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Transição energética exige muito investimento em infraestruturas e investigação

As conclusões são da Portugal Energy Conference, que juntou esta quinta-feira representantes do sector em Lisboa para debater os desafios e as oportunidades na energia. “O nosso país, nesta grande transição energética, está pela primeira vez do lado certo da história”, considerou o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, durante o evento que conta com o Expresso como media partner

A conferência decorreu esta quinta-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa
Nuno Fox

Ano após ano, evento após evento, o debate em torno da transição energética repete-se para incentivar o desenvolvimento de soluções que permitam aos países arrepiar caminho rumo à neutralidade carbónica. O desafio é monumental, mas Portugal tem as “condições de fazer mais e de fazer melhor” para se posicionar na linha da frente da revolução energética e, por consequência, social e económica, considera o ministro da Economia e do Mar. “O nosso país, nesta grande transição energética, está pela primeira vez do lado certo da história”, sublinhou António Costa Silva durante o discurso de encerramento da Portugal Energy Conference.

No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a Associação Portuguesa de Energia (APE) juntou perto de duas dezenas de especialistas do sector e cerca de 130 empresários, investigadores e decisores que quiseram assistir ao evento que contou com o Expresso como media partner.

António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, lembrou a importância de reforçar a aposta na transição energética. "As energias renováveis são hoje muito competitivas", sublinhou
Nuno Fox

Um dos principais destaques da conferência foi a presença de Angela Wilkinson, CEO do World Energy Council, que partilhou a visão do organismo internacional sobre as metas para a descarbonização da economia mundial. Mais do que competências e qualificações – que também é essencial reforçar para alimentar o esforço de inovação -, é preciso trabalhar em colaboração, defendeu a responsável. “Podemos saber como chegar à neutralidade carbónica do ponto de vista técnico, mas claramente não sabemos como fazê-lo num mundo politicamente fragmentado”, disse.

Angela Wilkinson (ao centro), CEO do World Energy Council, esteve presente para abordar os desafios da transição energética, mas também para assinalar que Portugal tem, neste campo, um potencial por explorar
Nuno Fox

Durante a manhã, houve ainda tempo para apresentar o estudo “Transição energética em Portugal 2023”, produzido pela Accenture em colaboração com a APE, que auscultou os seus associados para perceber como olham para este desafio. Mais colaboração, menos burocracia no licenciamento de projetos e uma forte aposta em diferentes tipos de energia renovável foram as principais conclusões divulgadas por Nuno Pignatelli, vice-presidente da consultora.

Conheça abaixo os principais destaques do dia:

Não basta produzir, é preciso conseguir distribuir

  • Repensar a forma como a rede energética está organizada é essencial para responder ao aumento da utilização de energias renováveis, quer no gás quer na eletricidade. “Para termos eletricidade verde não basta instalar parques eólicos, turbinas ou painéis solares. É necessário criar toda uma infraestrutura que é, na minha opinião, um bottleneck para atingirmos os objetivos”, afirma José Reis Costa, CEO da CME.
O painel moderado por Francisco Vieira (AMEG AESE) contou com a participação de José Costa Pereira (Veolia), José Reis Costa (CME), Maria José Clara (Portgás e REN), Gabriel Sousa (Floene) e Sílvia Barata (BP Portugal)
Nuno Fox
  • Para isso, é imperativo, defendem as empresas do sector, conquistar financiamento, mas sobretudo simplificar os processos de licenciamento e de autorizações. Alexandre Fernandes, presidente da Entidade Nacional para o Sector Energético (ENSE), acredita que esse “é o principal desafio que temos” e pede “processos mais expeditos”.
  • Do lado da administração pública, que também esteve representada em peso neste evento, o Diretor-Geral de Energia e Geologia reconhece o obstáculo e assegura que a entidade está a procurar responder às queixas dos operadores. “Acho que temos todos uma responsabilidade de simplificar a vida às pessoas e às empresas. Vamos começar a fazer esse caminho”, apontou Jerónimo Meira da Cunha, que assumiu a pasta em setembro.
O painel "Repostas para o futuro", moderado por Marta Cruz de Almeida (Galp), juntou Alexandre Fernandes (ENSE), Pedro Verdelho (ERSE), Sofia Simões (LNEG), Nelson Lage (ADENE) e Jerónimo Meira da Cunha (Direção-Geral de Energia e Geologia)
Nuno Fox

Transição alimentada com múltiplas energias

  • Uma das conclusões do estudo apresentado esta quinta-feira aponta que a transição energética terá de ser concretizada com apoio de várias fontes renováveis, do solar ao hídrico, passando pelo hidrogénio ou biometano. “Não temos dúvida nenhuma de que o hidrogénio é crítico para a solução final, mas há um caminho a percorrer e temos de reconhecer que há desafios tecnológicos que, no imediato, não têm solução”, avisou Rodrigo Costa, chairman da REN.
  • Para Maria da Graça Carvalho, eurodeputada eleita pelo PSD, o hidrogénio verde representa mais do que apenas mais uma energia renovável. “Vamos ter uma vantagem competitiva porque temos hidrogénio e renováveis a preço acessível. É aproveitar para atrair a indústria”, afirma.
João Torres (APE) moderou o debate sobre o futuro da energia, que contou com Maria da Graça Carvalho (Eurodeputada), Miguel Stilwell d'Andrade (EDP) e Rodrigo Costa (REN)
Nuno Fox
  • Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, acredita nas potencialidades deste combustível, mas alerta que ainda há um longo percurso até que esteja disponível de forma alargada. “Não estamos ainda sequer a produzi-lo. Não estou a ser pessimista, mas claramente ainda há vários obstáculos a ultrapassar”, perspetiva.