Um estudo divulgado na segunda-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que a subida dos juros passou a ter um impacto menor nos preços da habitação em comparação com anteriores crises. Portugal é um exemplo claro do que acontece, onde os preços das casas continuam a subir, apesar de estarem a descer em algumas zonas da Europa. Mas, segundo o FMI, tudo depende das características do mercado.
O FMI começa por lembrar que “na viragem da década de 2010” o aperto monetário feito pelos bancos deu “frutos”, diminuindo o endividamento e ajudando a economia. Mas agora, o impacto desse aperto não é tão visível, e uma grande parte das economias tem-se mostrado resiliente, assim como os seus mercados de habitação.
Segundo o FMI, a pandemia trouxe um rápido crescimento dos preços das casas, sendo que em alguns países já eram bastante elevados, fruto das taxas de juro baixas (ou até negativas, como era o caso europeu), mas agora, mesmo com a subida dos juros a nível global, “os preços dos imóveis residenciais ainda estão muito acima dos níveis pré-pandémicos”. Em algumas economias os preços já estabilizaram ou até caíram, mas noutras não, como em Portugal.
“Os preços da habitação cresceram frequentemente mais depressa do que o rendimento, reduzindo a acessibilidade e levando os potenciais compradores a arrendar. Este facto, combinado com a diminuição da construção nova, fez aumentar as rendas em muitos países”, lê-se no estudo.
De recordar que, segundo os mais recentes dados do Eurostat, os preços das casas no mercado português subiram 7,8% no último trimestre do ano passado, em relação ao mesmo período de 2022, a quinta maior subida da União Europeia. Por outro lado, na zona euro os preços das casas até já caíram 1,1%.
De acordo com o FMI a subida dos juros levou a um aperto no mercado de crédito, mas os preços das casas continuam a aumentar, não só em Portugal, mas também nos Estados Unidos, Hungria e Irlanda por exemplo. E porquê? “Entre os fatores que contribuíram para tal contam-se uma maior procura pela taxa fixa, limites LTV [rácio entre o valor financiado e o valor do imóvel] mais restritivos, menor endividamento, saída de zonas densamente povoadas”, refere o estudo.
Noutros países, como o Canadá, o Chile e o Japão, tem-se assistido ao oposto, a “um fortalecimento da transmissão da política monetária” ao setor da habitação, que está a ser “impulsionada” por uma menor procura pela taxa fixa, “um aumento do endividamento e uma oferta de habitação mais limitada”.
O FMI refere ainda que “o aumento anual dos custos do serviço da dívida hipotecária [do crédito à habitação] em relação a meados de 2022 varia significativamente na área do euro, desde Portugal, com 1,2% do PIB [o valor mais alto], até Malta, com praticamente zero”.