Foi de duras críticas ao Governo, e principalmente ao ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, que se fez o debate de hoje do projeto 50 para 2050, mas nem por isso se fugiu ao tema principal: os carros do futuro. Assim, falou-se também das várias tecnologias que já existem, das inovações que estão a ser testadas, e até de carros partilhados e autónomos. Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP); Hélder Pedro, secretário-geral da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP); Sérgio Ribeiro, CEO da Hyundai Portugal e João Barros, presidente da Veniam foram os convidados deste encontro. Aqui ficam as principais conclusões.
1. As críticas ao ministro do Ambiente e ao Governo
- As críticas dos intervenientes, que representam uma fatia significativa do sector automóvel em Portugal, foram para a falta de incentivos ao abate e à compra de carros elétricos, mas também à falta de uma estratégia no que respeita aos pontos de carregamento para carros elétricos e de um plano para criar postos de abastecimento para carros a hidrogénio, o que ainda não existe no país. Criticaram ainda algumas declarações do ministro do Ambiente, uma das quais referia que os carros a gasóleo iam acabar.
- “Foi pena não terem convidado o ministro porque ele só diz asneiras sobre o futuro da mobilidade e dos carros”, comenta Carlos Barbosa logo no arranque da conferência, reforçando que os carros a gasóleo não vão acabar, mas que se vão tornar mais ecológicos e eficientes. Uma opinião partilhada pelos restantes convidados, apesar de concordarem que o futuro dos automóveis passa pela eletrificação, como, aliás, já se tem estado a verificar nos últimos anos. Segundo Hélder Pedro, não só as vendas deste tipo de carros teve um crescimento de três dígitos em 2020, como 40% dos modelos que vão ser lançados em 2021 serão eletrificados.
- Mas se não houver pontos de carregamento haverá menos gente a comprar estes carros e, consequentemente, não se atingirão as metas de redução das emissões de CO2 e da descarbonização da economia e da sociedade. Metas essas que terão de ser cumpridas até 2050. “Temos um posto de carregamento por cada 10 carros. Na Holanda o rácio é de três. Estamos muitíssimo longe”, repara Sérgio Ferreira. “Há um grande fosso entre o que os governos dizem e a realidade do mundo automóvel. Não podemos ir para a frente nos carros elétricos se não há pontos de carregamento”, diz Carlos Barbosa.
- Há ainda a questão dos incentivos ao abate de carros mais antigos e mais poluentes e à compra de carros elétricos, sejam eles 100% elétricos, híbridos, híbridos plug-in ou a hidrogénio (todos eles têm por base a eletricidade). Segundo Sérgio Ribeiro, os incentivos que existem em Portugal são baixos e insuficientes porque tendem a acabar a meio do ano. “Os construtores estão a fazer a sua parte, mas o Governo não”, comenta.
2. O carro do futuro
- Todos os convidados presentes no debate concordam com um ponto: não há um único carro do futuro, mas sim vários, ou melhor, várias tecnologias distintas. Mas todos elas terão uma base comum: a eletricidade. Além disso, haverá ainda carros a gasóleo e a gasolina, mas com motores mais eficientes e mais amigos do ambiente, em linha com as regras impostas pela Comissão Europeia que vão sendo cada vez mais apertadas, referiu Hélder Pedro. Porque, diz Sérgio Ferreira, a escolha do carro depende da utilização que se dá.
- “São as pessoas que decidem o tipo de automóvel que querem ter, não são os governos”, nota João Barros. Para o presidente da Veniam, uma startup portuguesa sediada na Califórnia, EUA, que atua na área dos carros partilhados e na introdução de uma rede de dados dentro dos próprios veículos, a escolha de um carro ou de um meio de transporte depende sempre da utilização que as pessoas lhe dão e da sua envolvente cultural e social. E agora, com a covid-19, haverá alterações significativas nesse campo, nomeadamente no trabalho remoto, “que vai ser um dos impactos mais duradouros da pandemia”, remata.