Automação, robótica, digitalização e desmaterialização dos processos tornaram-se fatores essenciais para a competitividade das empresas. Com um ano e meio de pandemia, apesar dos sucessivos confinamentos, a indústria portuguesa continuou a laborar. Há, no entanto, um longo caminho a percorrer na adaptação das empresas aos novos modelos baseados na tecnologia. Este foi o tema em discussão no debate desta tarde, inserido nas Conferências do Expresso “Discutir o País”, “Indústria 4.0: A Nova Revolução Industrial”.
Estas são as principais conclusões:
Oportunidade
- A ideia é consensual: os dados, a automação e a robótica representam uma nova oportunidade para a indústria, tanto portuguesa como europeia. “A transformação digital foi acelerada pela pandemia”, disse Filipe Sousa (Head of Connected Things no Fraunhofer Portugal – AICOS), acrescentando que “a tecnologia tem um papel muito importante na interação e competitividade da indústria portuguesa.
- Por outro lado, a pandemia veio expor ainda mais a urgência da tecnologia adaptada à indústria. “Há sectores com provas dadas que a tecnologia aumentou a competitividade e acelerou-a.”
Programa Indústria 4.0
- Em abril de 2019, o Governo estimou uma mobilização de investimentos na ordem dos €600 milhões, com o objetivo de incentivar e alavancar a transformação digital. Atualmente na segunda fase, o programa está agora dependente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “Pertence mais ao foro político”, começou por dizer Carlos Breda, CEO da Bresimar Automação. “Depois de uma pandemia nada ficou igual. Precisamos de um bom plano, uma indústria robusta, novos produtos com valor acrescentado. Se estamos no bom caminho? Julgo que estamos a fazer o possível, o que nunca é suficiente. Estamos em 34º lugar no ranking de tecnologia, entre 64 países.”
Investimento
- “O PRR pode ser uma alavancagem para novos produtos e tecnologias”, disse Filipe Sousa, acrescentando a necessidade “de atrair mais jovens para a engenharia. Precisamos de formar mais gente, sobretudo jovens com conhecimento de novas máquinas. Assim será um desafio diferente para quem trabalhar no chão de fábrica. Neste capítulo, o Estado tem um papel importante, ou seja, este envelope monetário vai-nos ajudar a perceber como lidar com a transformação e automação.”
Autonomia das cadeias produtivas
- A Europa e praticamente todo o Ocidente depende dos grandes países industrializados do Oriente, em particular da China e da Índia. Industrializar a Europa, tornar os meios de produção mais robustos e localizados, é por isso decisivo para uma descentralização e maior competitividade do tecido empresarial. “A Europa está a caminhar para uma zona disruptiva, sem sabermos muito bem o que queremos. É notório que a Europa não cresce há mais de dez anos, muito por dependência da tecnologia que exportamos do Oriente. Esta trasladação de tecnologia diminui a nossa capacidade produtiva. O que parecia uma situação rentável, produzir a preços muito baixos, esta a sair caro porque nos faltam meios”, disse Carlos Breda.
Máquina vs. Colaborador
- Perante a tecnologia, esta é uma das principais questões que se colocam: será que as máquinas vão substituir os recursos humanos numa fábrica? A resposta é “não”. Pelo contrário: a indústria tem falta de mão-de-obra. “Apesar do aumento das matérias-primas a 50%, o aumento da energia elétrica, do gás natural, combustíveis e transportes, a maior dificuldade do sector metalomecânico é contratar recursos humanos”, disse Rafael Campos Pereira, presidente da AIMMAP, lembrando que as novas gerações “não estão disponíveis para fazer certas coisas no chão de fábrica".
- Parte da solução, defenderam de forma unânime os oradores, passa por maior cooperação entre empresas e universidades. “Estamos a acrescentar valor não só ao que é feito a nível produtivo mas a recriar oportunidades e a reconverter postos de trabalho, com recursos muito mais especializados, e isso é valorizado no mercado de trablaho”, acrescentou Carlos Breda.
Internet das Coisas
- O debate contou ainda com a participação de vários representantes de empresas tecnológicas. Ursula Frank (Beckhoff), Arun Damodaran (Denso Robotics). Sai Seidel-Sridhavan (Turck) e Emmanuel Quellier (Banner Engineering). Tratam-se de companhias que usam dados e Internet das Coisas (IoT) para desenvolver soluções para a indústria. “A Indústria 4.0 pode ajudar, incluindo durante a pandemia, a melhorar a produção das empresas, a sua gestão e a fiabilidade dos produtos que entregam aos seus clientes”, disse Emmanuel Quellier.