Projetos Expresso

“É importante que não se confunda soberania com medidas protecionistas”, alerta eurodeputada

Projetos Expresso. Graça Carvalho felicita a intenção da Europa em tornar-se mais independente no que à saúde e ciência diz respeito, mas pede um aumento de cooperação dentro e fora da união. O projeto ‘Mais Saúde, Mais Europa’, promovida pelo Expresso com o apoio da Apifarma, reúne à segunda-feira os eventos que vão marcar a semana

Investimento em investigação científica é fundamental para a Europa recuperar autonomia na produção de medicamentos inovadores
José Fernandes

Francisco de Almeida Fernandes

Foram os objetivos comuns na segurança, economia e nos valores que juntaram os diferentes Estados-membros, em 1957, ainda como Comunidade Económica Europeia. São, por isso, mais de seis décadas de cooperação entre os países e os seus povos, mas que apesar da já longa relação continua a precisar de ajustes. “Devemos continuar a cooperar, e cooperar cada vez mais, com o resto do mundo”, diz ao Expresso a eurodeputada Graça Carvalho. Especialista em questões da investigação científica, inovação e tecnologias na área da saúde, é atualmente relatora responsável pela Iniciativa Saúde Inovadora e Global Health. “A aposta coordenada da união no desenvolvimento e aquisição das vacinas da covid-19, apesar das críticas e problemas que têm surgido, continua, na minha opinião, a ser um bom exemplo das vantagens de trabalharmos em conjunto”, diz.

Porém, dar corpo à estratégia europeia rumo à recuperação de soberania na área da inovação científica depende, diz Maria do Carmo Fonseca, do reforço do apoio à investigação. “Não podemos reduzir o investimento em ciência, nem em Portugal nem na Europa, sobretudo ao nível da investigação fundamental que é o verdadeiro motor da inovação”, defende a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Como presidente do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), concorda sobre a importância de “reforçar a coesão” para que todos os cidadãos sintam “que é uma mais-valia pertencer à UE”. Esse sentido de pertença será ampliado com um dos pilares orientadores da política da Comissão Europeia, a justiça social.

Apesar de tudo, a eurodeputada eleita pelo PSD acredita que foi dado um primeiro passo em direção a um continente mais justo com a chegada da pandemia. “Começou logo com a questão do acesso aos dispositivos médicos – dos mais simples, como as máscaras, aos ventiladores”, aponta. Seguiram-se as vacinas, algumas produzidas em território europeu, aposta que considera essencial alargar para “não ficarmos dependentes de terceiros”. No entanto, a também ex-ministra da Ciência e Ensino Superior alerta: “É importante que não se confunda soberania com medidas protecionistas”.

“Não podemos reduzir o investimento em ciência, sobretudo ao nível da investigação fundamental que é o verdadeiro motor de toda a inovação”, diz Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes

A investigadora Maria do Carmo Fonseca saúda o exemplo da proposta legislativa para Avaliação das Tecnologias de Saúde (ATS), embora acredite que “o desafio pela frente é a lentidão das negociações” causada pelos “mecanismos demasiado burocráticos” na UE. “Da priorização da transformação digital, ao próprio reforço da Saúde Global e da diplomacia da saúde”, estes são alguns dos objetivos com que a Presidência Portuguesa da UE está comprometida até junho, lembra ao Expresso António Lacerda Sales. O secretário de Estado e Adjunto da Saúde pede o reforço da capacidade de resposta da união a futuras ameaças de saúde, missão entregue à anunciada Autoridade Europeia de Preparação e Resposta a Emergências de Saúde.

A agenda desta semana será marcada pelo evento "Liderança Europeia na Saúde | Inovação em Saúde: não deixar ninguém para trás", que decorre na próxima quarta-feira, dia 7. A conferência, organizada pelo Expresso com o apoio da Apifarma, vai abordar questões ligadas à inovação científica – cujo financiamento de 95 mil milhões de euros será assegurado pelo novo Horizonte Europa, até 2027 -, ao acesso dos doentes aos cuidados de saúde e à competitividade da indústria europeia. À segunda-feira, o ‘Mais Europa, Mais Saúde’ reúne os destaques para os próximos dias.

Liderança Europeia na Saúde | Inovação em Saúde: não deixar ninguém para trás

O que é?

A APIFARMA, com o apoio do Expresso, organiza a conferência Liderança Europeia na Saúde | Inovação em Saúde: não deixar ninguém para trás dedicada à discussão da competitividade da indústria farmacêutica, acesso dos doentes aos cuidados de saúde e desafios da investigação científica.

Quando, onde e a que horas?

Dia 7 de abril, das 09h30 às 13h no Facebook do Expresso

Quem são os oradores?

  • João Almeida Lopes, presidente da APIFARMA
  • Diogo Serras Lopes, secretário de Estado da Saúde
  • Dennis Ostwald, diretor executivo do WifOR Institute
  • Manuel Pizarro, eurodeputado
  • Paulo Portas, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa
  • Tim Wilsdon, vice-presidente da Charles River Associates
  • Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares
  • Nathalie Moll, diretora geral da Federação Europeia da Indústria e Associações Farmacêuticas
  • Antonella Cardone, diretora da Aliança Europeia de Doentes com Cancro
  • Cláudia Furtado, diretora da Direção de Avaliação das Tecnologias da Saúde no Infarmed
  • Richard Barker, presidente da Metadvice
  • Yann Le Cam, diretor executivo da EURORDIS
  • Graça Carvalho, eurodeputada
  • Maria do Carmo Fonseca, presidente da direção do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes
  • Andrzej Rys, diretor para os Sistemas de Saúde, Produtos Médicos e Inovação na DG Sante da Comissão Europeia
  • Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed
  • João Neves, secretário de Estado Adjunto e da Economia

Porque é que este tema e evento são centrais?

Em pleno mandato da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, a Europa quer recuperar soberania na produção científica com incentivos à investigação e à inovação. A par desta aposta, o espaço comunitário quer tornar o acesso a medicamentos e tecnologias da saúde equitativo entre todos os cidadãos europeus.

Como posso ver?

Simples, clique aqui.

€95 mil milhões

é a dotação orçamental do programa comunitário Horizonte Europa, que até 2027 vai financiar a inovação europeia

Quarta-feira, 07

  • “Liderança Europeia na Saúde” será transmitido em direto no Facebook do Expresso, a partir das 09h30, e contará com a participação de líderes nacionais e europeus na saúde. A abertura será garantida pelo secretário de Estado da Saúde Diogo Serras Lopes, que antecede o debate sobre o papel da indústria da saúde na recuperação da UE no pós covid-19. A experiência de cooperação vivida ao longo do último ano deve ser, pede a Comissão Europeia, aprofundada para melhor preparar o continente.
  • As questões do acesso à saúde e da inovação científica farão, também, parte dos temas do dia. Será analisado o papel da Comissão Europeia no financiamento à investigação, os obstáculos e as oportunidades que a inovação pode representar para a UE e cidadãos. O objetivo é cumprir os quatro desígnios definidos a nível comunitário - resiliência, justiça social, digitalização e sustentabilidade.
  • O evento termina com as intervenções do presidente do Infarmed Rui Santos Ivo - que falou, recentemente, ao Expresso sobre o contributo do instituto nacional para a proposta legislativa sobre Avaliação das Tecnologias da Saúde - e de João Neves, secretário de Estado Adjunto e da Economia.

Quinta-feira, 08

  • Os peritos europeus reúnem-se na quinta-feira para discutir as principais tendências e impactos na saúde na agenda comunitária, em preparação para a futura Reunião de Alto Nível na Saúde. O evento, organizado pela Presidência Portuguesa, debaterá ainda o processo legislativo sobre ATS que será em breve negociado com o Parlamento Europeu.
  • Rui Santos Ivo diz acreditar que existe “um grande apoio do parlamento em criar este sistema de cooperação entre os Estados-membros, que vão designar os seus peritos e ter acento no grupo de coordenação”. Apesar de reconhecer os desafios inerentes à aprovação da proposta, admite manter o seu “otimismo moderado” sobre “avançar muito com o dossier” até ao final do mandato da presidência.
  • Além de liderar o grupo de trabalho que desbloqueou a proposta da Comissão Europeia, Rui Santos Ivo vai promover o debate sobre o Acesso aos Medicamentos e Dispositivos Médicos, num evento organizado pelo Infarmed para o final de abril.