Qual o retrato real do turismo em Portugal a nível de sustentabilidade? Que caminhos devem trilhar as empresas para metas que são comuns? E como devem investir, conciliando a operação corrente com objetivos de longo prazo? São questões às quais procurou responder o relatório “Sustentabilidade”, realizado pelo Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality, após um amplo debate no ‘campus’ universitário em Carcavelos que envolveu representantes do Governo, do Turismo de Portugal, de associações turísticas e da TAP.
Apesar de haver consenso para cumprir este tipo de metas, e de as empresas anunciarem sucessivas melhorias ambientais, "há um desconhecimento generalizado em Portugal sobre práticas de sustentabilidade empresarial, que é geralmente vista de forma afunilada e centrada em certificações, requisitos legais e prémios”, constata o relatório.
Do lado da procura, os números estão a disparar. “Espera-se que o mercado global de turismo sustentável cresça de 158 mil milhões de dólares (cerca de 149 mil milhões de euros) em 2021 para 299 mil milhões de dólares (cerca de 281 mil milhões de euros) em 2026, com uma taxa média de crescimento anual de 12,7%”, aponta o Nova SBE Westmont Institute, citando ainda um relatório da plataforma Booking dando conta de que 53% dos viajantes querem “viajar de forma mais sustentável no futuro, visto que a pandemia os alertou para o impacto dos seres humanos no meio ambiente”.
Começar por monitorizar consumos de luz, água ou resíduos por hóspede
As recomendações do Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality, que assume ter como foco “instrumentos viáveis e soluções práticas”, começam por destacar que “a curto prazo as empresas nacionais devem realizar um diagnóstico do seu desempenho em sustentabilidade”, processo a ser monitorizado periodicamente, havendo de momento múltiplas ferramentas disponíveis para este fim.
O investimento das empresas na recolha destes dados de sustentabilidade deve "começar “pelos mais comuns”, como “consumo de eletricidade e energia em quilowatts-hora por metro quadrado de espaço atendido, consumo de água em litros ou metros cúbicos por hóspede por noite” ou “produção de resíduos por hóspede por noite”, explicita o Nova SBE Westmont Institute.
O relatório também põe a banca em evidência, como um fator de peso no financiamento das empresas em investimentos em sustentabilidade através de “linhas de crédito específicas”, operações que devem ter “condições diferenciadas relativamente a produtos mais tradicionais”. Segundo destaca o relatório, “as instituições bancárias portuguesas já têm experiência nesta área”.
As empresas “de maior porte devem reportar integralmente o seu trabalho em sustentabilidade, em cumprimento do quadro legal existente no espaço europeu", e também “acordar com os fornecedores quais as métricas de sustentabilidade específicas” a seguir.
O documento destaca ainda a importância de as empresas investirem na formação dos seus executivos através de cursos em “finanças sustentáveis” ou outros associados a objetivos ambientais.
Critérios sustentáveis “obrigatórios” na classificação dos hotéis por estrelas
Portugal tem-se promovido como um “destino de turismo sustentável”, mas segundo o Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality “é imperativo que haja consistência entre discurso e prática” - dando nota de que “estudos internacionais, aparentemente, ainda não reconhecem a liderança de Portugal em turismo sustentável”, apesar de se destacarem casos como os Açores, o primeiro destino do mundo certificado como de turismo sustentável pela Earth Check.
Neste campo, a primeira das recomendações é que “o Turismo de Portugal deveria desenvolver e anunciar um programa nacional de larga escala de descarbonização do sector de turismo em Portugal”, e também desenvolver “uma calculadora de carbono específica para o sector”.
Outra prioridade está na reformulação do sistema de classificação dos hotéis por estrelas, de forma a integrar “critérios de sustentabilidade como requisitos obrigatórios”, e alvo de revisão periódica. O relatório nota que o atual quadro regulatório português que estabelece o sistema de classificação por estrelas tem “alguns requisitos associados à sustentabilidade”, mas que são considerados “opcionais”.
A recomendação final é que “o Turismo de Portugal deveria lançar um selo nacional de certificação de empreendimentos turísticos reconhecidos pelas suas práticas em sustentabilidade”, baseado em “métricas” reconhecidas e aprovado pelo Global Sustainable Tourism Council (GSTM).
Há limites ao turismo e o seu peso no PIB? As dúvidas das empresas
No debate com agentes do sector para discutir a sustentabilidade do turismo em Portugal, que precedeu o relatório do Nova SBE Westmont Institute, foram várias as questões e desafios levantados pelas empresas.
“Que condições precisam de ser atingidas para iniciarmos um debate nacional sobre overtourism (excesso de turismo) em Portugal?” - foi uma das dúvidas evidenciadas por associações e empresas do sector, que também questionaram: “poderá existir um limite para o peso que o turismo deve ter na economia portuguesa?”.
Sobre estas questões de futuro, o SBE Westmont Institute recomenda que “instituições públicas e governamentais responsáveis pelo turismo, regiões de turismo e os municípios deveriam estimular um debate rigoroso e científico” sobre a gestão sustentável do sector “e os potenciais limites à atividade turística no país”.