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Autárquicas 2021

Dívida e obra: o fator Santana na Figueira da Foz

Figueira da Foz. A dívida e a obra do “ex” regressado tornou-se o centro da campanha. Mas o povo parece valorizar mais a obra do que a dívida

Ele testa a popularidade enquanto espera na fila por um cone de gelado com pêssego e morango, na geladaria diante da torre do relógio. Há muito quem olhe — ainda não tem imagens suas nos cartazes —, mas só lhe fala um homem. “De volta à terra natal?” Trocam toques de punho: “Natal e Páscoa!”, ri-se. Uma mulher passa depois pela mesa: “Olá, está a conhecer-me?” Tira a máscara. “Claro, talvez... já passou muito tempo.” Faz vento, mas o entardecer naquela praia imensa é um postal. Aos 65 anos, Pedro Santana Lopes não é o quarentão de 1997 que se candidatou ali no auge da sua fase de jet-set, mas ocupa o centro das atenções: o principal tema das autárquicas na Figueira da Foz é mais “Santana, dívida e obra” do que a própria Figueira da Foz. Quando se despede, na geladaria, vai ver uma casa para arrendar.

Na outra ponta da praia, o socialista Carlos Monteiro, presidente da Câmara, pede ovas, polvo e uns “finos”. Da esplanada admira-se o areal interminável (um dos temas de campanha é como compensar a passagem das areias da zona norte, onde se acumulam, para a sul, onde escasseiam). Ao longe vê-se uma roda gigante, cercada por carrosséis, e o restaurante de Celeste Russa, peixeira, comadre de Santana e sua maior tiffosi à face da terra. Todos os dias vão passando sambistas seminuas com os batuques a desfilar como se fosse Carnaval. A Figueira parece uma festa, apesar de se falar em “marasmo”, mesmo sem o fogo de artifício dos tempos santanistas. Carlos Monteiro preside à Câmara desde 2019, quando João Ataíde foi para o Governo como secretário de Estado do Ambiente (morreria subitamente em 2020). Vereador há 12 anos, este professor de Biologia lidera a lista socialista pela primeira vez e em circunstâncias difíceis. No PS, as expectativas mais otimistas são de ganhar por poucos, com um empate no número de vereadores, e o PSD a fazer de fiel da balança (PS com quatro vereadores, Santana com outros quatro e o PSD com um). É o melhor cenário que várias fontes socialistas têm na mesa.