A Martifer quer entrar no PSI 20, o índice que compila as 20 empresas de maior dimensão e liquidez portuguesas. "Continuamos a acreditar que é possível", disse Jorge Martins, presidente executivo da empresa de Oliveira de Frades, citado pelo Jornal de Negócios. Para o novo líder, este é um objectivo que pode ser atingido a médio prazo, dependendo dos investidores. Como vai passar a distribuir dividendos, torna-se um título mais atractivo, podendo colmatar a sua falta de liquidez.
Para João de Deus, Sénior Sales Trader da correctora Dif Broker, o facto de 2009 ser um ano fortemente penalizador para o mercado, contribui para o afastamento da empresa do seu objectivo. Apesar de ainda nem integrar a lista de espera para entrar no índice, Jorge Martins confia que esta ascensão possa acontecer dentro de dois anos. "Gostaríamos de ter um free-float mais elevado, para contribuir para a liquidez do título" disse ao mesmo jornal. Na verdade, há um reduzido número de títulos da Martifer disponíveis para negociação. Após Junho de 2007, aquando da euforia da oferta pública, houve investidores que alienaram as acções que tinham adquirido e, desde então, as acções têm vindo a perder valor. Face ao preço da oferta pública inicial - 8 euros - as acções da Martifer acumulam uma perda de 54 por cento.
No entanto, quando a empresa anunciou o pagamento de dividendos, os títulos ganharam novo ânimo. "Tínhamos anunciado que até 2010 não distribuíamos dividendos. O que acontece é que no período 2010 a 2012 essa capacidade já existe. E por isso, foi anunciado que vamos ter uma política de dividendos que passará por um ‘pay out' mínimo de 40 por cento dos resultados obtidos nas actividades continuadas", afirmou o líder da Martifer. Este pagamento só se iniciará em 2011, sendo pago um dividendo extraordinário em 2010. Para este acto, contribui a mais-valia gerada pela venda da Repower, empresa de sistemas eólicos. Os investidores podem contar com 0,10 euros por cada acção que detenham, no próximo ano. Esta atitude faz parte da estratégia da empresa até 2012, que tem como principais objectivos reduzir o investimento, vender activos, cortar na dívida e aumentar as receitas.
A entrada de Jorge Martins como presidente executivo e a passagem do irmão, Carlos Martins, a chairman da empresa também fazem parte das alterações que a empresa de Oliveira de Frades tem vindo a efectuar. "Com a separação entre Presidente do Conselho de Administração (chairman) e Presidente da Comissão Executiva (CEO), e a alteração dos membros do Conselho de 9 para 7 membros, a Martifer SGPS alcançará a observância de regras de bom corporate governance a nível internacional", adianta João de Deus.
Em alta
"No longo prazo, a Martifer poderá tornar-se um investimento com alguma potência, visto que vai começar a pagar dividendos e realizar uma reestruturação do seu negócio nos próximos anos", diz o analista. No final de 2012, a empresa espera ter uma dívida líquida de 430 milhões de euros, dos quais 188 milhões de dívida corporativa.
Depois do Dia do Investidor, no qual foram reveladas as estratégias para os próximos anos, o Millennium Investment Banking (IB) reviu em alta a sua avaliação das acções da Martifer. O banco de investimento subiu o seu preço-alvo para 4,25 euros, mais 5 por cento, com uma recomendação "neutral". "A principal alteração à nossa avaliação verificou-se na projecção para as receitas do negócio das construções metálicas, com base no guidance apresentado pela Martifer para os próximos três anos", referiu António Seladas, responsável pelo departamento de "research" do Millennium IB. A distribuição de dividendos no próximo ano representa "um importante sinal de confiança" para o analista. Contudo, adianta que "tendo em conta o plano de investimentos para os próximos três anos e as incertezas macroeconómicas, preferíamos uma estrutura financeira menos alavancada".
A empresa liderada por Jorge Martins quer investir 320 milhões de euros até 2012. Destes, 275 milhões de euros serão aplicados nas energias renováveis, 10 milhões irão para sistemas de energia solar, 15 milhões para sistemas de energia eólica e 20 milhões para o sector das construções metálicas. A Martifer pretende ainda aumentar as suas receitas entre 12 e 15 por cento, até 2012 e seguir uma política de rotação de activos, através de uma gestão mais eficiente e vendendo activos não essenciais. De acordo com o que noticiava a RTP, a Martifer quer vender 75 milhões de activos não estratégicos até 2012. "Poderá ser vantajoso para os investidores, a empresa efectuar a venda de activos não estratégicos (aplicando esses mesmos montantes na redução da sua dívida) e centrando os seus investimentos no core business da empresa", explica João de Deus.
Ventos de mudança
O impacto da crise económica no negócio da Martifer obrigou a empresa a alterar a estratégia inicial da empresa. Reduzir a dívida é agora uma das principais prioridades da equipa de gestão
Empresa | P/L | P/VC | RCP |
Martiffer | 3,16x | 1,34x | 2,68% |
Bloomberg. P/L - Preço / Lucros de 12 meses. P/VC - Preço / Valor Contabilístico de 12 meses. RCP - Pendibilidade do Capital Próprio de 12 meses |