O tempo do crédito barato já faz parte do passado. Muito mudou na economia mundial com a explosão da crise hipotecária dos EUA. Só no sector bancário europeu, já se contam prejuízos de 170 mil milhões de euros e, segundo estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), esta crise poderá implicar perdas superiores a 200 mil milhões de euros.
No mercado bolsista, esta realidade já surtiu um forte impacte na carteira dos investidores: as acções dos principais bancos mundiais fecharam o ano com uma desvalorização média de 18 por cento. Mas, para 2008, é esperado que a onda do subprime assalte o elo mais fraco dos agentes económicos: as famílias.
Segundo as perspectivas de vários economistas, o novo ano deverá ser pautado por menos euros nos bolsos dos consumidores como resposta ao encarecimento dos empréstimos à habitação. Mas não se assuste nem desista já de comprar a casa dos seus sonhos em 2008.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Depois de quase 2 anos a degladiarem-se pela conquista do crédito à habitação dos portugueses pela oferta do spread mais baixo do mercado, a banca nacional está hoje a mudar de estratégia. Os cartazes publicitários com as ofertas de spreads de 0,25 por cento e as campanhas promocionais de spread nulo durante os primeiros meses do contrato estão agora fechados numa gaveta.
A subida repentina das taxas de juro não só aumentou a prestação da casa como também o risco em que os bancos incorrem ao emprestarem dinheiro às famílias. Por essa razão, os bancos regressam agora aos spreads de 1 por cento. Porém, a verdade é que as propostas das instituições financeiras são ainda bastante distintas umas das outras. De tal forma, que o diferencial entre a oferta mais cara e mais barata disponível do mercado, para um empréstimo à habitação de 100 mil euros a 30 anos se traduz num valor de 44 euros no final do mês.
Onde o crédito ainda é barato
O Millennium bcp foi o primeiro a abandonar a guerra dos spreads baixos. Se até há pouco tempo o maior banco privado português oferecia com naturalidade um spread de 0,50 por cento para um crédito à habitação de 100 mil euros, "hoje é raro o empréstimo para a compra de casa que é feito com um spread inferior a 1 por cento", revela um funcionário do Millennium bcp.
Com o mesmo nível de prudência só mesmo o Deutsche Bank e o Banco Português de Negócios, que para o mesmo montante de financiamento, oferecem um spread de 0,80 pontos percentuais, quando a média das simulações recolhidas se situa nos 0,57 por cento.
Desde Outubro que a regra nos novos contratos à habitação tem sido pautada pelo encarecimento da prestação da casa pelo lado das comissões. Porém, ainda continuam a existir boas e raras excepções. É o caso do Banco Popular e do Banco Espírito Santo que são os únicos, entre os 14 maiores bancos a operarem em Portugal, que ainda concedem spreads abaixo dos 0,35 pontos percentuais para um empréstimo à habitação de 100 mil euros.
No caso do banco português, o spread de 0,33 por cento é rapidamente garantido através da subscrição do pacote-base (também solicitado em todas as outras instituições financeiras): uma conta-ordenado, 3 domiciliações de pagamentos periódicos, seguros de vida e seguro multirriscos contratados pela seguradora que trabalha com o banco, um cartão de débito e um cartão de crédito. No caso do banco espanhol, o líder dos spreads mínimos no crédito à habitação com uma taxa de 0,30 por cento, é apenas necessário que, além do pacote-base, o cliente subscreva mais um produto financeiro (fundo de investimento ou depósito a prazo), mas sem qualquer restrição quanto ao montante mínimo de subscrição.
A oferta é vasta e bastante distinta, por isso se hoje está à procura da sua casa de sonhos, não se esqueça de amanhã também escolher com a mesma minúcia o banco onde irá contratar o crédito à habitação.
Guerra de spreads
Dos 14 maiores bancos a actuarem em Portugal, só o BES e o Banco Popular continuam a oferecer spreads inferiores a 0,35 por cento
Bancos | Spread |
Banco Popular | 0,30% |
BES | 0,33% |
Santander Totta | 0,45% |
Barclays | 0,49% |
Crédito Agrícola | 0,49% |
Banif | 0,50% |
CGD | 0,50% |
Banco BPI | 0,50% |
Montepio | 0,50% |
Finibanco | 0,70% |
BPN | 0,80% |
Deutsche Bank | 0,80% |
Millennium bcp | 1,00% |
Fonte: Simulações recolhidas no final de Desembro de 2007 junto das agências bancárias para um empréstimo a 30 anos de 100 mil euros para a aquisição de uma habitação avaliada em 125 mil euros por um agregado familiar composto por 2 pessoas com um rendimento bruto anual de 40 mil euros. Todos os valores apresentados pressupõem a subscrição de um pacote-base: conta-ordenado, 3 domicialiações de pagamentos periódicos, seguros de vida e multirriscos para ambos, um cartão de débito e um cartão de crédito. |