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Licenciamentos: Lisboa e Porto prometem melhorias, mas há promotores a desistir

Na conferência da JLL, que decorreu esta sexta-feira à tarde, o tema dos atrasos nos licenciamentos foi um dos que esteve em destaque. As câmaras das duas principais cidades do país asseguram que estão a implementar melhorias

Joana Astolfi, Nic Von Rupp e José Roquette foram os convidados do segundo painel de debate da conferência "Celebrar o Futuro" da consultora imobiliária JLL
NUNO FOX

Ana Baptista

Geopolítica, pandemia, guerra, inflação, taxas de juro, sustentabilidade, alterações climáticas, inovação, novos espaços de trabalho, tecnologia, turismo, arte, desporto, pessoas, riscos e oportunidades, certezas e incertezas. O encontro “Celebrar o Futuro” - uma parceria da JLL com o Expresso que decorreu esta sexta-feira à tarde em Lisboa - foi muito mais que uma conferência sobre tendências do imobiliário. Foi, como o nome indica, um debate sobre o futuro. Por lá passaram Pedro Lancastre, CEO da JLL Portugal; Carlos Moedas, presidente da câmara municipal de Lisboa; Rui Moreira, presidente da câmara do Porto; Paulo Portas, ex-vice-primeiro-ministro e ex-ministro dos negócios estrangeiros; Maria Empis, responsável pela área de dinâmicas de trabalho da JLL Portugal; Guzman Blanche, responsável de estratégia para o local de trabalho na região EMEA; Andy Poppink, CEO da área de mercados na região EMEA; Claude Kandiyoti, CEO da Krest Real Estate; Nuno Silva, fundador da Finsolutia; Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial; Tom Carroll, responsável pela área de estudos na região EMEA; Nic Von Rupp, surfista profissional; José Roquete, responsável pela área de desenvolvimento do grupo Pestana e Joana Astolfi, arquitecta, designer e artista. Estas foram as principais conclusões.

1. Os novos espaços de trabalho
- A pandemia mudou a percepção que se tinha dos escritórios e das casas. Como diz Claude Kandiyoti, “continua a haver andares e elevadores, mas as pessoas perceberam que podem trabalhar em casa e a maioria não quer voltar ao escritório. Para os trazer é preciso criar uma experiência, não é só estar sentado em frente a um computador, porque isso podem fazer em casa”. E para Vera Pinto Pereira, o escritório já é também um fator de atração de talento, uma tarefa cada vez mais difícil, ainda mais na energia, onde para se atingir o que se pretende nesta sector “é preciso multiplicar por quatro o número de pessoas a trabalhar na área”, diz.

- De acordo com Guzman Blanche há, por isso, várias novas tendências neste segmento. “As empresas estão a procurar espaços maiores, mas cada vez menos procuram os arranha-céus. Querem edifícios na horizontal onde as pessoas possam andar sem obstáculos”, explica.

2. Sustentabilidade e tecnologia
- Segundo Vera Pinto Pereira, em Portugal, há já 70 mil famílias e 2500 empresas que têm painéis solares instalados nas casas e escritórios e que, por isso, já poupam entre “20% a 30%” e “40%”, respetivamente. Mas Claude Kandiyoti alerta para a falta de regulação que ainda existe na implementação desses sistemas em edifícios, “o que faz com que perguntemos se esses investimentos são, de facto, sustentáveis [financeiramente]”.

- Seja como for, ambos concordam que não há como fugir da sustentabilidade e que reduzir a pegada carbónica é um objetivo obrigatório para qualquer empresa e que a tecnologia é um meio para lá chegar. Maris Empis deu um alerta muito eficaz sobre isso dizendo que, atualmente, gastamos os recursos equivalentes a 1,75 planetas e que, se continuarmos assim, “daqui a 25 anos vamos precisar de três planetas”.

3. As cidades e os licenciamentos
- Para os promotores imobiliários e turísticos, os licenciamentos têm sido uma batalha constante e, em alguns casos, a razão para não se investir em determinada cidade. “O grupo Pestana, praticamente, deixou de fazer projetos em Lisboa por causa dos licenciamentos”, conta José Roquette. Mas na tarde desta sexta-feira tanto Carlos Moedas como Rui Moreira asseguraram que estão do lado dos investidores e que os licenciamentos são uma prioridade a resolver.

- Carlos Moedas foi mais direto em relação a esse tema ao mencionar que vão haver pessoas na câmara a explicar como se preenchem todos os requisitos de um projeto que dá entrada para pedir licenciamento, porque a maior parte deles volta para trás porque não “cumprem todos os requisitos” e que está a ser feito um esforço para despachar os licenciaremos em atraso. Aliás, diz mesmo que, neste momento, são mais os projetos que estão a sair do que os que estão a entrar. Já Rui Moreira garante que o departamento de urbanismo “funciona bem” e que a nova estratégia passa por criar condições para atrair investidores, nomeadamente para a construção de casas a preços mais acessíveis.

4. A geopolítica
- Coube a Paulo Portas encerrar a conferência desta tarde com uma intervenção que, entre outros temas, versou sobre o regresso de uma realidade que estava adormecida na Europa: a geopolítica. Isto por causa da guerra da Ucrânia. Nesse sentido, o ex-ministro chamou a atenção para a falta de investimento em Defesa. “Mais fácil para os Europeus é pôr um like na Ucrânia e dar um voto na Eurovisão, mas não é assim que a guerra se ganha ou se perde”, diz, comentando ainda que “os europeus achavam que havia paz sem defesa e Putin apercebeu-se disso, pressentiu a fraqueza da Europa”, diz.

- E alertou ainda para a excessiva dependência energética que a Europa tem da Rússia, lembrando de forma veemente, que são os muitos os países da Europa, como a Alemanha, que dependem do gás russo em mais de 40%. “Não consigo entender como é que alguém alguma vez pensou que a energia não era uma categoria geoestratégica”, repara.