Projetos Expresso

Sem novos modelos de negócio não há decisões sustentáveis

Na quarta conversa do projeto Conselho de Segurança, o contributo das empresas para a transição sustentável e os benefícios que podem resultar da adoção de métricas de reporte e comunicação mais uniformes foi o destaque de um debate em que ficou patente a urgência de atuar o quanto antes

A sustentabilidade começa em cada um de nós e na forma como podemos contribuir para as mudanças necessárias na sociedade, mas também é preciso que as estruturas que nos rodeiam e as empresas, das maiores às mais pequenas, se apercebam que já não podem adiar mais as alterações que o seu modelo de negócio exige. Seja por uma questão de regulamentação, seja por pressão dos investidores ou dos consumidores, o caminho é inevitável.

O ambiente é cada vez mais de “tsunami legislativo”, com as regras governamentais a serem cada vez mais apertadas e as empresas a terem que perceber a melhor forma de se adaptar. As metas vão desde a comunicação à integração efetiva dos pilares ESG (Ambiente, Social e Governança Corporativa) no ADN das empresas e perante o acelerar do clima de instabilidade global e da frequência cada vez maior de desastres naturais de grandes dimensões, a tendência é para a pressão aumentar.

Claro que não há um interruptor que permite fazer mudanças instantâneas, e há uma responsabilidade extra por parte das empresas maiores e com mais capacidade de adotarem medidas que depois se repercutem na cadeia de valor, até porque as PME muitas vezes não possuem os conhecimentos e os capitais disponíveis para atuar da mesma forma sem apoio.

Temas que foram o foco de nova reunião do Conselho de Segurança, projeto do Expresso que para a quarta conversa teve a Allianz Portugal como parceira e que teve a presença de Ana Cláudia Coelho, partner responsável pela área de Sustentabilidade e Alterações Climáticas da PwC Portugal; Cristina Casalinho, diretora executiva de Sustentabilidade do BPI; Margarida Couto, presidente do GRACE; Nathalie Ballan, presidente da Sair da Casca; e Teresa Brantuas, CEO da Allianz Portugal.

Conheça em mais detalhe os principais tópicos de discussão.

Custos compensam

  • Uma das críticas mais apontadas pelos responsáveis empresariais é que as novas metas ambientais e as mudanças que se pedem implicam custos extras que seriam melhor aplicados noutras vertentes.
  • Os presentes no debate respondem que o preço a pagar agora será sempre compensado, e que é muito pior não fazer nada agora e arcar com os custos no futuro.
  • “Todos os pontos da empresa têm que ter a sustentabilidade implícita”, atira Teresa Brantuas.

Green Washing

  • "Sem sustentabilidade não há competitividade", garante Margarida Couto.
  • Perante a nova realidade, muitas empresas não resistem ao impulso de passar uma imagem sustentável positiva que pode não corresponder totalmente à realidade, o chamado “green washing”, ou “lavagem verde”.
  • “Não basta dizer que a empresa faz, é preciso certificar-se que faz”, explica Cristina Casalinho.

Pressão legislativa

  • “Empresas devem reportar não só os pontos positivos mas também negativos e os planos de transição”, segundo novas indicações da CMVM, exemplifica Ana Cláudia Coelho.
  • Seja como for, confessa, "é preciso algum tempo para as pessoas ganharem estas competência e não sei se é tudo à mesma velocidade.
  • Trata-se de um “processo cada vez mais transversal” mas em que “reportar devia ser mais simples”, para ajudar na transição.

Coesão social

  • Na opinião de Nathalie Ballan, “para que a transição seja bem feita, tem que ser minimamente justa”.
  • Algo que implica uma “reflexão que não devia ser ideológica mas baseada na ciência”.
  • Sobretudo quando parece claro que as mudanças em prol da sustentabilidade podem ter impacto na “coesão social". Por isso considera que “temos que ter justiça redistributiva”.