Philip Lane. o economista-chefe do Banco Central Europeu (BCE), avisou que serão precisas mais informações “sobre os acordos salariais para 2024” antes de haver “um elevado grau de confiança de que a inflação está a regressar aos 2%”, à meta da política monetária.
Em entrevista ao jornal económico neerlandês “Het Financieele Dagblad”, o economista irlandês, membro da comissão executiva do BCE, recordou que tem ”sublinhado que é preciso observar o mercado laboral por um bom período de tempo" e avisou que “para permitir que a inflação regresse a 2%, precisamos de ver o crescimento salarial abrandar em 2024”.
Isso significa que o BCE terá de “esperar até à primavera do próximo ano até que muitos países divulguem essas informações”. Obter esse nível de confiança levará, por isso, “algum tempo”. E depende dos sindicatos: “Os sindicatos sabem que a capacidade das empresas de pagarem salários mais elevados depende do ambiente económico”, adianta Lane, para acrescentar: “E com a atual política monetária restritiva, esperamos que a economia [da zona euro] fique bastante estagnada durante o resto deste ano e que cresça modestamente no próximo ano”.
Nas previsões do BCE, os salários deverão aumentar em 2023 5,5% em média na zona euro, 4,5% no próximo ano e 3,5% no ano seguinte. Tendo em conta as projeções avançadas pelo BCE em setembro para a inflação média anual, os salários terão uma ligeira perda real em 2023 (inflação de 5,6%) e ganhos reais em 2024 (inflação de 3,2%) e 2025 (inflação de 2,1%). Note-se que há ganhos reais quando o aumento dos salários é superior à subida dos preços.
Recorde-se que, quanto ao crescimento económico, as previsões apontaram para 0,7% este ano e 1% em 2024.
O BCE, no seu cenário-base avançado na reunião de setembro, estimou que a inflação deverá regressar a 2% até 2025, recorda Lane. Mas “só quando estivermos suficientemente confiantes em que vamos atingir essa meta poderemos normalizar a política [monetária]. Contudo, isso está bastante distante de onde estamos agora”. Por ‘normalizar’ entende-se iniciar um ciclo de redução dos juros.
Estaremos em guarda por um longo período
Apesar de ser tido como uma ‘pomba’ dentro do BCE (ou seja, um dos defensores de políticas monetárias mais brandas, em contraste com os "falcões", entusiastas de intervenções mais duras), o economista-chefe é muito claro: “Manteremos as taxas de juro elevadas pelo tempo que for necessário. E, se tivermos choques inflacionistas suficientemente grandes e persistentes, teremos de estar abertos a fazer mais [a subir mais as taxas de juro]”.
A concluir, Lane sublinha que “o mundo está cheio de incertezas” e que “ainda assistimos a aumentos salariais relativamente elevados e ainda há algumas partes da economia onde ocorrem aumentos de preços”. “Estaremos em guarda por um longo período”, finaliza.