Projetos Expresso

“A vacinação é a maneira verdadeiramente importante de evitar a gripe” 

O médico José Carlos Almeida Nunes não tem dúvidas de que a imunização é a principal arma de prevenção da infeção. Porém, os especialistas avisam que a manutenção da utilização de máscaras em períodos de pico da influenza pode também ajudar a reduzir os internamentos e mortes associadas à doença. Estas foram algumas das conclusões do Flu Summit 2022, iniciativa que juntou esta tarde o Expresso e a Sanofi

Num painel moderado por Bernardo Ferrão (à esquerda), diretor adjunto de informação da SIC, Bruna Ornelas de Gouveia (Direção Regional da Saúde da Região Autónoma da Madeira), Ricardo Baptista Leite (deputado PSD), Nuno Costa (Central de Compras da Saúde da SPMS) e Luís Silva Miguel (IQVIA Portugal) debateram os desafios do financiamento da estratégia nacional contra a gripe/NUNO FOX

Máscaras, higienização das mãos e, sobretudo, vacinas. Esta parece ser a receita que médicos e especialistas em saúde recomendam para que seja possível prevenir a síndrome gripal, mas acima de tudo, as suas consequências mais gravosas. “Não esqueçamos que antes do começo da pandemia, no inverno de 2019, tínhamos tido à volta de 3800 óbitos provocados pela gripe”, recordou o perito em medicina interna, José Carlos Almeida Nunes. O médico, que regularmente entra em casa dos telespetadores da SIC através do consultório no programa Casa Feliz, diz mesmo que estes números “não são negligenciáveis” e que a sua gravidade só não é assunto discutido na sociedade porque “estamos habituados”. Porém, há formas de evitar a perda de vidas.

“Não há nenhum medicamento 100% eficaz, portanto a vacinação também não é 100% eficaz. Mas os doentes terão uma carga viral menor, com menos risco de mortalidade”

José Carlos Almeida Nunes, médico de medicina interna

Na terceira edição do Flu Summit 2022, iniciativa que juntou o Expresso e a Sanofi, foi dado destaque ao impacto negativo da infeção pelo vírus da influenza na população, em particular nos considerados grupos de risco. Idosos, diabéticos, doentes cardíacos ou doentes respiratórios crónicos estão entre aqueles que merecem mais preocupação e que, consequentemente, devem ser alvo preferencial das campanhas de vacinação contra a gripe. Vale a pena recordar, a este propósito, que Portugal ultrapassou recentemente o objetivo definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 75% de cobertura vacinal. De acordo com dados do Vacinómetro – ferramenta que mede a taxa de cobertura vacinal -, 88% das pessoas com 65 ou mais anos já foram imunizadas contra a gripe.

Ainda assim, consideram os especialistas, é preciso reforçar a sensibilização da população para a importância desta forma de prevenção. E isso começa, por exemplo, por quebrar alguns mitos associados à vacina contra a gripe, como a ideia de que as pessoas saudáveis não necessitam de imunização. “À medida que envelhecemos, ficamos mais suscetíveis de contrair a doença e até com maior gravidade. O facto de ter 60 anos de idade e não ter tido, até agora, nenhuma gripe não significa que não me devo vacinar”, esclarece Almeida Nunes.

88%

  • é a taxa de cobertura da vacina contra a gripe na faixa etária a partir dos 65 anos, acima da média europeia e do objetivo definido pela OMS

Conheça as principais conclusões do evento:

Mais vale prevenir do que remediar

  • “Não protegemos só a gripe, protegemos todas as complicações”, fez questão de realçar o pneumologista Filipe Froes, responsável pela moderação de um dos painéis de debate. Para o perito, mesmo tendo em conta que nos últimos dois anos o número de casos de gripe foi quase inexistente, é importante prevenir o regresso do vírus com maior força após o fim das medidas de proteção pandémica. “Houve menor estimulação antigénica na população”, diz, explicando que isso pode significar efeitos mais gravosos no próximo inverno.
  • Froes considera que, embora não se possa obrigar à utilização de máscara para evitar a gripe, é importante aconselhar o uso de medidas de proteção pelo menos em períodos de pico de transmissão na sociedade.
  • Em sentido contrário, Bruna Ornelas de Gouveia acredita que a generalidade das pessoas compreende hoje a importância da máscara e que, por isso, será mais fácil recomendar, com sucesso, a sua utilização. “As pessoas hoje têm mais consciência de que se têm sintomas não podem expor o outro à doença”, afirma a subdiretora regional da saúde da Região Autónoma da Madeira.
  • O deputado do PSD e membro do Grupo Parlamentar da Saúde, Ricardo Baptista Leite, aponta ainda os “ganhos do ponto de vista económico” que a prevenção pode significar para o SNS. Contudo, alerta que “temos dificuldade em medir os chamados outcomes [resultados] em saúde”. A consequência é a tomada de decisões preventivas menos robustas, e eventuais investimentos com pouco retorno em indicadores de saúde.
António Lacerda Sales, secretário de Estado e Adjunto da Saúde, lembrou o aumento da “cobertura dos profissionais de saúde” na vacina da gripe e aproveitou a ocasião para elogiar a “extraordinária adesão da população” à campanha desta época gripal/NUNO FOX

Lições aprendidas com a covid-19

  • Entre as aprendizagens que a experiência pandémica trouxe, não apenas à população, mas também às entidades de saúde, está a capacidade vacinal e sua organização no território. “Do modo como estamos a fazer atualmente [a vacinação contra a gripe] não é muito eficiente”, observa o coronel Penha Gonçalves, responsável pela task force da vacinação. Para o responsável logístico, é importante repensar o modelo e, sobretudo, manter instrumentos como a casa-aberta e o autoagendamento de vacinas. “Temos de fazer um esforço para focar muitos recursos para ter as pessoas vacinadas até à altura do Natal”, defende.
  • Da mesma forma, Sofia Duque pede que sejam aproveitadas “todas as oportunidades” de imunização, em especial nos mais idosos e vulneráveis, como doentes crónicos. A coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna sugere que as visitas dos doentes aos médicos possam ser utilizadas para a vacinação, bem como a inoculação em lares.
  • “Existem unidades do país que tratam doentes em lares. Podemos ter aqui uma ponte para fazer alguns programas de vacinação, aproveitando oportunidades e profissionais de saúde em determinados locais”, concorda Pedro Correia Azevedo, coordenador do Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.