Tudo gira cada vez mais à volta da sustentabilidade. E se essa tendência já não é de agora, a mudança verifica-se no plano da urgência. Seja pela pressão da legislação, seja pela maior consciência dos consumidores, a velocidade da transição acelera e obriga a mais transparência e inovação.
“No contexto da urgência da crise ecológica não vejo que haja algo mais relevante que a sustentabilidade”, argumenta a presidente da Sair da Casca — Consultoria em Sustentabilidade & Responsabilidade Social, Nathalie Ballan. Fatores como “os níveis insustentáveis de dívida ou um declínio no desenvolvimento humano após décadas de progresso” contribuem para este sentido de urgência, refletido na adoção cada vez mais difundida dos critérios ESG (Ambiente, Social e Governança Corporativa) ou da ligação de vários parâmetros aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Algo mais fácil de escrever do que aplicar e em “Portugal, será necessário as empresas mais avançadas contribuírem para capacitar e incentivar a cadeia de valor e o tecido das PME”, com uma certeza: “As empresas que não forem inovadoras e criarem novos serviços desaparecem.”
Segundo o estudo “EU Green Deal Survey — Portugal” da PwC, 36% das empresas não estão familiarizadas com o Pacto Ecológico Europeu, 57% não estão muito ou mesmo nada preparadas para a sua implementação e 43% têm falta de conhecimento sobre o compromisso e sobre as suas implicações. “Para a empresa vender os seus produtos tem que preencher uma série de requisitos”, que estão cada vez mais apertados em virtude das novas regras comunitárias, lembra Ana Cláudia Coelho, partner responsável pela área de Sustentabilidade e Alterações Climáticas da PwC Portugal. A falta de preparação das empresas pode ser fatal a vários níveis, sobretudo quando “cada vez mais é pedida informação ESG às empresas”, com o objetivo de compreender “em que medida já implementam boas práticas de sustentabilidade e como são geridas. Para se perceber a importância do que é pedido, “a capacidade de resposta a estas questões e a demonstração” do cumprimento dos critérios “será cada vez mais determinante na capacidade de acesso a crédito e no custo do mesmo”, por exemplo. É aqui que a “tentação” de enveredar por práticas como o green washing (“prática comum no mundo inteiro” que significa literalmente lavagem verde e que se refere a empresas que tentam passar uma imagem mais sustentável do que a realidade) é maior. “Já não é aceitável” nem recomendável enveredarem por este caminho, explica Ana Cláudia Coelho.
“Ainda nem todos viram a luz”, assume Margarida Couto, com a presidente do GRACE — Empresas Responsáveis, a reforçar que o “green washing descredibiliza muito”. Perante a renitência das empresas que só olham para os custos e não conseguem ver os benefícios a longo prazo de tornarem os seus modelos de negócio mais sustentáveis, a responsável deixa bem claro que “quem não integrar os pilares ESG na sua estratégia perderá competitividade, porque será menos atrativo para os financiadores, para os colaboradores e para os consumidores”.
Mais exigentes
“Todas as camadas da sociedade vão estar a interagir e não vai ser possível fazer esta jornada sem juntar conhecimentos”, defende Cristina Casalinho, diretora-executiva de Sustentabilidade do BPI para quem é essencial “organizar-nos de forma a fazer as perguntas certas para termos as respostas adequadas”. Além da legislação mais apertada importa também mudar mentalidades dentro das organizações porque “dificilmente seremos bem-sucedidos apenas com imposição externa”.
Teresa Brantuas, CEO da Allianz Portugal acrescenta que “os investimentos que são feitos dentro deste contexto são pagos em curto prazo” e são responsáveis “por gerar valor não só para a empresa mas também para a sociedade”. Para assegurar a transição, a comunicação dos pilares ESG deve aliar-se a medidas eficazes que passem pela “integração da sustentabilidade em toda a operação, desde os nossos processos internos, na escolha dos nossos parceiros e até incentivando os nossos clientes a seguirem um caminho mais sustentável”.
Sustentabilidade domina conversa
A quarta reunião do projeto que junta o Expresso a vários parceiros teve como tópico principal a sustentabilidade e os desafios que esta coloca à estabilidade ambiental, social e económica. Numa altura em que as instituições e empresas procuram a melhor forma de se adaptar a planos como o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal) e aos compromissos assumidos na recente 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27), a reunião foi dominada pelas dificuldades e resistências que ainda se sentem nas estruturas, mas com uma perspetiva positiva dos progressos verificados. É preciso ter a “lucidez de reconhecer que já chegámos aos limites do planeta e todos têm de se adaptar”, resume Nathalie Ballan, presidente da Sair da Casca.
Citações
“Temos de lidar com a crise e não podemos estar agarrados ao que fizemos no passado”
Teresa Brantuas
CEO da Allianz Portugal
“A sustentabilidade não funciona em silos, só podemos ser bem-sucedidos numa lógica de vontades coletivas”
Cristina Casalinho
Diretora-executivade Sustentabilidade do BPI
“Portugal está muito à frente na implementação de políticas verdes, mas atrás noutras políticas públicas”
Margarida Couto
Presidente do GRACE
Conselho de Segurança
O mundo vive envolto num conjunto de ameaças que exigem uma resposta pronta. O Expresso, em conjunto com a Sonae, Galp, Altice, Allianz, Morais Leitão e ACIN, lança um projeto para avaliar a nossa segurança tecnológica, militar, jurídica, na saúde, no Estado e nas empresas. Ao longo de seis meses queremos construir um Conselho de Segurança, lançando debates, promovendo temas,reunindo especialistas.
Textos originalmente publicados no Expresso de 6 de abril de 2023