Projetos Expresso

Vamos caminhar para a gratuidade dos transportes públicos para alguns sectores da população

Projectos Expresso. O quinto debate digital do projeto “50 para 2050”, uma iniciativa do Expresso e da BP, aconteceu esta terça-feira e teve como tema a ‘Mobilidade Futura nas Cidades’. Foi o último encontro do primeiro ciclo deste projeto que retomará no início de 2021 com mais cinco debates e mais personalidades, até chegar às 50

Pediram-se incentivos ao abate de carros mais poluentes, sugeriu-se que os passes fossem gratuitos para alguns sectores, falou-se de integração de todos os modos de transporte e ainda houve espaço para uma pequena polémica entre carros e bicicletas em Lisboa. O quinto debate do projeto ’50 para 2050’, que foi também o último do primeiro ciclo desta iniciativa, contou com oradores de quase todas as áreas de mobilidade nas cidades. No painel estiveram Luís de Picado Santos, professor do Instituto Superior Técnico (IST); Bruno Borges, chefe de operações da Free Now; Carlos Humberto de Carvalho, primeiro secretário da Área Metropolitana de Lisboa (AML); Miguel Feliciano Gaspar, vereador da Economia e Inovação, Mobilidade e Segurança da Câmara Municipal de Lisboa; Tiago Lopes Farias, CEO da Carris e ainda Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP). Estas são as principais conclusões.

Mais e melhores transportes públicos

  • O debate juntou políticos, gestores e académicos e apesar de algumas opiniões distintas, todos eles concordam que o futuro da mobilidade nas cidades tem de estar baseado nos transportes públicos. Ou como todos mencionaram, é “a espinha dorsal da mobilidade”.
  • Para isso é preciso melhorar a oferta não só com mais carreiras e mais frequência, mas também com mais qualidade e conforto, e autocarros movidos a combustíveis mais amigos do ambiente. Segundo Tiago Frias, a Carris tem estado a trabalhar nisso e, por exemplo, no que respeita ao combustível, todos os anos tem vindo a aumentar a sua oferta de autocarros a gás natural e até elétricos.
  • Mas é também preciso “simplificar os sistemas de bilhética” e até trabalhar para ter passes grátis. “Acredito que vamos caminhar para a gratuidade dos passes para alguns sectores da população”, diz Carlos Humberto de Carvalho que se assume como “defensor dos passes gratuitos para todos os alunos do ensino obrigatório”. Para o responsável da AML, esta situação “não resolve todos os problemas”, mas é um incentivo à utilização. De facto, segundo Miguel Feliciano Gaspar, desde que os passes baixaram de preço, “a procura dos transportes públicos aumentou 30% em menos de um ano”.
  • Tiago Farias recorda, contudo, que é necessário ter em conta “as alterações comportamentais” que surgiram com a pandemia e ainda o aumento o trabalho remoto.

Uma rede com todos os tipos de transportes

  • O futuro da mobilidade não se faz apenas com uma espinha dorsal. É preciso dar-lhe corpo. “Tem de existir uma integração dos vários modos de transporte”, diz Bruno Borges. Ou seja, aos autocarros, metropolitanos e comboios é preciso juntar as bicicletas, as trotinetes, as motos partilhadas, os TVDE e, num futuro que pode até nem ser tão distante quanto isso, os carros autónomos. Aliás, já há muita tecnologia a ser desenvolvida para tornar esta integração mais inteligente e digital e o 5G pode ajudar a isso, diz Luís de Picado Santos.
  • Segundo Bruno Borges, é precisamente a tecnologia que pode ajudar na transição para uma melhor mobilidade. “Os percursos chamados de last mile, ou últimos percursos, podem ser feitos de transporte suave [bicicletas ou trotinetes], por exemplo”, diz.
  • Mas a rede de transportes do futuro tem também de juntar os carros privados. Porque mesmo que o carro seja “um meio de transporte altamente ineficaz”, como considera Bruno Borges, e que “ocupem espaço” na cidade, como refere Miguel Feliciano Gaspar, eles não vão desaparecer. Aliás, o vereador na CML garante que “não defende uma cidade sem carros”, apenas com menos carros e que esses sejam mais eficientes.
  • Luís de Picado Santos diz mesmo que “não há necessidade de ser dono de um carro” porque é possível alugá-lo consoante as necessidades e porque a maior do tempo os carros privados estão parados. “3/4 dos veículos privados não tem, praticamente, actividade além dos 30 minutos por dia. Nas restantes 23,5 horas estão parados”, nota.
  • Mas, Carlos Barbosa entende que o automóvel “não pode ser o patinho feio” e acredita que os carros privados não vão desaparecer do novo mapa da mobilidade nas cidades, mas defende que sejam mais sustentáveis. por isso é que pede que seja novamente, “criado um incentivo ao abate” dos carros mais poluentes, para assim aumentar a circulação dos mais eficientes.

A polémica dos carros e das bicicletas

  • Para Carlos Barbosa, quando se aposta nos modos suaves, e se investem em infraestruturas para isso, é preciso ter em conta o uso que esses meios de transporte vão ter. “Não se deve criar espaços que depois não se vão usar. No inverno, as ciclovias são pouco ou nada utilizadas”, diz. Além disso, acrescenta, como tiram espaço à estrada provocam mais engarrafamentos e, consequentemente, não estão a ajudar o ambiente.
  • Mas Miguel Feliciano Gaspar discorda. “Batemos o recorde absoluto de bicicletas a andar na cidade de Lisboa em outubro. Na Avenida da República já há filas para usar as bicicletas”. De facto, remata Bruno Borges, “o cidadão usa aquilo que lhe oferecido. Neste caso, a oferta é um forte indutor de procura e isso vê-se nas bicicletas partilhadas. A população vai aderir conforme a oferta que vai ter”.