Sistema financeiro

Lucros do BCP disparam 50% para 207,5 milhões de euros

Polónia continua a pressionar resultados, mas, mesmo assim, o BCP conseguiu melhorar os seus lucros. “Conseguimos superar essas adversidades, apresentamos um banco preparado para o futuro”, diz o CEO

NUNO BOTELHO

Os lucros do Banco Comercial Português (BCP) dispararam 50% no ano passado, totalizando 207,5 milhões de euros, face aos 138,1 milhões que apresentados em 2021. A atividade em Portugal deu uma grande ajuda, tendo os resultados líquidos mais que duplicado.

Os números, divulgados em conferência de imprensa esta segunda-feira, 27 de fevereiro, não foram mais elevados porque a Polónia, onde o BCP tem o Bank Millennium, continua a pressionar as contas.

Em Portugal, o banco presidido por Miguel Maya conseguiu mais do que duplicar o contributo, totalizando 348,6 milhões de euros – em 2021, tinha sido de 173 milhões de euros. Já na atividade internacional, as perdas tornaram-se mais intensas: de 34,7 milhões para 146,1 milhões de euros.

Para este resultado internacional conta, portanto, o Bank Millennium, onde o BCP detém 50,1%. Foram reforçadas as provisões para os créditos à habitação em francos suíços dados por esta filial, bem como para as moratórias de crédito na Polónia, o que pesa nas contas do banco - na Polónia, há um grande problema que afeta o sector por conta destes créditos, o que tem desencadeado processos de clientes contra os bancos.

Mais lucros, mas…

Em termos de rentabilidade, o retorno sobre o capital próprio do BCP (ROE, na sigla inglesa, que representa a atratividade do investimento no capital do banco) foi de 4%, o que supera os 2,4% registados em 2021, mas ainda muito abaixo do que é o custo do capital, que se calcula em cerca de 10%. “É muito abaixo do custo de capital do banco e do que nós perspetivamos no plano estratégico”, disse o presidente executivo na conferência de imprensa, que teve lugar no Tagus Park, em Oeiras.

Ainda assim, Miguel Maya, que por serem resultados anuais esteve ao lado de Nuno Amado, presidente do conselho de administração, considera que os resultados são bons: “Conseguimos superar as adversidades, apresentamos um banco preparado para o futuro”.

Numa altura que há partidos à esquerda que falam em “lucros excessivos” em sectores como a banca, o CEO do BCP quis frisar que é preciso mais lucros: “posto na devida perspetiva, [o banco está] a demonstrar uma rendibilidade no sentido positivo, mas abaixo da rendibilidade que se exige para um banco como o BCP”.

Mais margem, mais comissões

A margem financeira do banco (que configura a diferença entre juros cobrados em créditos e juros pagos em depósitos) cresceu 35% e está em 2,15 milhões de euros, “comportamento bastante favorável, a beneficiar da maior transacionalidade e sobretudo da melhoria das taxas de juro da zona euro e na Polónia”.

De recordar que os bancos estão já a refletir há meses o impacto da subida das Euribor nas prestações dos créditos à habitação, mas no lado dos depósitos não tem havido um comportamento idêntico.

Ainda do lado de proveitos, as comissões somaram 6% para 771,9 milhões de euros, ainda que, dado que a margem financeira tenha crescido mais, tenham perdido peso no produto bancário.

Do lado dos custos, o CEO do banco frisou que este é um resultado conseguido apesar dos custos regulatórios: as contribuições obrigatórias para o sector bancário foram de 62,2 milhões de euros, “um custo absolutamente despropositado e condiciona a capacidade do BCP ao nível da União Bancária, e continuamos a não perceber porque é que não se corrige”, classificou.

Os custos operacionais do banco deslizaram, mas devido à atividade nacional, já que aumentaram na atividade internacional, o que o CEO explica dever-se à inflação de 13% na Polónia e de 8,3% em Moçambique.

Mais crédito, menos ativos produtivos

Os recursos de clientes em Portugal (onde estão inseridos os depósitos) subiram, em 2022, 3% para os 68,3 mil milhões de euros. Deu-se também um crescimento do crédito, marginal, de 0,7%, para 40,15 milhões.

Uma das grandes heranças do BCP eram os ativos não produtivos, como crédito malparado e imóveis: em 2022, houve “reduções face a dezembro de 2021 de 535 milhões de euros em NPE, 265 milhões de euros em imóveis recebidos por recuperação e 376 milhões de euros em fundos de restruturação”, segundo o comunicado de imprensa.