A deteção precoce do cancro, através de programas de rastreio; o investimento em cuidados preventivos ou o acesso mais alargado a cuidados oncológicos são algumas das estratégias apontadas pelos profissionais de saúde, em Portugal, para um apoio mais rápido e eficaz ao doente. Mas estas apostas implicam maior investimento em infraestruturas, tecnologia, força de trabalho e investigação.
20%
é a previsão de aumento em novos casos de cancro até 2040, em Portugal. O valor consta de um estudo da OCDE e da CE, que traça o perfil da doença no país
“Vamos ter mais doentes com necessidade de tratamentos oncológicos. É preciso garantir a equidade no acesso a tratamentos inovadores. Há assimetrias no país mas também na União Europeia. Não temos todos acesso a tudo ao mesmo tempo. Há que investir nos próprios edifícios, pela humanização do doente que vem ao tratamento, e também nos recursos humanos. O investimento em alguns equipamentos, essenciais para o tratamento, como a radioterapia, ou que tornam mais acessível o diagnóstico precoce de alguns tipos de cancro, é uma prioridade a curto prazo”, diz Patrícia Cavaco, presidente da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH).
Mais recursos humanos e menos tempo de espera
António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia Médica na Unidade Local de Saúde do Hospital de Santo António, no Porto, afirma que a execução da estratégia nacional para a década 2021-2030, “já publicada e alinhada com o Plano Europeu de Luta contra o Cancro”, é também uma prioridade. O especialista destaca ainda a importância de “criar a Rede de Referenciação em Oncologia até 2026”, acelerar o acesso à inovação, “hoje demasiado lento após a aprovação europeia”, e consolidar o diagnóstico precoce. “Precisamos ainda de publicar sistematicamente dados de estadiamento e sobrevivência do Registo Oncológico Nacional, para gerir por resultados e reduzir desigualdades”, acrescenta.
Os últimos dados conhecidos, divulgados no estudo apresentado no início do ano pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e a Comissão Europeia (CE), revelam que a doença oncológica é a segunda principal causa de morte em Portugal e que a escassez de força de trabalho, embora reforçada nos últimos anos, compromete os cuidados em diferentes fases. “Em março deste ano, mais de 1.400 doentes oncológicos aguardavam cirurgia para além dos tempos máximos de resposta garantidos, sinal de pressão real sobre a capacidade. Juntam-se carências de recursos humanos em áreas críticas como oncologia médica, anatomia patológica, imagiologia, hospital de dia, radioterapia e integração imperfeita com reabilitação e paliativos, com tempos de espera ainda muito significativos”, diz António Araújo.
O futuro está na personalização
Quanto aos avanços mais significativos que se têm sentido nas terapêuticas contra o cancro, Patrícia Cavaco fala no acesso a medicamentos “tão inovadores” como a imunoterapia “que mudou o rumo de determinados tipos de cancro”, e de tecnologia que permite a personalização do tratamento. “Vamos ter algumas novidades num futuro próximo ou mesmo no presente: a associação de vários tipos de medicamentos, vacinas, imunoterapia, quimioterapia clássica e terapias avançadas, a terapia genética, ou mais mutações que permitam a individualização dos tratamentos e até melhorar os tratamentos de suporte, que melhoram muito a qualidade de vida dos doentes,” diz.
Também António Araújo aponta como um dos avanços mais significativos, a “implementação progressiva da terapia oncológica personalizada”, como a “introdução de terapêuticas dirigidas a alvos moleculares da célula oncológica; a imunoterapia que permite a estimulação do sistema imunológico do doente para ser este a combater a doença, além da radioterapia de alta precisão e da cirurgia minimamente invasiva”, explica. O diretor do Serviço de Oncologia do Hospital de Santo António acrescenta, porém, que falta garantir acesso equitativo à medicina de precisão e encurtar o tempo entre a aprovação da Agência Europeia de Medicamentos e a comparticipação dos medicamentos pelo Infarmed. “Nas terapias avançadas o país continua dependente de produção externa, o que acrescenta custos e logística”, diz.
“É crucial reforçar a cessação tabágica, o diagnóstico precoce, a rede de centros com volume e qualidade, e medir sistematicamente resultados de sobrevivência e os reportados pelo doente, para orientar o financiamento” afirma António Araújo
Para o encontro de especialista, que terá lugar no próximo dia 10 de setembro, Patrícia Cavaco espera não só a partilha dos desafios do dia a dia, mas também o debate de outros temas prementes, como a integração da inteligência artificial na prática clínica. António Araújo acredita que o debate pode contribuir para chamar a atenção e alinhar clínicos, regulador e indústria “em metas mensuráveis” em áreas como o acesso mais rápido à inovação ou a expansão de ensaios clínicos e terapias avançadas. “Se, no final deste encontro, pudermos sair com esses objetivos bem clarificados, com prazos de implementação definidos e com transparência na medição de resultados, então o encontro terá impacto real na vida dos doentes e será um sucesso”, conclui.
Caminhar para a saúde do futuro: a inovação terapêutica ao serviço do tratamento do cancro
O que é?
É uma conferência da BeOne Medicines, em parceria com o jornal Expresso, cujo objetivo é debater e definir o caminho e estratégias para o futuro no tratamento do cancro. Através da apresentação de casos de estudo e de dois painéis de debate, compostos por especialistas e personalidades na área da saúde e da oncologia nacional, este encontro pretende também dar a conhecer tratamentos inovadores já implementados em Portugal, refletir sobre o acesso mais alargado a novas terapêuticas e definir o rumo para uma maior prevenção.
Quando, onde e a que horas?
Na manhã da próxima quarta-feira, dia 10 de setembro, das 9h30 às 13h, na Sala Macau da Fundação Oriente, em Lisboa.
Quem vai participar?
- António Araújo, diretor do Serviço Oncologia Médica da Unidade Local de Saúde do Hospital de Santo António
- Maria Gomes da Silva, diretora da Unidade de Hemato-Oncologia do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa
- Paulo Lúcio, diretor da Unidade de Hemato-Oncologia da Fundação Champalimaud
- José Luís Passos Coelho, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia
- Manuel Abecasis, presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia
- Sónia Dias, presidente da Escola Nacional de Saúde Pública
- Patrícia Alexandra Cavaco, presidente da Associação Portuguesa de Farmacêuticos Hospitalares (APFH)
- Raquel Chantre, vice-presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH)
- Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal
- André Marques Veras, country manager na BeOne Medicines
Porque é que este tema é central?
O cancro é uma realidade para milhares de portugueses, que todos os anos se deparam com este diagnóstico. É a segunda causa de morte no país e, apesar dos avanços tecnológicos, os casos de doentes diagnosticados com cancro abaixo dos 50 anos estão a aumentar em todo o mundo. É cada vez mais urgente apostar na ciência e inovação para que mais pessoas tenham acesso aos tratamentos e para que haja um investimento ainda maior na prevenção. Fomentar a discussão sobre a inovação na área oncológica em Portugal é um passo importante para atingir esse objetivo.
Onde posso assistir?
Ficará disponível no Facebook do Expresso.
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