Sistema financeiro

Santander em Portugal lucrou 622 milhões de euros até setembro, o melhor resultado de sempre

Juros continuam a beneficiar o banco Santander Totta. Aumento das receitas consegue absorver todos os custos do banco. Dinheiro para cobrir perdas em créditos aumenta

NUNO FOX

O Santander Portugal obteve um lucro de 622 milhões de euros nos nove meses até setembro, um crescimento de 62% em relação ao mesmo período de 2022, quando o resultado líquido se fixou em 385 milhões de euros. Nunca houve um ano inteiro com tão bom registo, muito menos apenas os primeiros nove meses.

O Banco Central Europeu (BCE) continua a contribuir para recordes na banca comercial e este é um crescimento bem acima da evolução positiva do lucro do grupo Santander, que subiu 11% no mesmo período.

Segundo a apresentação de resultados enviada às redações esta sexta-feira, 27 de outubro, o Santander em Portugal voltou a beneficiar do enquadramento das taxas de juro na zona euro (que subiram de zero para 4,5% num ano), que encareceu os créditos concedidos e não conduziu logo a um ajuste automático nos juros dos depósitos.

Entre janeiro e setembro, a margem com juros do banco comandado por Pedro Castro e Almeida superou os mil milhões de euros, uma marca que não era atingida nem no acumulado dos 12 meses dos anos anteriores. Por exemplo, a margem de todo o ano de 2022 foi de 782,9 milhões.

O banco explica, no comunicado de resultados, que o ganho até podia ter crescido mais: “a continuação do contexto concorrencial bastante competitivo e num quadro de elevada liquidez do sistema bancário” acabou por pressionar “em baixa os spreads de crédito”.

Aumento de proveitos absorve todos os custos

No campo das receitas, as comissões deslizaram 3,6%. Mas ao todo, o conjunto de proveitos, conhecido como produto bancário, ascendeu a 1407,6 milhões de euros no fim de setembro, quando no ano passado estava nos 933,6 milhões na mesma altura.

Já do lado dos custos, houve um agravamento da fatura do Santander Portugal, totalizando 387,4 milhões de euros, mais 6% que no ano passado, com aumentos não só nas despesas de pessoal como nas despesas administrativas gerais. A unidade nacional, detida pelo grupo com capitais espanhóis, tinha em setembro um quadro de 4662 trabalhadores (menos 12 que um ano antes), e 332 agências (menos 8).

Quer isto dizer que só o aumento de proveitos de um ano para o outro conseguiu absorver todos os custos operacionais registados entre janeiro e setembro.

Mais imparidades de crédito

O risco aumentou e o Santander aumentou o dinheiro que reconhece como perdido antecipadamente em créditos. Entre janeiro e setembro de 2022, esta rubrica até tinha gerado um impacto positivo de 10 milhões de euros (com reversões de imparidades anteriormente constituídas), e agora o contributo é negativo, custando 61,3 milhões de euros. As outras provisões também duplicaram para 45 milhões.

Um sinal de que o aumento de juros tem potenciais impactos nas famílias e empresas com créditos: “O complexo contexto económico, de inflação persistente, de taxas de juro estruturalmente mais elevadas e de incerteza geopolítica” justificou a política mais conservadora de imparidades.

O rácio de ativos não produtivos do banco fixou-se em 1,6%. Um ano antes estava em 2%.

Ana Botín, presidente executiva do Banco Santander em Espanha, acionista do banco em Portugal
Eloy Alonso

Crédito só sobe nas grandes empresas

“O crédito a clientes bruto ascendeu a 44,9 mil milhões de euros, um crescimento de 3,4% face ao valor do mesmo período de 2022”, segundo o comunicado.

O Banco Santander Totta só marcou evolução positiva no crédito a empresas (mais 14%), o que se explica por “operações de refinanciamento de empresas de maior dimensão”.

De resto, os particulares seguem a tendência esperada com a subida de juros: uma quebra de 4,2% nas famílias, e, em particular, uma descida de 4% na habitação.

“Os recursos de clientes ascenderam a 43,2 mil milhões de euros, registando uma redução de 7,5% face ao período homólogo, largamente explicada pela evolução dos depósitos, que se reduziram em 9,7%”, explica o documento.

O Santander em Portugal volta a apresentar rácios de capital bem acima do exigido – ainda que mais baixos do que no ano passado, devido à decisão de pagar dividendos (o rácio CET1, o mais exigente, passou de 17,3% para 16,3%, o mínimo definido é 8,344%).

Este é o primeiro dos bancos portugueses a apresentar contas, sendo que na próxima semana o BPI e o BCP divulgam os resultados dos primeiros nove meses. A CGD fá-lo-á a 10 de novembro. Os juros definidos pelo BCE - e o tardio aumento de juros de depósitos - têm vindo a beneficiar as contas de todos eles.