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Inflação, deflação ou ambos?

Depois do medo da deflação, assiste-se ao debate se não estaremos a caminho da grande Inflação

Inflação, deflação ou ambos?

Guilherme Diaz-Bérrio

No mercado, entre os economistas, existe hoje um enorme debate. O que nos espera no futuro? Inflação ou deflação? A pergunta não é inocente nem deve ser reduzida a "guerras de académicos". Num ambiente deflacionista o melhor sítio para se ter as poupanças é em obrigações, quanto mais seguras ou garantidas melhor. Retorno do capital é a palavra-chave. Num ambiente inflacionista aplica-se o oposto: deseja-se retorno, para não perder valor face à subida continuada dos preços as obrigações são um activo a evitar. No entanto, como todas as regras, esta também tem uma excepção.

Os 3 Ds: Desalavancagem, Deflação, Depressão

No rebentar de uma bolha, costumam observar-se os "3 Ds". Primeiro temos a desalavancagem dos agentes. Em português corrente, pagam-se as dívidas e vendem-se activos. Esta venda generalizada causa uma descida do preço de tudo quanto circula na economia, se a bolha tiver sido generalizada. Entra-se na fase de deflação e esta gera mais desalavancagem que gera mais deflação. Irving Fisher, economista tornado célebre por ter perdido tudo no crash de 1929 depois de prever que o mercado tinha chegado a um "patamar elevado permanente", chamou a este ciclo, "a armadilha da deflação". No fim temos o último "D", normalmente, uma depressão, ou seja, como explica Nouriel Roubini, professor na Universidade de Nova Iorque e creditado com ter conseguido prever a actual crise, "uma recessão em L, uma combinação mortal entre estagnação económica e deflação continuada de preços".

Para contrariar esta situação, a Reserva Federal dos Estados Unidos da América, o seu banco central, já injectou dois biliões de dólares no sistema bancário norte-americano. Não é uma soma pequena: corresponde a 12,5 por cento da economia cujo sistema monetário dirige. E não parece diminuir os esforços, dada a manutenção da política de taxas de juro zero e contínuas injecções de dinheiro na economia. Obviamente a pergunta surge: mais moeda em circulação causa inflação? Mas, não estamos em deflação?

Circulação é a palavra-chave

Os economistas dividem-se em dois campos. Os primeiros advogam que estamos numa crise com consequências semelhantes à da "Grande Depressão", ou seja, deflação generalizada. Paul Krugman, o Nobel da Economia de 2009, é um deles. "Estamos numa armadilha da liquidez, como tal, um aumento da massa monetária não produz inflação", comentou o Nobel na sua coluna diária de opinião, no New York Times. "Um aumento da moeda em circulação é causa imediata de inflação", comenta Richard Posner, professor de Economia na Universidade de Chicago. "No entanto o ‘em circulação' é vital!", conclui o professor.

Para leigos, uma armadilha da liquidez é quando na economia, os bancos não emprestam, por muitas notas que um Banco Central imprima. Os bancos simplesmente ficam sentados sobre essas notas, sob a forma de "reservas". Posner aponta para esse facto: "O dinheiro que a Reserva Federal injectou recentemente acabou como ‘reservas bancárias', não sendo emprestado nem investido", comenta o professor de Economia. Logo, o risco de inflação no curto prazo é, dizem, mínimo.

Mas, nem todos concordam. "Podemos esperar inflação rápida nos próximos 4 a 5 anos, semelhante ao fenómeno que não vemos desde os anos 70", comentou Arthur Laffer, antigo conselheiro económico do ex-Presidente dos EUA, Ronald Reagan, em entrevista ao Wall Street Journal. O economista aponta também para as reservas bancárias que estão armazenadas pelos bancos: "Com uma maior confiança na solidez do sistema bancário, os bancos voltarão a emprestar", comenta. Logo, a conclusão do campo dos "inflacionistas" é simples: as reservas não estão em circulação mas, quando tudo recuperar, sairemos da armadilha da liquidez que está a servir de tampão à inflação. E aí, pode e deve-se esperar inflação superior à que temos tido durante os últimos dez anos.

Investir na subida generalizada dos preços

Existem vários fundos de investimento tradicionais e fundos cotados - Exchange Traded Funds (ETF) - que investem em obrigações indexadas à inflação, mas este, pelo desempenho de curto e médio prazo merece a atenção dos investidores que queiram proteger as suas poupanças da subida generalizada dos preços

Fundo Rendibilidades Descrição
1 ano 3 anos
Lyxor ETF EuroMTS Inflation Linked 4,42% 3,58% Investe em obrigações emitidas por países da Zona Euro com rendimento indexado à taxa de inflação dos respectivos países. Tem um risco médio baixo. Desde que começou a ser comercializado, a 11 de Maio de 2005, rendeu o equivalente a uma taxa anual de 3,75 por cento
Fonte: Bloomberg. Rendibilidades anuais em euros brutas. As mais-valias obtidas em ETF são tributadas em 10 por cento. 30 Junho 2009.