"Em 2007 já duvidada que o balanço do BPP espelhasse a situação do banco", afirmou hoje Stefano Saviotti, um dos maiores acionistas da Privado Holding, sociedade que detinha o BPP, e o segundo maior acionista do veículo Privado Financeiras, com um investimento de 11 milhões de euros.
Savioti foi ouvido como testemunha no processo onde João Rendeiro, fundador do BPP, e os ex-administradores Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital são acusados de burla qualificada.
Em causa está um aumento de capital da Privado Financeiras em 2008 em que terão enganado os investidores ao ocultarem a situação deficitária do veículo. Saviotti, apesar de ser um dos maiores acionistas, acabou por não ir ao aumento de capital da Privado Financeiras (PF), por ter percebido que o veículo estava falido, ou seja, os 100 milhões de euros de capital social iniciais davam para cobrir apenas cerca de 1/3 dos investimentos no BCP.
O investidor sublinhou em tribunal o facto de não ter informação suficiente sobre a situação financeira. Só a conseguiu depois de "muito insistir". "Exigi ter mais informação sobre o aumento de capital porque tinha noção de que o veículo PF estava alavancado", avançou. Acabaram por fornecê-la, mas o investidor admite que foi assim porque ele era um acionista importante".
Saviotti afirmou ainda que a informação que tinha era escassa. E exemplifica: "De dezembro de 2007 a abril de 2008 os extratos do investimento (na PF) estavam a zero, com a indicação de que não havia NAV (Net Asset Value - indicador que mede a diferença entre o passivo e o ativo e garante que este cobre o passivo) porque estava em curso um aumento de capital", sublinhou.
Percebeu depois, admite, que em dezembro já havia um prejuízo de 30 milhões de euros. Era fácil fazer as contas, explica, tinham sido compradas 90 milhões de ações ao preço médio de três euros cada, se o capital da PF era 100 milhões, o investimento seria de 270 milhões de euros, logo o financiamento tinha de vir de algum lado. E naquela altura as ações já estavam muito abaixo dos três euros.
Em tribunal confessou ainda tem sugerido a Paulo Guichard em meados de 2007 que a PF vendesse a posição no BCP porque o veículo estava a ganhar dinheiro, mas este remeteu a questão para João Rendeiro, pois era ele que geria a Privado Financeiras. "João Rendeiro tinha a ideia que o BPP era dele, comportava-se como dono do banco, mas havia mais acionistas", afirmou.
A acusação do Ministério Público entende que, durante o aumento de capital da Privado Financeiras, João Rendeiro não transmitiu aos clientes o montante do empréstimo que fizera junto do JP Morgan e a situação de insolvência deste veículo junto do Banco.
Prémios não autorizados
Saviotti garante que, enquanto presidente da comissão de vencimentos da Privado Holding, não aprovou as remunerações (prémios) de 2007 pagas antecipadamente a João Rendeiro, Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital, e usadas para ir ao aumento de capital da Privado Financeiras. "A comissão de vencimentos não autorizou a antecipação da entrega da remuneração", disse.
A acusação do MP entende que, durante o aumento de capital da Privado Financeiras, o BPP não transmitiu aos clientes o montante do empréstimo que fizera junto do JP Morgan e a situação de insolvência deste veículo junto do Banco.
Foram ouvidos hoje como testemunha além de Stefano Saviotti, Rui Domingues, ex-administrador do BPP Cayman, e director de operações do BPP, e o Patinha Antão, como relator de um parecer que justificava o aumento de capital da Privado Financeiras.
Francisco Pinto Balsemão, dono do grupo Impresa, e um dos principais acionistas do grupo BPP, foi também arrolado como testemunha, mas irá fazê-lo por escrito. A sua audição estava agendada para hoje.
Também Diogo Vaz Guedes estava para ser ouvido hoje mas não foi possível notificá-lo na morada indicada.