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Coimbra ganha novo centro de inovação inteligente

Competitividade. Multinacional vai abrir, no início de 2024, o sexto espaço em Portugal para trabalhar as áreas da inteligência artificial e das smart cities. Ecossistema de talento, startups e localização foram fatores-chave para a decisão. Esta temática foi analisada no Coimbra Invest Summit 2023, a que o Expresso se associou como media partner
O Convento São Francisco juntou empresários, académicos e decisores públicos para debater a importância dos ecossistemas de colaboração
Rui Oliveira

Francisco de Almeida Fernandes

Durante semanas, o telemóvel de Ricardo Martinho não parou de tocar. Do outro lado da linha, autarcas de vários municípios da re­gião Centro procuravam saber quais as localizações que a IBM estava a considerar para a abertura do seu sexto centro de inovação no país.

A resposta chegou no final da semana passada. “Vamos colaborar num programa de desenvolvimento integrado que, entre outas mais-valias, promove a criação de um centro de inovação e tecnologia em Coimbra”, referiu o presidente da tecnológica em Portugal durante a assinatura do protocolo entre a multinacional, a subsidiária Softinsa, o município e a Universidade de Coimbra.

O acordo, firmado e assinado durante o Coimbra Invest Summit, prevê que o concelho sirva de “cidade-modelo e laboratório vivo para testar funcionalidades” em áreas como a eficiência energética, as cidades inteligentes, a inteligência artificial ou a inclusão.

Em declarações ao Expresso, Ricardo Martinho prefere não adiantar, para já, o número de postos de trabalho a criar ou o montante de investimento, mas assegura que “o objetivo” é ter algo de referência: “Começarmos em pequeno, mas crescermos muito rapidamente”, acrescenta. Certo é que a inauguração acontecerá seguramente no início de 2024 numa zona central de Coimbra.

Este será o sexto espaço de inovação tecnológica da multinacional em Portugal, onde já funcionam os polos de Tomar, Viseu, Fundão, Portalegre e Vila Real. A última abertura aconteceu no Fundão, em julho, com um investimento superior a €1 milhão (com 85% de financiamento europeu) e 50 postos de trabalho iniciais, com previsão de alcançar até 150 trabalhadores.

Para o ministro da Economia, António Costa Silva, a computação quântica desenvolvida pela IBM abre um espaço de oportunidade para o país e para as suas regiões. “Se sediarmos em Coimbra um polo de desenvolvimento da tecnologia quântica, ele vai mudar não só Coimbra, mas pode mudar a economia portuguesa”, afirma.

Ecossistema de talentos

A tecnológica junta-se, assim, a grandes organizações, como a Deloitte, a PwC, a Accenture ou a Airbus, que escolheram Coimbra como localização estratégica para o seu desenvolvimento. Em comum têm os motivos para estas decisões: uma cidade com argumentos fortes ao nível do talento disponível, instituições académicas abertas à colaboração e um ecossistema de inovação pujante. “O alinhamento que [o município] tem com as instituições de ensino superior e a capacidade agregadora que tem com o Instituto Pedro Nunes (IPN) foi, sem dúvida, um dos grandes fatores”, confirma Ricardo Martinho.

Luís Saraiva Silva, responsável pela transferência de conhecimento na Universidade de Coimbra, explica que a aposta na inovação e no trabalho com as empresas tem sido uma prio­ridade desde 2019. “Temos 42 centros de investigação, 26 plataformas tecnológicas de serviços, 89 spin-offs ativas e participamos em 14 clusters nacionais”, elenca.

O currículo da universidade — que, desde 2020, tem €1 milhão anual em direitos de propriedade intelectual — é um argumento que ganha força com a junção das incubadoras, aceleradoras e entidades promotoras do empreendedorismo no concelho. Entre elas, o IPN, liderado por João Gabriel Silva, que tem como objetivo o incentivo à inovação e a transferência de conhecimento da academia para a economia real. “Este ecossistema é uma diferença significativa em relação a outras localizações”, considera o presidente da direção do Instituto Pedro Nunes.

Todos estes ingredientes têm contribuído para que os clusters da tecnologia e da saúde se tornem bandeiras do desenvolvimento económico local, que deverão continuar a ser prioridades para o município. António Costa Silva reconhece o esforço regional na captação de investimento direto estrangeiro, mas diz que ainda é “pouco expressivo” na região Centro face à realidade nacional — representa apenas 3,4% do total captado pelo país. No entanto, diz, o potencial existe e deve ser explorado. “Coimbra pode ocupar, como já está progressivamente a ocupar, um espaço central [no desenvolvimento económico do país]”, assinala.

Há, porém, desafios a resolver. As empresas apontam a dificuldade em encontrar edifícios adequados à sua instalação na cidade, mas falam sobretudo na importância de desburocratizar a relação com a autarquia como fatores essenciais para tornar a cidade mais competitiva. Do lado da Câmara Municipal, o executivo confirma a digitalização dos processos e a simplificação de procedimentos e assegura que está a ser criada uma via verde de investimento para facilitar os processos de fixação de empresas. “Coimbra vai liderar a região Centro”, afiançam.

MELHORES FRASES

“Não é apenas ir para um sítio onde há pessoas, é encontrar um sítio onde há um ecossistema”

João Gabriel Silva, presidente do Instituto Pedro Nunes

“O crescimento económico do país não acontece pelo estalar de dedos, é com trabalho diário”

António Saraiva, presidente da Cruz Vermelha

“As empresas portuguesas estão a precisar de investimentos fortes em inovação”

Hugo Roxo, administrador do Banco Português de Fomento

“O modelo de desenvolvimento económico que temos no país e no mundo tem de ser mudado”

António Costa Silva, ministro da Economia

Textos originalmente publicados no Expresso de 6 de outubro de 2023

INVESTIR PARA O FUTURO

O Coimbra Invest Summit 2023, a que o Expresso se associou como media partner, serviu para falar do ecossistema empresarial da região e também para compreender o desafio da captação de investimento para as empresas e para o país.