Geração E

A Iniciativa Liberal está destinada ao fracasso

O PSD, tal como outros partidos de centro-direita europeus, contém várias veias ideológicas, uma delas muito próxima da Iniciativa Liberal. Mas onde é que verdadeiramente se enquadra a IL no espetro político? Se considerarmos os supostos homólogos da IL na Europa, o Renassaince de Macron, o FDP alemão, o D66 dos Países Baixos, entre outros, tiramos uma de duas conclusões: ou são partidos assumidamente de centro ou são partidos que, apesar de tenderem para a direita, historicamente nunca tiveram medo de colaborar com o centro-esquerda. Por cá, se analisarmos tanto as propostas, princípios e, acima de tudo, discurso da IL e de Rui Rocha notamos que o partido trabalha a partir de uma plataforma antissocialista. E que em termos de propostas não vai além da ala direita do PSD.

Esta constatação traz consigo uma nova pergunta. Para que serve a Iniciativa Liberal? Podemos sequer compará-la com outros partidos liberais europeus, a que Rui Rocha tanto apela? A resposta é complicada, porque parte do interesse da IL é o seu discurso, imagem e o apelo à política «anti-establishment». É também importante assinalar o que carateriza o eleitorado da IL, constituído principalmente por jovens, com pelo menos o ensino secundário e universitários. Há uma vontade natural dos jovens, que quando comparam Portugal e o resto da Europa, culpam facilmente os tradicionais partidos do poder, em votar num partido novo e inovador, que parece responder pessoalmente aos interesses da classe média que tem votado tradicionalmente à direita do centro.

A IL acaba por ser o PSD em que os pais votam, mas com um aspeto mais fresco e apelativo, um discurso mais cortante. Mas se passarmos um olhar atento pelo que a IL propõe, vemos pouco que a distinga do PSD, para além de representar uma fatia mais estreita do centro-direita. Este tipo de propostas, no entanto, acaba por estar sempre presente nos programas do PSD.

Apesar de Rui Rocha gostar particularmente de fazer referência aos governos liberais da Europa, pouco partilha com os partidos que os constituem. A IL acaba por ser uma versão mais mediática, menos restrita pelo legado da história e, claro, menos «catch-all» do que o PSD. Quando a Iniciativa Liberal perder o vigor da juventude e, principalmente, quando existir sob um potencial governo de centro-direita, vai ter um obstáculo incontornável: distinguir-se efetivamente do PSD.