Sistema financeiro

BBVA tem melhores lucros de sempre, metade segue para os acionistas (e resultados podem subir mais em 2024)

Grupo espanhol BBVA apresenta resultado líquido acima de 8 mil milhões de euros, um novo recorde, que tinha sido já batido em 2022. Em Portugal, onde o grupo tem mais de 400 funcionários, a presença é tímida, e a operação nem sequer é referida na apresentação de resultados

Tiago Miranda

2022: o grupo espanhol BBVA regista um lucro de 6,6 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre.

2023: o grupo espanhol BBVA regista um lucro de 8 mil milhões de euros, alcançando um novo recorde.

Este mais recente número, de 8 mil milhões de euros, foi divulgado pelo banco esta terça-feira, 30 de janeiro, e foi a razão para que o grupo espanhol, com operações que vão do México à Turquia, passando por Portugal, tenha disparado na bolsa de Madrid. O lucro superou aquilo que era esperado pelos analistas e os investidores animaram-se: as ações ganharam mais de 6% da cotação face ao fecho de segunda-feira.

O BBVA é um dos rostos do que ocorreu à banca europeia no ano em que se consolidaram os efeitos da subida abrupta de juros determinada pelo Banco Central Europeu (BCE). Na apresentação, é explicado que o impulso foi dado “pelo comportamento das receitas recorrentes do negócio bancário, especialmente pela margem financeira”, ou seja, pela diferença entre os juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos. O negócio em Espanha marcou o maior disparo, mas o México é onde regista os maiores lucros (e também por lá os juros chegaram a um recorde histórico).

O avanço homólogo dos lucros foi de 22%, e tal resultado corresponde a uma rendibilidade sobre o capital de 16,2%, acima dos 14,4% do ano anterior, e quando o custo do capital investido estimado é inferior, na ordem dos 13%, segundo a última estimativa dada por responsáveis do BCE.

São resultados que, indica o documento oficial, incluem o registo do montante pago ao Estado devido à nova e muito contestada taxa extraordinária imputada aos bancos em Espanha, no valor de 215 milhões de euros. Algo que o presidente criticou na conferência de imprensa que ocorreu esta terça-feira, dizendo que pode dificultar o crédito a conceder à economia – o que também é defendido pelos banqueiros portugueses, a braços com taxas extraordinárias há mais de uma década.

O nível de imparidades, para proteger créditos em risco, foi aumentando ao longo do ano, bem como o crédito malparado (3,4% da carteira, no último trimestre).

2024 poderá ser melhor

Na perspetiva para 2024, e apesar do abrandamento dos juros (que vai limitar o crescimento da margem financeira), o banco espera que “o lucro líquido continue a crescer”, com a rendibilidade do capital investido também a aumentar, segundo o documento apresentado aos investidores.

Aliás, o presidente, na conferência de imprensa, admitiu-o: “acreditamos que vai ser um ano melhor que 2023”, segundo cita o El Confidencial.

Foto: Getty Images

Distribuição de mais de 4 mil milhões

O espanhol BBVA, com forte presença na América do Sul (México, Peru, Colômbia), é também o rosto de um aumento da remuneração a pagar aos acionistas, não só através da distribuição de dividendo (parte do lucro que é partilhada pelos proprietários), como pela recompra de ações (o que beneficia quem tem ações, exercício que o banco tem feito nos últimos anos). É a forma, explica o banco, de devolver o excesso de capital.

“Com base nos resultados de 2023, o BBVA distribuirá 55 cêntimos de euro por ação como dividendo em dinheiro, mais 28% do que em 2022, e realizará um novo plano de recompra de ações de 781 milhões de euros. No total, destinará mais de 4 mil milhões de euros à remuneração dos seus acionistas”, indica o comunicado do banco. Em 2022, a distribuição tinha sido de mais de 3 mil milhões – sendo que o presidente do banco, Carlos Torres Vila, evidencia que são “quase 800 mil acionistas”, “muitos dos quais pequenos aforradores”, de forma a arrasar a ideia de que o banco está a entregar o dinheiro a grandes capitalistas.

A distribuição ocorre com o principal rácio de solidez em 12,67%, acima da meta (11,5% a 12%), e do mínimo exigido pelo BCE, de 8,78%.

Portugal sem referências

O BBVA está presente em Portugal, mas já não como um banco de retalho, como aconteceu no passado. É apenas um banco para clientes mais abastados e que contam com um maior acompanhamento do gestor. Em 2022, havia mais de 400 trabalhadores na unidade desta sucursal (era, até 2018, um banco autónomo, mas depois passou a ter a autonomia dependente de Madrid, ainda que Luís Castro Almeida continue a ser o rosto do banco em Portugal). Ainda assim, era até a maior empregadora entre as sucursais do BBVA, que incluem operações nos Estados Unidos da América, Itália ou Reino Unido.

Nos documentos de apresentação de resultados divulgados, não há referências ao desempenho do BBVA em Portugal. Aliás, há um mapa dentro da apresentação de resultados do grupo em que os mercados onde o grupo tem bancos surgem pintados, mas Portugal não está aí incluído. Ou seja, só haverá mais especificidades sobre a operação portuguesa quando for publicado o relatório e contas anual, onde terá de haver mais informação do que apenas com as apresentações de resultados.