Retirar o melhor das florestas. É uma frase que só por si alimenta discussões acaloradas e muitas vezes enviesadas. “Há muito desconhecimento sobre o papel da floresta”, acredita Helena Pereira, professora no Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa (ISA-UL). 69% dos inquiridos num estudo apresentado por Pedro Dionísio consideram que grande parte da floresta está abandonada, com o professor do ISCTE-IUL a destacar ainda que “a grande maioria” é de opinião que a “evolução da floresta piorou devido à falta de interesse político, ao maior número de incêndios, à falta de ordenamento e de atividade económica”.
É um “círculo vicioso” que alimenta o que “parece uma situação inevitável” de incêndios cíclicos, mas que esconde a falta de “uma lógica de prevenção”. Para António Redondo, CEO da The Navigator Company, a situação da floresta pede um “especial sentido de urgência”, porque “sem rentabilidade não poderá haver sustentabilidade”. Chama também a atenção para “a necessidade de distinguir entre opinião publicada e opinião pública”, em que “permanecem narrativas sobre incêndios e ideias preconcebidas sobre espécies”.
“O país tem uma escolha a fazer e ainda não fez essa escolha”, atira Francisco Gomes da Silva, professor no ISA-UL. “Esta instabilidade política que vamos vivendo constantemente é absolutamente dramática para a floresta”, enfatiza. Segundo Teresa Soares David, investigadora em engenharia florestal no ISA-UL, é essencial desenvolver “operações florestais faseadas no tempo”, com a professora na FCSH-UNL Maria José Roxo a acrescentar que “só se pode dar a volta se houver, por parte dos decisores, conhecimento do território”.
“Nós não temos petróleo, mas temos floresta”, exorta Elvira Fortunato, investigadora e professora da Nova FCT, para lembrar as potencialidades a explorar, como os bioprodutos. É o caso do lyocell, por exemplo, um tecido 100% biodegradável e compostável feito a partir de madeira. “Temos que passar de uma economia linear fóssil para uma bioeconomia circular com base em produtos renováveis”, defende Carlos Pascoal Neto, diretor-geral do Instituto Raiz. Daí o Plano para a Floresta 2050, apresentado na passada sexta-feira pelo Governo em gestão e que reconhece, segundo o ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, o “papel importantíssimo” dos recursos florestais “na investigação, na promoção da biodiversidade e combate às alterações climáticas”. Como lembra Elvira Fortunato, “a agricultura não é só enxadas. É também satélites”.
O papel da floresta
72%
consideram que “floresta bem gerida é sempre benéfica, independentemente da espécie”, segundo um inquérito do Marketing FutureCast Lab (ISCTE-IUL)
1,4%
do PIB e 1,5% do emprego em Portugal é quanto a floresta representa para a economia