A espécie humana pode não conseguir fintar a ameaça de extinção se não endereçar, de forma séria e acelerada, o desafio da sustentabilidade. Quem o diz é o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, que não tem dúvidas em afirmar que “a maior ameaça que pesa sobre as nossas cabeças é a ameaça climática”. O responsável pela estratégia económica do país marcou presença na conferência “Portugal 5.0 – Accelerate Digital Transformation”, organizada pela Siemens e à qual o Expresso se associou como media partner, e aproveitou a oportunidade para realçar as “vantagens competitivas” de Portugal neste caminho das várias transições – digital, energética e ambiental.
“É por isso que a nossa resposta com a digitalização tem de ter no seu centro a sustentabilidade e o desenvolvimento de um modelo económico muito mais sustentável”, considera António Costa Silva. Para isso, porém, é preciso apostar na inovação e na tecnologia como ferramentas para levar avante o caminho rumo a futuro mais verde. Para o ministro, a qualidade dos recursos humanos portugueses, o financiamento disponível no Plano de Recuperação e Resiliência e o dinamismo empresarial do país são ingredientes que permitem a Portugal destacar-se no panorama internacional.
Não terá sido por acaso que o auditório da Fundação Champalimaud, em Lisboa, foi o espaço escolhido para a realização deste evento. Como centro de investigação de ponta em saúde, torna-se o palco ideal para dar a conhecer organizações que estão a investir na digitalização, mas também para debater as oportunidades e os desafios que o país tem pela frente. Da energia à mobilidade, passando pela saúde e as infraestruturas, o painel de discussão contou com a presença de Miguel Stilwell d’Andrade (CEO da EDP), Thomas Hegel Gunther (diretor-geral da Volkswagen Autoeuropa), Isabel Vaz (CEO da Luz Saúde), Jean-Luc Herbeaux (CEO da Hovione) e Roland Busch (CEO da Siemens AG).
Conheça, abaixo, as principais conclusões do evento:
Tecnologia como fator de competitividade e sustentabilidade
- Tornar a indústria neutra em carbono é um desafio de grande dimensão, mas possível de atingir se forem reunidas três condições: energias renováveis, qualificação dos recursos humanos e investimento tecnológico. Do lado do sector energético, a EDP – cujo compromisso é ser ‘verde’ até 2030 e neutra em carbono até 2050 – está a “investir centenas de milhões de euros” neste esforço. Miguel Stilwell d’Andrade vê na conjugação entre produção eólica e fotovoltaica uma oportunidade e resfria as expectativas face ao papel do hidrogénio verde.
- “Acho que há muito buzz sobre hidrogénio (...). Há expectativas demasiado altas. Acho que vai demorar muito mais tempo do que as pessoas estão à espera”, afirma o CEO da energética.
- Objetivo semelhante tem a Autoeuropa, que em Palmela prevê reduzir, até ao final da década, “90% das emissões de CO2” quando comparado com valores de 2021. O líder da fábrica do grupo alemão vê na modernização das instalações e dos equipamentos uma forma de “ter um impacto positivo no ambiente”.
- Roland Busch lembra a importância da digitalização para cumprir o desígnio da transição ambiental e aponta a combinação entre os mundos físico e digital como uma forma de lá chegar. “Nenhuma empresa ou país consegue fazer esta transição sozinho”, reforça. A colaboração entre sectores, organizações e Estado será, garante, essencial para o sucesso.
- Na saúde, a tecnologia também está a ter um papel importante. Isabel Vaz assinala a utilização de ferramentas como a inteligência artificial para aumentar a produtividade dos profissionais de saúde e para melhorar a qualidade dos serviços prestados aos doentes. “Diria que em Portugal, em especial no sector privado, estamos muito avançados em termos de ferramentas digitais”, assegura.
- Responsável pelo desenvolvimento e produção de medicamentos, a Hovione defende, ainda, uma maior colaboração entre a academia e o mundo empresarial para potenciar a inovação. “As universidades não podem trabalhar numa bolha”, diz Jean-Luc Herbeaux.