Sensibilizar e incentivar as indústrias a fazer a transição energética através do uso de gases renováveis - hidrogénio verde e biometano - foi o objetivo do projeto Indústrias de Futuro promovido pela Floene, a antiga Galp Gás e a primeira empresa a transportar hidrogénio verde na sua rede de distribuição de gás natural.
Tudo começou há dois anos no seguimento de um concurso lançado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) para iniciativas que promovam mais eficiência no consumo de energia. “Identificámos que a indústria não estava tão atenta e propusemo-nos, enquanto operador, a fazer uma sensibilização do sector”, conta Nuno Nascimento, responsável por este projeto na Floene.
O primeiro passo foi fazer inquéritos e diagnósticos sectoriais e depois sessões de sensibilização e workshops. “A indústria não estava a olhar para o lado e sabiam que havia uma descarbonização em curso, mas havia empresas que não estavam tão atentas. Tal como nas famílias, as preocupações são outras. Na indústria, em alguns casos, mesmo podendo poupar na energia, a preocupação é como vão conseguir a matéria-prima ou chegar a mais mercados”, repara Nuno Nascimento.
70%
é a percentagem de gás natural que é consumido pela indústria
Por isso mesmo, nessas sessões, o que foi feito foi sensibilizar para essa poupança nos custos energéticos,as também explicar que, usando gases renováveis, “podem ter um rótulo verde” nos produtos que pode trazer mais valor e novos mercados.
Além disso, algumas indústrias tinham dúvidas em relação aos gases renováveis em si, nomeadamente ao hidrogénio verde, que é mais recente. “O biometano é um gás natural renovável, é feito de resíduos urbanos (lixo comum) e que é idêntico ao gás natural fóssil em termos de composição química”, ou seja, não é preciso alterar nada nos processos industriais. O mesmo não se passa no hidrogénio.
“Queriam saber como queimava, como reagia dentro dos fornos… A indústria cerâmica, por exemplo, queria saber se afetava a cor ou o brilho, porque o hidrogénio liberta água quando está a ser queimado”, explicou o responsável da Floene.
Todo este processo chegou agora ao fim e a Floene - que contou com a parceria de 19 associações e instituições - apresenta estas e outras conclusões numa conferência esta terça-feira, onde será ainda debatido o tema dos gases renováveis e apresentados projetos já em curso ou em desenvolvimento.
É que, para a Floene distribuir estes gases renováveis às indústrias interessadas em usá-los, é preciso haver empresas que os produzam e esse é um processo que está agora a começar e que é mais difícil no hidrogénio do que no biometano, uma vez que é uma tecnologia nova e mais dispendiosa que pode precisar de apoios, financeiros, institucionais e regulatórios.
Aliás, estas questões serão também abordadas na conferência de amanhã, bem como o papel do governo em todo este processo. Porque, diz Nuno Nascimento, a transição energética na indústria é essencial para haver uma efetiva descarbonização da economia e para se cumprirem as metas do Plano Nacional Energia e Clima (PNEC) 2030.
De acordo com Salvador Malheiro, presidente da Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República, “a utilização de gases renováveis está nas prioridades deste governo e do anterior e isso está plasmado no PNEC 2030, que teve uma revisão e na comissão não teve nenhuma força política a votar contra, ou seja, existe um consenso. É algo incontornável”.
Para este responsável, apesar de concordar que o aumento da utilização de gases renováveis depende da iniciativa privada, os governos têm sempre de dar sinais de apoio, nomeadamente ao nível da política fiscal, mas também no direcionamento de verbas europeias para este tipo de projetos, “que são ainda de tecnologias muito embrionárias”.
“Estou confiante de que a Assembleia da República vai permitir que não se acabe com a isenção do ISP (Imposto Sobre Produtos Petrolíferos) para os gases renováveis”, diz Salvador Malheiro
“Indústria de Futuro”
O que é?
É uma conferência organizada pela Floene, à qual o Expresso se associa como media partner, que marca a conclusão do projeto Indústrias de Futuro que, durante dois anos, andou pelo país a fazer sessões de sensibilização e workshops sobre gases renováveis e sua utilização na indústria.
Quando, onde e a que horas?
Terça-feira, 21 de janeiro de 2024, no Pavilhão do Conhecimento, no Parque das Nações, em Lisboa das 9h às 13h.
Quem vai estar presente?
- Diogo da Silveira, presidente da Floene
- Gabriel Sousa, CEO da Floene
- Nuno Nascimento, diretor de Estratégia e Transição Energética da Floene
- Pedro Verdelho, presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE)
- Maria João Pereira, secretária de Estado da Energia
- Salvador Malheiro, presidente da Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República
- Pedro Galhardas, sócio sénior na Roland Berger
- Cristiano Amaro, responsável pela área do biometano na Capwatt
- Vitor Coelho, membro da comissão executiva da Hychem
- Jaime Braga, assessor da Confederação Empresarial de Portugal (CIP)
- Isabel Azevedo, responsável pela unidade de energia no Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI)
- Luis Puchades, presidente da Associação Espanhol de Biogás (AEBIG)
- Jorge Carneiro, responsável do Núcleo de Investigação e Desenvolvimento da Grestel - Produtos Cerâmicos
- Núria de Lucas, responsável de Transição Energética em gases renováveis da Naturgy
Porque é que este encontro é central?
A indústria é um dos maiores consumidores de gás natural e para que haja uma efetiva transição energética é preciso que estas empresas comecem a usar outro tipo de combustível na sua atividade e os gases renováveis são considerados a melhor opção, uma vez que a grande maioria não consegue (ainda) recorrer à eletricidade renovável para descarbonizar a sua atividade.
Onde posso ver?
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.