Estamos num momento de viragem no mundo e na medicina em particular. A investigação é agora mais importante que nunca?
Não sei se se deve dizer que “a investigação é agora mais importante que nunca”, mas penso que, no período de crise pandémica que atravessamos as pessoas percebem a grande importância da investigação em saúde para a resolução da situação. E, talvez por isso, atualmente se ouçam frases como essa. O que me parece mais importante é que as pessoas em geral, e os governantes europeus (e portugueses) em particular, percebam que a saúde tem, nos últimos anos, sido asfixiada por políticas orçamentais estritamente focadas no imediato, mas que não servem os superiores interesses das populações. É preciso que existam políticas equilibradas que permitam fazer os investimentos necessários à investigação e encontrar soluções mais apropriadas para a saúde das pessoas. Porque a investigação em saúde é muito importante para a melhoria das condições de saúde e de vida das pessoas. E tem sido de uma enorme importância. Os seus resultados, em medicamentos, dispositivos médicos e cuidados possibilitaram que a esperança média de vida à nascença na Europa passasse de cerca de 40 para 80 anos no último século. Claro que houve outros fatores que contribuíram para isso, mas o sector da saúde foi absolutamente crucial para que as pessoas vivam mais e com mais qualidade.
“A investigação em saúde tem sido de uma enorme importância. Os seus resultados, em medicamentos, dispositivos médicos e cuidados possibilitaram que a esperança média de vida à nascença na Europa passasse de cerca de 40 para 80 anos no último século”, refere Luís Portela, presidente da Fundação Bial
Porque é que é tão caro e tão difícil fazer investigação? É mais difícil em Portugal? Precisamos de mais apoios?
A investigação em saúde e, sobretudo, a investigação em medicamentos inovadores, é muito dispendiosa porque envolve peritos altamente qualificados, necessita de tecnologias e equipamentos altamente diferenciados e tem um ciclo muito longo, demorando-se dez ou mais anos desde que se sintetiza uma nova molécula até se chegar ao mercado com o novo medicamento que dela resulta, tendo comprovado a sua eficácia e a ausência de efeitos secundários significativos. Em Portugal foi mais difícil, porque nunca ninguém o tinha feito, não havia hábitos de inovação no sector, nem peritos traquejados. Agora que Bial levou ao mundo dois medicamentos inovadores e se prepara para levar o terceiro, penso que poderei dizer, com satisfação, que é tão difícil em Portugal como nos outros países. Mas isso só será verdade se as políticas de saúde tiverem em consideração as necessidades de investimento que permitam a concretização da inovação. Os apoios nesse sentido serão bem-vindos, mas, antes disso, é necessário um maior equilíbrio na definição de políticas, pelo que será crucial que o Ministério da Economia retome a tutela conjunta da saúde como aconteceu ao longo de todo o século XX e se perdeu a partir de 2012.
As distinções e prémios também ajudam…
Esse é o outro tipo de investigação que também permite melhorar os cuidados de saúde prestados aos doentes e o conhecimento que temos das próprias doenças. Os trabalhos galardoados no âmbito do Prémio Bial de Medicina Clínica acompanharam a evolução e as tendências da investigação na medicina, estudando temas relativos às doenças civilizacionais emergentes, como a obesidade, o cancro, a depressão e as doenças geriátricas. Mais recentemente foram distinguidos estudos na área da genética, da medicina molecular, da imagiologia funcional, das terapias substitutivas e das terapias regenerativas. É muito gratificante, através da fundação Bial, apoiar esta investigação que se faz nas universidades, nos centros de saúde e nos hospitais.
Agora que assume a fundação a tempo inteiro e dado o seu gosto especial pela área da investigação, pretende reforçar os apoios e/ou os prémios?
A fundação Bial tem desenvolvido iniciativas de interesse público como os seus três prémios – Prémio Bial de Medicina Clínica, Bial Award in Biomedicine e Prémio Maria de Sousa – , as suas bolsas de investigação em Psicofisiologia e Parapsicologia – com as quais já beneficiámos mais de 1.600 investigadores em 29 países – e ainda os simpósios bienais “Aquém e Além do Cérebro”. A nossa primeira preocupação é robustecer estas atividades, procurando criar condições para que os seus resultados sejam cada vez mais eficazes, no benefício das populações. Se nos for financeiramente possível, procuraremos reforçar essas atividades.
O que é que esta pandemia já mudou e vai ainda mudar na medicina, na forma como se exerce e se investiga e na forma como se gerem os serviços de saúde e as farmacêuticas?
Esta pandemia veio mostrar a necessidade de os governos europeus (incluindo o português) criarem condições de atractividade para o investimento em saúde, contrariando a tendência dos últimos anos de deslocalização da produção para o Oriente e de deslocalização da investigação para os EUA. Também veio acentuar a necessidade da saúde ser gerida tendo em atenção as soluções de médio e longo prazo, o planeamento e a prevenção. E isto deverá ser feito utilizando os recursos mais apropriados, nomeadamente na área informática, sempre com o foco de melhor servir os interesses da saúde das pessoas.
Simultaneamente tem sido também notória a capacidade de colaboração entre as diferentes entidades públicas e privadas na busca de uma solução para a pandemia. A fundação Bial, enquanto impulsionadora da investigação científica, há muito que tem também feito e procurado incentivar este caminho de colaboração. Esperemos que os novos hábitos de colaboração surgidos durante a pandemia se mantenham no futuro.
Como é que vê a rapidez com que a vacina foi desenvolvida? Um avanço ou um risco? Será a causa dos problemas que têm sido encontrados em algumas das marcas?
As vacinas que estão disponíveis no caso da covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde, mostrando uma grande capacidade de resposta da indústria e da área da saúde em geral. Acresce que se têm revelado eficazes. É verdade que, nalguns casos, tem havido efeitos laterais absolutamente indesejáveis, embora em muito pequena percentagem, e espera-se que essas situações indesejáveis sejam rapidamente corrigidas. A passagem do tempo ajudará, como é normal, à melhor compreensão das situações e ao seu ajuste.
Será ainda de valorizar o facto de estarem a ser estudados mais de uma centena de novos medicamentos, com o objetivo de anular os efeitos e, se possível, a própria eclosão da doença. Mas o processo de concretização de um novo medicamento é sempre mais longo que o de uma nova vacina.
Prémio Bial de Medicina Clínica
O que é?
Criado em 1984 e entregue de dois em dois anos, o prémio Bial de Medicina Clínica distingue uma “obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância”, pode ler-se no site da empresa portuguesa. O vencedor recebe um prémio de €100 mil, sendo ainda atribuídas duas menções honrosas no valor de €10 mil cada. Apesar de ser um prémio gerido pela Fundação Bial, a fundação não tem qualquer interferência na escolha dos vencedores. Esse trabalho é feito por um júri autónomo e independente, constituído por representantes dos conselhos científicos das faculdades de Medicina portuguesas.
Quando, onde e a que horas?
Dia 29 de abril, quinta-feira, às 12h00 no Facebook do Expresso, transmitido a partir da Ordem dos Médicos, em Lisboa.
Quem vai estar presente (além dos vencedores)?
- Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães;
- Presidente da Fundação Bial, Luís Portela;
- Presidente do júri do Prémio Bial, Manuel Sobrinho; Simões;
- Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa
Porque é que este prémio e este encontro são centrais?
A investigação em saúde é uma das grandes responsáveis pela melhoria da saúde, das condições de vida e da esperança média de vida das populações. Este prémio, bem como outros galardões ou bolsas, são importantes para que continue a haver essa investigação, um trabalho que é longo, detalhado e dispendioso.
Como posso ver?
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