As fragilidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) têm marcado a agenda pública, numa altura em que o Ministério da Saúde e a Direção Executiva liderada por Fernando Araújo apostam na reorganização do sistema. Entre as reformas a implementar, o Governo tem procurado criar condições para que as farmácias comunitárias possam passar a dispensar medicação hospitalar, mas o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos teme que a crise política possa atrasar a concretização desta e outras medidas. “Esta é uma realidade que está a ser trabalhada, que teve passos significativos no último ano e que espero que esta situação política não faça com que tudo fique novamente congelado à espera da vontade política dos próximos [governantes]”, afirma.
Em causa está o plano do executivo para permitir que os doentes que hoje são obrigados a deslocarem-se mensalmente às farmácias hospitalares para levantar medicação que, segundo a lei em vigor, só pode ser dispensada nos hospitais, nomeadamente para patologias oncológicas ou relacionadas com o VIH. A alteração vem sendo pedida pelos especialistas em saúde e pelos doentes, que são frequentemente forçados a faltar ao trabalho para receberem a terapêutica ou, para aqueles que vivem fora dos centros urbanos, a deslocarem-se dezenas de quilómetros para esse efeito.
"Em relação à medicação hospitalar, para a maior parte dos portugueses a simples deslocação ao hospital, o facto de terem que pagar um transporte para ir ao hospital, pode limitar o acesso aos medicamentos. Isto é uma realidade", considera a farmacêutica Catarina Dias
Para Helder Mota Filipe, esta nova realidade viria tornar “mais justa e mais cómoda” a vida dos doentes, mas significaria igualmente “ganhos diretos e indiretos” para a economia, em parte pela eventual diminuição do absentismo. Mas há ainda uma vantagem que o bastonário considera essencial e que se prende com a diminuição do volume de trabalho para os profissionais de saúde nos hospitais. “Há um conjunto de intervenções [na reorganização do SNS] que permitem retirar pressão ao SNS”, assegura, enquanto garante que as farmácias comunitárias reúnem as condições necessárias para executar esta tarefa.
“Outro dos grandes desafios que se coloca na gestão das farmácias é o facto do SNS, e dos serviços de saúde primários em particular, não estar a conseguir dar respostas básicas aos doentes”, acrescenta Catarina Dias. A especialista e proprietária de farmácias diz que a população procura nestes espaços “aconselhamento” em saúde, um apelo a que os profissionais têm procurado responder da melhor forma.
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é o número total de farmacêuticos ativos em Portugal, de acordo com números da Ordem dos Farmacêuticos
Uma das dificuldades adicionais é o programa para a renovação automática da prescrição de medicação para doentes crónicos, que “em teoria entrou em vigor” em outubro, mas que, na prática, “não está a funcionar”. “É uma questão que neste momento está mais limitada pelas dificuldades informáticas”, refere Catarina Dias.
Estes e outros temas, como a evolução da carreira em farmácia comunitária, estarão em destaque durante o evento “Pharma Call”, que assinala o quinto aniversário da Tecnigen com um debate a realizar este sábado, 18 de novembro, no Mosteiro de Alcobaça. A conferência, a que o Expresso se associa como media partner, acontece à porta fechada, mas pode ser seguida através do Facebook do semanário. Consulte abaixo os detalhes do programa.
A Revolução Silenciosa do SNS: Que desafios para a Farmácia Comunitária
O que é
A Tecnigen organiza a quinta edição do Pharma Call, um encontro anual que tem como objetivo debater os desafios e as oportunidades das farmácias comunitárias, mas que este ano foca também a sua atenção sobre as transformações que atravessa o Serviço Nacional de Saúde. “A Revolução Silenciosa do SNS: Que desafios para a Farmácia Comunitária” é o mote para este evento, a que o Expresso se associa como media partner, que junta especialistas nacionais e internacionais do sector da saúde.
Quando, onde e a que horas?
Sábado, 18 de novembro, no Mosteiro de Alcobaça, a partir das 15h30. O evento será transmitido em direto na página de Facebook do Expresso
Quem são os oradores?
- Maria do Carmo Neves, presidente do Conselho de Administração do GTM;
- Hélder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos;
- Catarina Dias, farmacêutica e proprietária de farmácias;
- Afonso Cavaco, professor universitário de Farmácia Comunitária;
- Margaret Watson, professora de Investigação em Serviços de Saúde e Farmácia;
- Manuel Pizarro, ministro da Saúde.
Porque é que este evento é importante?
Porque com uma revolução em curso do Serviço Nacional de Saúde, importa perceber que desafios e oportunidades podem surgir para a farmácia comunitária e como deve evoluir a carreira profissional nesta área para fazer face a estes novos desafios e oportunidades.
Como posso ver?
Simples, clicando AQUI