Depois de um 2008 de esvaziamento das principais matérias-primas agrícolas e de fortes subidas no petróleo, 2009 foi um bom ano para quem seguiu na generalidade os preços dos produtos que engrenam a economia e que alimentam a indústria global.
O índice Commodity Research Bureau/Reuters que agrega as 22 principais commodities subiu em 2009 mais de 28 por cento, ultrapassando as perdas de 20 por cento em 2008, com o chumbo, o cobre e o açúcar a liderarem os ganhos. Pior destino tiveram milho e trigo, com descidas nos mercados de 16 e 28 por cento, respectivamente. Uma boa notícia para a alimentação do mundo, mas uma dificuldade para os investidores nos cereais que, de acordo com o Citigroup, não podem contar com um 2010 muito generoso. "Esperamos que os preços do milho desçam no curto prazo, devido à pressão sazonal das colheitas e à diminuição da procura de exportação e prevemos apenas ganhos limitados no médio e longo prazo(...)", lê-se no "Global Economic Outlook and Strategy" do banco norte-americano que acrescenta que "as previsões para o trigo são também bearish [queda] relativamente aos futuros, reflectindo as nossas expectativas de grande oferta global". Apesar de estar menos optimista que os contratos de futuros, ainda assim a casa de investimento segue na linha das suas concorrentes de research, apontando ganhos de 9 por cento para o milho e de 14 por cento para o trigo nos próximos 12 meses.
Fonte: Bloomberg. Índice Commodity Research Bureau/Reuters US Spot All Commodities. 17 de Dezembro de 2009.
Ouro e petróleo: sentimentos opostos
Mas é o ouro que está a absorver grande parte do dinheiro dos investidores em commodities. Em Setembro, a agência Bloomberg mostrava previsões que indicavam que enquanto a procura do metal pela joalharia e indústria caía, os investidores estavam cada vez mais a incorporar ouro nas suas compras. Uma valorização forte em dólares (menor em euros, mas ainda assim de 21 por cento durante 2009), que fez chegar a matéria-prima aos 1226 unidades da moeda norte-americana, aguça o apetite dos investidores, mas há quem já estabeleça metas de saída. Quando questionado sobre o que terá a sua carteira em 2010, Miguel Gomes da Silva, autor do livro "Bolsa - Investir e Ganhar Mais" indica que guarda "um pequeno espaço para o ouro, até este atingir 1250 dólares", num portefólio que deverá ter 10 por cento em commodities energéticas.
O brilhante metal, que tem sido o melhor aliado de alguns investimentos que o acompanham de perto, como os famosos ETF (exchange-traded funds), não terá um ano para subidas em 2010, de acordo com as previsões dos analistas contactados pela Bloomberg. O preço médio em dólares para o último trimestre de 2010 deverá ficar em linha com o preço actual (spot), com o sentimento do mercado, medido pela Bloomberg, a indicar que os especialistas estão maioritariamente a apostar na queda do ouro (50 por cento apostam na descida dos preços, 41 por cento na subida, com 9 por cento neutrais).
Ano diferente parece estar destinado à principal matéria-prima energética, o petróleo, que ainda dá energia a mais de metade do planeta. Depois de ter caído dos 147 dólares de 2008 para pouco mais de 40 em poucos meses, o petróleo transaccionado em nova-iorque está agora perto dos 80 dólares, com a previsão de poder atingir o preço de 82,26 dólares para o último trimestre deste ano, de acordo com os números de 36 analistas de casas de investimento globais. Um deles, o "Citi", indica nas sua estratégia para 2010 que "fez a revisão em alta das previsões de curto (até 3 meses) e médio prazo (entre 6 a 12 meses) para os preços do WTI [West Texas Intermediate- tipo de crude usado como referência para os preços do petróleo transaccionado em Nova Iorque] para 80 e 85 dólares por barril, respectivamente".
As commodities para 2010
Segundo os analistas, o carvão, o aço e algumas matérias-primas agrícolas vão liderar a subida dos preços em 2010
Commodities | Variações estimadas para o último trimestre de 2010 face à cotação |
Energia | |
Carvão | 23,47%* |
Petróleo WTI | 12,13% |
Agricultura | |
Açúcar | -33,11% |
Arroz | 50,36% |
Cacau | -6,15% |
Milho | 14,72% |
Trigo | 12,19% |
Metais | |
Aço | 7,59% |
Alumínio | -9,74% |
Cobre | -4,86% |
Ouro | 0,25% |
Platina | 0,86% |
Prata | 1,80% |
Fonte: Bloomberg. Estimativas de evolução dos preços médios para o quarto trimestre de 2010, de acordo com os analistas ouvidos pela Bloomberg. *-Estimativa para o terceiro trimestre de 2009. 19 de Dezembro de 2009. |
Jeff Rubin, o economista-chefe da CIBC World Markets que apontou no passado o "rali" do petróleo no final desta década, acredita mesmo que a fonte energética chegará aos 90 dólares no primeiro trimestre do ano e aos 100 no final de 2010.
O sentimento do mercado continua positivo, já que a maioria dos analistas indica uma subida do preço do crude para 2010 que, de acordo com as previsões dos principais organismos, deverá apresentar um crescimento mais forte da economia mundial e que poderá manter as restrições da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), dois dos principais "motores" apresentados pelo Citi.
Com muitas das economias a recuperarem vigor, 2010 pode marcar a continuação dos ganhos globais de 2009 das matérias-primas. João de Deus, senior sales trader da corretora Dif Broker, está do lado dos mais positivos. "As commodities poderão ser dos melhores activos neste ano, porque são encarados como activos de protecção para alguns dos problemas que se avizinham num futuro próximo na economia, tais como o aumento da inflação", acredita o especialista.
Nos últimos 5 anos, investir em commodities tem compensado. Os índices permitem tirar a conclusão, já que as 22 matérias-primas do Commodity Research Bureau/Reuters mostram uma subida anual de 5,61 por cento durante este período, acima dos retornos do mercado accionista global, que gerou em cinco anos qualquer coisa como 3,40 por cento de retorno anual.
2010 abrirá portas a celebrações para o carvão, se as casas de investimento acertarem, uma vez que poderá crescer 20 por cento em relação ao valor corrente, estimulado pela forte importação da fulgurante e mais populosa economia, a China, e deverá ser de festejos para o aço, que poderá subir 7,59 por cento face aos preços actuais no mercado. Outras variações importantes poderão vir dos alimentos, com o arroz a poder atingir uma subida de 50 por cento relativamente à sua cotação actual, más notícias para os países mais pobres que choca com o sentimento dos investidores.
ETF que acompanham os preços
Para quem quer seguir as matérias-primas há fundos cotados que sofrem menos com a fiscalidade e permitem acompanhar os preços, mas não se esqueça da máxima que diz que esta parte da sua carteira nunca deve representar mais de 5 por cento
ETF ligados ao petróleo | Rendibilidade em 2009 |
PowerShares DB Oil Fund Nova Iorque |
43,83% |
ETFS WTI Oil Londres |
22,33% |
ETFS Brent Oil Londres |
15,28% |
United States Oil Fund Nova Iorque |
13,98% |
Fonte: Bloomberg. Rendibilidades líquidas em euros. |
Outros ETF com boas perspectivas | Rendibilidade em 2009 |
Market Vectors Coal Nova Iorque |
124,37% |
Market Vectors Steel Nova Iorque |
96,47% |
ETFS Corn Londres |
-8,18% |
ETFS Wheat Londres |
-25,62% |
Fonte: Bloomberg. Rendibilidades líquidas em euros. |