Há muitos anos, Felismino Grilo não sabe precisar quantos, certamente mais de 30, uma visita de Mário Soares à Torre de Coelheiros gerou “uma escaramuça” entre as cooperativas da aldeia. Era o reflexo de um tempo em que, mesmo numa pequena freguesia do concelho de Évora, socialistas e comunistas tinham um mundo a separá-los. “Isso hoje era impensável”, acredita. “Se viesse aqui o António Costa, não se dava por nada. As pessoas hoje estão mais informadas.”
Pouco passa das 10 da manhã e já o sol castigador do Alentejo obriga Grilo a procurar os toldos d’O Castelo, um dos quatro cafés da aldeia, de que é proprietário desde 1991. No Censos desse ano, a Torre aparecia com 957 habitantes. Em 2021 são 539, outro reflexo de um país em constante litoralização. Não espanta que haja nos moradores uma certa nostalgia, reforçada pela pandemia, que interrompeu as festas onde emigrantes e famílias vinham matar saudades. Logo à entrada da aldeia, uma estátua homenageia essa diáspora, que se fixou sobretudo na Suíça, e cujos descendentes vão perdendo ligação à terra.