“Do prado ao prato” é o nome de uma das ações do Pacto Ecológico Europeu, com o qual a União Europeia quer alcançar uma agricultura mais sustentável e garantir a segurança alimentar, respeitando o clima e a biodiversidade. A teoria é conhecida por muitos, mas o conhecimento que resulta da investigação tem de ser partilhado, com uma boa comunicação e na relação próxima com quem trabalha a terra.
Foi com este objetivo que a Vitas Portugal lançou o curso de Capacitação em Nutrição Vegetal - que termina em dezembro e forma os primeiros nutricionistas de plantas. A cerimónia de encerramento decorreu já esta sexta-feira, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, com a entrega de dois prémios que visam distinguir centros de inovação e explorações agrícolas. O Centro Mundial de Inovação Roullier (Saint Malo, França) e a Sinvepart foram os distinguidos, respetivamente com o Prémio Inovação Timac Agro Expresso e o Prémio Agricultor do Ano (que pode conhecer no final do texto).
“No seguimento do curso e do foco nesta transferência de conhecimento, decidimos distinguir uma universidade ou instituto que faça investigação na área agrícola e com aplicação prática que tenha impacto - é o Prémio Inovação, no valor de €10.000. Este ano, não houve tempo de lançar um concurso, mas nas próximas edições haverá candidaturas e júri. O outro, visa um agricultor ou sociedade agrícola que seja um modelo na sustentabilidade económica, ambiental e social. Recebemos candidaturas e o processo de seleção decorreu normalmente”, explicou Rui Rosa, presidente da Vitas Portugal.
Esta sessão de encerramento promoveu o debate, com as presenças do jornalista Alcides Vieira - que abordou o tema da agricultura nos media porque os assuntos que captam o interesse de maior número de pessoas têm prioridade na “agenda”, mas os critérios “mudam diariamente”, e a importância de informação de confiança divulgada pelos meios de comunicação -, Miguel Vieira Lopes (colaborador técnico da Agroges) – que se focou nas políticas do Pacto Ecológico Europeu, com foco nos produtos fitofarmacêuticos -, e António Guerreiro de Brito (presidente do Instituto Superior de Agronomia/ISA) – com uma intervenção centrada na investigação feita no ISA no contexto nacional e internacional, no contexto de uma comparação relativa a outras universidades e institutos, feita a partir de dados de 2017 a 2021.
Mudar e diversificar
Jéssica da Costa representou o Centro Mundial de Inovação, recebendo o Prémio Inovação Timac Agro Expresso: “Foi um grande trabalho de investigação, durante oito anos, com 400 ensaios e a participação de químicos, agrónomos, geneticistas, biólogos e informáticos de diversas nacionalidades. Sempre com o objetivo de trazer valor acrescentado ao agricultor, novas maneiras de produzir”, apontou, enquanto Joaquim Freire de Andrade levou o Prémio Agricultor do Ano para Beja - onde a Sinvepart explora vários hectares de terra -, satisfeito com o reconhecimento pelo trabalho de uma “empresa familiar de seis gerações”. “Temos ultrapassado todas as revoluções agrícolas que aconteceram no país e temos conseguido fazer a adaptação aos tempos modernos. O mais complicado é mudar as mentalidades, mas não há ninguém que se preocupe mais com a terra do que o agricultor”, disse. “A vertente económica beneficia da modernização… ganha-se em todas as vertentes”.
Pontes para comunicar
As 150 horas do curso de Capacitação em Nutrição Vegetal terminam em dezembro. Os diplomas só serão entregues em maio do próximo ano, mas os 75 técnicos da Timac Agro que estão a estudar poderão, entretanto, começar a levar o conhecimento aos agricultores.
“Há uma produção de conhecimento enorme, à escala global, mas é difícil estabelecer as pontes com quem dele necessita. Foi com esse objetivo que lançámos o curso. Temos [Timac Agro] o país dividido em 75 zonas geográficas, cada uma com um técnico de campo, que contacta perto de 10 agricultores por dia. Ou seja, todos os dias, há quase 750 explorações visitadas”, explicou Rui Rosa.
A formação baseia-se em competências técnicas (operações agrícolas, botânica e ecofisiologia; solos; fertilização), digitais (agricultura de precisão, geomática, digitalização da relação e acompanhamento do cliente) e na comunicação (como transmitir o conhecimento de forma entendível aos utilizadores). O curso, que terá outras edições, tem coordenação geral da Agroges, pedagógica da PH+ Desenvolvimento Humano e científica do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Foram celebrados memorandos de entendimento com ISA, Escola Superior Agrária de Santarém, Universidade de Évora e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Premiados
Prémio Inovação Timac Agro Expresso: Centro Mundial de Inovação Roullier
- O centro, localizado em Saint Malo (França), sede do grupo Roullier, desenvolveu uma inovadora gama de bioestimulantes (conceito ADN), lançada no mercado português no ano passado, com resultados agronómicos relevantes em várias fases de diferentes culturas e geografias.
Prémio Agricultor do Ano: Sinvepart
- O Grupo Sinvepart tem a agricultura como principal atividade – explora cerca de 1900 hectares na zona de Beja. Aposta na sustentabilidade, numa propriedade detida há mais de 300 anos pela família, tem exploração diversificada, práticas promotoras de biodiversidade, investimento com capitais próprios, rácios de rentabilidade e vários projetos e parcerias, além de por apoiar iniciativas da comunidade.