Projetos Expresso

Portugal precisa de “incentivo maior” à investigação clínica

Produção de conhecimento é fundamental para melhorar a prestação de cuidados de saúde, mas falta tempo protegido e financiamento. Na quarta-feira, são conhecidos os projetos distinguidos pelo Prémio Bial de Medicina Clínica 2024, a que o Expresso se associa como media partner

Na edição de 2022, o prémio atribuído pela Fundação Bial distinguiu o projeto do investigador Miguel Castelo-Branco sobre neurodivergência e autismo
haydenbird

“Mais orientação e mais organização” era o que precisava a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) para melhorar a sua atividade em investigação clínica, reconhece o atual diretor. João Eurico da Fonseca, eleito em 2022, criou “uma nova unidade estrutural para apoiar os grupos de investigação clínica” em matérias como captação de financiamento, elaboração de candidaturas e burocracia associada, num esforço para profissionalizar a gestão de projetos e potenciar os resultados.

A colaboração é, garante, outro aspeto crucial. A integração com o Hospital de Santa Maria é natural, a que se junta o trabalho desenvolvido com a equipa do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular (GIMM). Os “resultados vão demorar alguns anos”, mas Eurico da Fonseca acredita estar criada a base para que a instituição que lidera possa aumentar a produção de conhecimento.

Áreas como a neurologia e neurociências, cardiovascular, reumatologia, imunologia ou biologia molecular são “tradicionalmente mais fortes” no ecossistema da FMUL, ainda que o diretor considere que a missão deve ser “desenvolver todas as áreas, porque a investigação científica ajuda muito na qualidade clínica”.

“A investigação clínica não é muito dispendiosa, está mais dependente dos recursos humanos. E, por isso, esses recursos humanos têm de ser atraídos para esta área”, afirma João Eurico da Fonseca

José Melo Cristino, professor catedrático de microbiologia, reconhece os desafios inerentes às atividades de investigação, mas acredita que “existe uma diferença enorme, quer na quantidade, quer na qualidade, na investigação clínica que se faz agora”. O país tem massa crítica e reconhecida pegada científica no panorama internacional, embora falte “um incentivo maior” e mais financiamento.

Sobre o que deve o país fazer para desbloquear o seu potencial científico, João Eurico da Fonseca aponta para o que considera ser o principal custo e ativo da investigação: os recursos humanos. “As pessoas têm de poder dedicar tempo, que habitualmente é só clínico, também à investigação. Isso não pode ser feito fora de horas e de forma amadora, como classicamente sempre se fez em Portugal”, diz.

€100.000

é o montante do prémio atribuído ao projeto vencedor da edição de 2024 do Prémio Bial de Medicina Clínica. As duas menções honrosas receberão €10 mil cada uma

Para Melo Cristino, também presidente do júri do Prémio Bial de Medicina Clínica 2024, é importante continuar a apoiar a “medicina clínica muitíssimo boa e com excelente qualidade internacional” que se faz no país. Nesta edição do galardão atribuído pela Fundação Bial, a que o Expresso se associa como media partner, “o júri teve alguma dificuldade em selecionar os melhores projetos” pela qualidade geral das candidaturas. Há €100 mil para o vencedor e €10 mil para cada uma das duas menções honrosas.

“Houve muita discussão, mas o resultado final para a eleição do trabalho premiado e das duas menções honrosas foi unânime”, destaca Melo Cristino a dois dias da cerimónia que decorrerá na Aula Magna da FMUL, em Lisboa. “Os trabalhos submetidos, além de terem de ser cientificamente muito bons, têm de ter uma aplicação clínica. Pretende-se que tenham impacto direto nos doentes”, explica.

Consulte, abaixo, os detalhes sobre a cerimónia e como pode assistir à revelação dos três projetos distinguidos.

Prémios Bial de Medicina Clínica 2024

O que é?

Criado em 1984 pela Fundação Bial, o Prémio Bial de Medicina Clínica procura galardoar, de dois em dois anos, uma obra intelectual original, com tema livre e dirigida à prática clínica. O objetivo é incentivar a produção de conhecimento nesta área, distinguindo trabalhos com qualidade e relevância. Em 2022, distinguiu o projeto de Miguel Castelo-Branco sobre autismo. Nesta edição, que assinala o 40º aniversário da distinção, serão atribuídos €100 mil ao vencedor e €10 mil a cada uma das duas menções honrosas.

Quando, onde e a que horas?

Quarta-feira, dia 12, na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A cerimónia arranca às 11h

Quem são os oradores?

  • João Eurico da Fonseca, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa;
  • Luís Portela, presidente da Fundação Bial;
  • Manuel Sobrinho Simões, médico e investigador;
  • José Melo Cristino, presidente do júri;
  • Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República.

Porque é que este tema é importante?

Portugal tem como objetivo atingir, a médio prazo, um investimento equivalente a 3% do PIB em ciência e inovação, embora atualmente o valor não vá além dos 1,7%. Apesar da reconhecida qualidade da comunidade científica nacional, as dificuldades na obtenção de financiamento adequado e estável estão entre os principais desafios enfrentados por investigadores e instituições. Neste evento e a propósito dos 40 anos do Prémio Bial de Medicina Clínica, será feita uma reflexão sobre o passado e o futuro da medicina pelo médico e investigador Manuel Sobrinho Simões.

Como posso assistir?

Simples, clicando AQUI.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.