate "Mercado da Amêndoa - Balanço Atual e Perspetivas Futuras". Participaram Miguel Matos Chaves (Migdalo), Joan Fortuny (Prado Almonds) e Brandon Sidhu (Australia Almond Board)
Nuno Botelho

Conheça abaixo as principais conclusões do IV Congresso Portugal Nuts.

À descoberta do mercado internacional

  • “Nuts by Portugal” é o nome do projeto apresentado hoje pela associação do sector, que tem como objetivo promover a produção nacional além-fronteiras e, com isso, criar oportunidades de negócio. “A estratégia é darmos a conhecer que em Portugal se produzem frutos secos de qualidade”, apontou Liliana Cabecinha, responsável pela iniciativa. Entre os mercados de aposta contam-se França, Alemanha ou Grécia, entre outros.
  • Além da venda do produto-rei, a fileira quer usar este projeto como forma de potenciar a comercialização de subprodutos, como a capota ou a casca dos frutos. “Acreditamos que existe um mercado interessante a explorar”, afiançou.
  • “Há bom futuro para a amêndoa na Europa”, confirmou Joan Fortuny, da Prado Almonds, que sugere apontar a mira à China, ao Chile e a Marrocos, países onde o fruto ibérico tem condições para vingar. Vale a pena recordar que o principal produtor mundial são os Estados Unidos.
  • Ainda que as vendas ao exterior sejam para aprofundar, a verdade é que a exportação não é uma novidade para os produtores nacionais, que não encontram em território português mercado suficiente para escoar o produto. “Como grupo, exportamos 90% da amêndoa para fora da Península Ibérica”, partilhou Miguel Matos Chaves, da Migdalo.
O papel "Valor Económico da Água em Portugal" foi moderado por Duarte Correia (Portugal Nuts) e contou com Ali Rhouma (PRIMA Foundation), José Pedro Salema (EDIA), Mafalda Sarmento (Pacto para a Gestão da Água em Portugal) e, à distância, Francisco Gomes da Silva (AGROGES)
Nuno Botelho

Sem água não há frutos

  • As previsões climáticas para Portugal até ao final deste século não são animadoras, mas os peritos recusam a ideia de fatalidade. “O problema que se vê em Portugal não é a quantidade de água disponível, mas antes a sua má distribuição geográfica”, explicou Mafalda Sarmento. A diretora-executiva do Pacto para a Gestão da Água, da Católica, abordou o tema do valor económico da água – ou seja, quantos euros gera a água quando aplicada a determinado fim.
  • “O valor económico do arroz é muito mais baixo. Já os amendoais têm valor estimado em €1,04 por metro cúbico, enquanto o abacate pode chegar a €1,60”, detalha. Mafalda Sarmento não tem dúvidas de que é “importante a expansão do armazenamento, da redução das perdas e de uma maior reutilização das águas residuais” para garantir a sustentabilidade do recurso.
  • Aumentar as dotações de rega para a cultura de amêndoa e noz é possível, consideram os especialistas que participaram no congresso, mas também desejável. “A água não é apenas um custo, é uma estratégia do sector e da agricultura nacional”, reforçou Nuno Russo, diretor-executivo da Portugal Nuts.

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