Ano após ano, evento após evento, o debate em torno da transição energética repete-se para incentivar o desenvolvimento de soluções que permitam aos países arrepiar caminho rumo à neutralidade carbónica. O desafio é monumental, mas Portugal tem as “condições de fazer mais e de fazer melhor” para se posicionar na linha da frente da revolução energética e, por consequência, social e económica, considera o ministro da Economia e do Mar. “O nosso país, nesta grande transição energética, está pela primeira vez do lado certo da história”, sublinhou António Costa Silva durante o discurso de encerramento da Portugal Energy Conference.
No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a Associação Portuguesa de Energia (APE) juntou perto de duas dezenas de especialistas do sector e cerca de 130 empresários, investigadores e decisores que quiseram assistir ao evento que contou com o Expresso como media partner.
Um dos principais destaques da conferência foi a presença de Angela Wilkinson, CEO do World Energy Council, que partilhou a visão do organismo internacional sobre as metas para a descarbonização da economia mundial. Mais do que competências e qualificações – que também é essencial reforçar para alimentar o esforço de inovação -, é preciso trabalhar em colaboração, defendeu a responsável. “Podemos saber como chegar à neutralidade carbónica do ponto de vista técnico, mas claramente não sabemos como fazê-lo num mundo politicamente fragmentado”, disse.
Durante a manhã, houve ainda tempo para apresentar o estudo “Transição energética em Portugal 2023”, produzido pela Accenture em colaboração com a APE, que auscultou os seus associados para perceber como olham para este desafio. Mais colaboração, menos burocracia no licenciamento de projetos e uma forte aposta em diferentes tipos de energia renovável foram as principais conclusões divulgadas por Nuno Pignatelli, vice-presidente da consultora.
Conheça abaixo os principais destaques do dia:
Não basta produzir, é preciso conseguir distribuir
- Repensar a forma como a rede energética está organizada é essencial para responder ao aumento da utilização de energias renováveis, quer no gás quer na eletricidade. “Para termos eletricidade verde não basta instalar parques eólicos, turbinas ou painéis solares. É necessário criar toda uma infraestrutura que é, na minha opinião, um bottleneck para atingirmos os objetivos”, afirma José Reis Costa, CEO da CME.
- Para isso, é imperativo, defendem as empresas do sector, conquistar financiamento, mas sobretudo simplificar os processos de licenciamento e de autorizações. Alexandre Fernandes, presidente da Entidade Nacional para o Sector Energético (ENSE), acredita que esse “é o principal desafio que temos” e pede “processos mais expeditos”.
- Do lado da administração pública, que também esteve representada em peso neste evento, o Diretor-Geral de Energia e Geologia reconhece o obstáculo e assegura que a entidade está a procurar responder às queixas dos operadores. “Acho que temos todos uma responsabilidade de simplificar a vida às pessoas e às empresas. Vamos começar a fazer esse caminho”, apontou Jerónimo Meira da Cunha, que assumiu a pasta em setembro.
Transição alimentada com múltiplas energias
- Uma das conclusões do estudo apresentado esta quinta-feira aponta que a transição energética terá de ser concretizada com apoio de várias fontes renováveis, do solar ao hídrico, passando pelo hidrogénio ou biometano. “Não temos dúvida nenhuma de que o hidrogénio é crítico para a solução final, mas há um caminho a percorrer e temos de reconhecer que há desafios tecnológicos que, no imediato, não têm solução”, avisou Rodrigo Costa, chairman da REN.
- Para Maria da Graça Carvalho, eurodeputada eleita pelo PSD, o hidrogénio verde representa mais do que apenas mais uma energia renovável. “Vamos ter uma vantagem competitiva porque temos hidrogénio e renováveis a preço acessível. É aproveitar para atrair a indústria”, afirma.
- Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, acredita nas potencialidades deste combustível, mas alerta que ainda há um longo percurso até que esteja disponível de forma alargada. “Não estamos ainda sequer a produzi-lo. Não estou a ser pessimista, mas claramente ainda há vários obstáculos a ultrapassar”, perspetiva.